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Por que a companhia aérea mais odiada consegue ser tão lucrativa

Ryanair enfrenta críticas severas enquanto lucra com tarifas baixas e história de risco financeiro

Foto: Cameron Snape | Wikimedia Commons
Ryanair: odiada, mas procurada
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A Ryanair é amplamente criticada por práticas como taxas ocultas, atendimento precário e uso de aeroportos afastados. Apesar disso, mantém lucros elevados com tarifas médias baixas (cerca de € 51). A empresa quase faliu, mas se recuperou adotando um modelo ultra?baixo custo. Em comparação com a easyJet, oferece preços menores, mas experiência inferior.

A companhia aérea de baixo custo Ryanair, fundada em 1985 e com sede na Irlanda, enfrenta forte rejeição pública por conta de taxas ocultas, aeroportos secundários e atendimento considerado precário.

Em seu ano fiscal encerrado em março de 2025, registrou lucro após impostos de € 1,61 bilhão (quase R$ 10 bilhões), apesar de tarifas médias em queda.

A empresa já esteve em situação crítica no passado e só conseguiu reverter graças a uma mudança radical de modelo operacional.

A Ryanair é frequentemente apontada como uma das companhias aéreas mais odiadas da Europa. Em 2013, leitores da revista britânica Which elegeram-na como “a menos popular” entre as companhias europeias de curto alcance. 

Vários fatores alimentam esse repúdio:

-- Taxas ocultas e serviços à parte: A tarifa básica é extremamente baixa, mas muitos “extras” (bagagem despachada, seleção de assento, embarque prioritário) são cobrados à parte -- o que gera insatisfação.

-- Uso de aeroportos secundários ou afastados: A companhia opera em muitos aeroportos com menor infraestrutura ou mais distantes das principais cidades, o que provoca desconforto para os passageiros.

-- Atendimento considerado frio ou pouco acolhedor: Há relatos de falta de empatia, longas filas, comunicação difícil, e políticas rígidas de check in.

-- Marketing agressivo e controvérsias públicas: Desde campanhas polêmicas a declarações polêmicas do CEO Michael O’Leary, o que reforça a imagem de “força bruta” nas estratégias de baixo custo.

-- Experiências negativas divulgadas: Há fóruns e sites onde passageiros relatam episódios adversos com a Ryanair -- por exemplo, atrasos, cancelamentos, dificuldades para reembolsos ou realocações.

Em resumo: a Ryanair cumpre sua promessa de “tarifa muito baixa”, mas cobra caro em termos de experiência, o que gera um ressentimento significativo entre usuários.

Tarifas médias

No primeiro trimestre do ano fiscal 2026 (abril-junho de 2025) a tarifa média por passageiro foi de € 51, ou cerca de R$ 320 (aumento de 21% em relação ao ano anterior).

Em outro momento, a empresa informou que sua tarifa média acompanhou queda: por exemplo, no verão de 2024 a tarifa média caiu de €?49,07 (R$ 300) para € 41,93 (R$ 250).

Já no exercício encerrado março de 2022, a tarifa média caiu para cerca de € 27 (R$ 170), em função da pandemia e da guerra na Ucrânia.

Resultados operacionais recentes

No ano fiscal encerrado em março de 2025, a Ryanair reportou lucro após impostos de € 1,61 bilhão, uma queda de cerca de 16% em relação ao ano anterior.

No primeiro trimestre do ano ano fiscal 2026 o tráfego de passageiros subiu 4%, para 57,9 milhões, a tarifa média subiu 21% para € 51, e os custos unitários cresceram apenas 1%.

Esses dados mostram uma empresa que, mesmo com tarifas extremamente baixas, consegue alavancar passageiros em volume e manter lucros, embora as tarifas baixas também limitem o crescimento da margem.

A Ryanair quase chegou à falência 

Embora a Ryanair seja hoje rentável, sua trajetória incluiu momentos críticos.

Nos anos iniciais, em 1990, a demanda e os custos fizeram com que a empresa encerrasse o ano com cerca de £ 20 milhões (R$ 140 milhões) em perdas.

O desafio se agravou por fatores como alta volatilidade nos preços de combustível, modelos de hedge insatisfatórios, e competição intensa no setor.

A gestão sob Michael O’Leary adotou, então, uma política de corte de custos extremos: eliminar serviços gratuitos a bordo, focar em aviões usados com economia de escala, operar aeroportos mais baratos, reduzir trocas dos aviões, entre outros.

O que foi feito para salvar a companhia

-- A adoção do modelo de “ultra baixo custo” (“no frills”), inspirado na companhia americana Southwest Airlines, onde tarifa básica mínima é oferecida e os complementos são cobrados separadamente.

-- Negociação agressiva com aeroportos secundários para obter tarifas de pouso mais baixas e retorno mais rápido das aeronaves -- o que permitiu aumentar a utilização das aeronaves e diluir custos fixos.

-- Aumento de eficiência operacional para melhorar a margem quando os preços de combustível eram favoráveis.

Graças a essas medidas, a Ryanair conseguiu superar crises, voltar à lucratividade e consolidar-se como uma das maiores transportadoras de passageiros da Europa -- ainda que mantenha essa imagem controversa.