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Confira as comemorações mais inusitadas para o Dia de Finados

Rituais únicos, cores vibrantes e homenagens criativas aos mortos

Foto: Ilustração Dreamina IA
Na Guatemala, um Festival de Pipas Gigantes
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No mundo todo, o Dia de Finados é celebrado de formas surpreendentes. No México, há festas com caveiras e oferendas. Nas Filipinas, famílias acampam em cemitérios. Em Madagáscar e Indonésia, corpos são desenterrados para homenagens. Cada cultura revela maneiras únicas de lidar com a morte e celebrar a memória dos mortos.

Neste 2 de novembro, milhões de pessoas ao redor do mundo prestam homenagens aos entes queridos que já partiram. Conhecido como Dia de Finados, a data é tradicionalmente associada a momentos de silêncio e reflexão em muitos países. No entanto, em diversas partes do mundo, o luto dá lugar a celebrações cheias de cor, música, comida e rituais peculiares que expressam uma relação diferente com a morte.

Enquanto em países como o Brasil o costume envolve missas, visitas a cemitérios e orações, outras culturas encaram a ocasião como uma verdadeira festa da memória, reforçando o elo espiritual entre vivos e mortos.

México: Festa colorida com caveiras e oferendas

O exemplo mais conhecido de uma celebração curiosa do Dia de Finados acontece no México, com o famoso Día de los Muertos (Dia dos Mortos). Celebrado entre 31 de outubro e 2 de novembro, o feriado é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

As famílias mexicanas montam altares decorados com flores de cempasúchil (calêndula), velas, alimentos favoritos dos falecidos, retratos e objetos pessoais. As ruas se enchem de desfiles, fantasias de caveira e máscaras chamadas “calaveras”, além de pães típicos como o “pan de muerto”.

Segundo a tradição, os mortos retornam para visitar os vivos durante esses dias. “Não estamos tristes, celebramos a vida que tiveram”, explicou ao jornal El Universal a antropóloga mexicana Lucía Sánchez.

Filipinas: Piqueniques e acampamentos nos cemitérios

Nas Filipinas, o Dia de Finados, conhecido como Undas, é celebrado com uma mistura de feriado religioso e encontro familiar. Muitas famílias acampam nos cemitérios, levando barracas, comida, música e jogos. O ambiente, longe de ser sombrio, é alegre e comunitário.

“É um momento para reunir toda a família e lembrar juntos de quem partiu”, disse ao Manila Times o morador de Manila, Joseph Cruz. As autoridades chegam a reforçar a segurança e organizar postos médicos nos cemitérios para lidar com o grande fluxo de visitantes.

Indonésia: Limpeza e desfile dos mortos

Entre os povos Toranjas, da ilha de Sulawesi, na Indonésia, há uma cerimônia única chamada Ma’nene. Embora não coincida exatamente com o Dia de Finados, ocorre entre agosto e novembro e tem o mesmo espírito de homenagem aos mortos.

Durante o ritual, os corpos dos antepassados são desenterrados, limpos, vestidos com roupas novas e exibidos à comunidade. Em seguida, são levados em procissão até o túmulo original, numa espécie de "reencontro" entre mortos e vivos.

Segundo crenças locais, esse gesto honra os laços familiares eternos. “É uma demonstração de respeito e carinho. A morte não é o fim da convivência”, explicou o antropólogo Yustinus Tana, em entrevista à BBC.

Madagáscar: Dança com os ancestrais

Outra tradição singular acontece em Madagáscar, com o ritual Famadihana, ou “a virada dos ossos”. A cada sete anos, famílias exumam os corpos dos ancestrais, envolvem-nos em novos tecidos e realizam uma celebração com música, dança e banquetes.

Embora também não ocorra exatamente no dia 2 de novembro, o ritual está diretamente ligado ao culto aos mortos e ao fortalecimento da memória ancestral. A prática, que mescla espiritualidade e festividade, representa a continuidade da vida e do afeto familiar.

Guatemala: Pipas gigantes e culinária típica

Na Guatemala, as cidades de Sumpango e Santiago Sacatepéquez celebram o Dia de Finados com o Festival de Pipas Gigantes. Os habitantes constroem pipas com mais de 15 metros de diâmetro, decoradas com mensagens e imagens em homenagem aos mortos.

As pipas são lançadas ao céu como uma forma de comunicação espiritual com os entes falecidos. Paralelamente, as famílias se reúnem nos cemitérios com comidas típicas, como o fiambre, uma salada complexa com mais de 50 ingredientes.

Japão: Memória e luzes no festival Obon

No Japão, o festival budista Obon, realizado em agosto, tem função semelhante ao Dia de Finados. As famílias visitam os túmulos, fazem oferendas e colocam lanternas flutuantes nos rios para guiar os espíritos de volta ao mundo espiritual.

Apesar de não acontecer em novembro, o Obon mostra como diferentes culturas valorizam a conexão com os ancestrais e buscam rituais simbólicos para manter viva a lembrança dos que se foram.

Estados Unidos: Mistura entre Halloween e homenagens privadas

Nos Estados Unidos, o foco principal entre 31 de outubro e 2 de novembro está no Halloween, com fantasias e brincadeiras, mas há também uma crescente adesão ao Dia de Todos os Santos e ao Dia de Finados por parte de comunidades católicas e latinas.

Muitas famílias latinas montam altares domésticos, enquanto igrejas celebram missas e organizam procissões. A influência do Día de los Muertos mexicano também se espalha por cidades como Los Angeles e Chicago, onde exposições de arte e celebrações públicas ganham espaço.

Diferenças culturais 

As variadas formas de celebrar o Dia de Finados ao redor do mundo revelam muito sobre a relação que cada cultura estabelece com a morte. Enquanto algumas preferem o silêncio e a oração, outras optam por cores, danças e festividades para afirmar a presença contínua dos mortos no cotidiano dos vivos.

Independentemente do formato, a data se mantém como um marco de memória coletiva, reafirmando valores como pertencimento, espiritualidade e respeito aos antepassados.