
A Acelen -- empresa de energia criada pelo fundo Mubadala Capital, à frente da Refinaria de Mataripe -- está investindo US$ 3 bilhões na Bahia e Minas Gerais, para a produção de combustível a partir da macaúba, palmeira nativa da flora brasileira, encontrada em praticamente todas as regiões do país. Os estados que apresentam maior concentração são: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Piauí, Tocantins e Ceará.
A Acelen projeta que seu projeto de macaúba possa gerar 90 mil empregos diretos e indiretos.
Durante a edição de outubro da Conferência ABI 95+5, realizada nessa quarta-feira (8 de outubro), na sede da ABI-Associação Bahiana de Imprensa, em Salvador, Marcelo Lyra, vice-presidente de Comunicação, ESG e Relações Institucionais da Acelen, apresentou o projeto de biocombustíveis da empresa.
Lyra ressaltou que a Bahia possui vantagens competitivas para se consolidar como um centro de produção de energia renovável, capaz de atrair investimentos e impulsionar o desenvolvimento regional. Segundo ele, a Acelen Renováveis foi criada tendo como foco a produção de diesel verde e SAF (combustível sustentável de aviação).
O plano da empresa inclui a construção de uma biorrefinaria adjacente à Refinaria de Mataripe, com início das operações previsto entre 2028 e 2029.
A planta terá capacidade para produzir 1 bilhão de litros por ano de combustíveis renováveis, com base no cultivo da macaúba. O projeto prevê o uso de 180 mil hectares de terras degradadas na Bahia e no norte de Minas Gerais.
Cerca de 20% da produção será realizada por pequenos agricultores vinculados ao programa Acelen Valoriza, que apoia a agricultura familiar. “O produtor familiar pode ter produtividade igual ou maior que o grande produtor”, afirmou Lyra. De acordo com ele, o modelo pode multiplicar por até sete vezes a renda das famílias participantes.
Meio ambiente
O modelo de cultivo da Acelen contempla práticas sustentáveis:
-- Recuperação de áreas degradadas sem provocar desmatamento
-- Cultivo consorciado com espécies alimentares, promovendo diversidade ecológica
-- Participação de agricultores familiares e pequenos produtores, com parte dos plantios destinados a essas parcerias
Em termos de emissões, estima-se que o uso da macaúba possa reduzir em até 80% as emissões de carbono quando comparado aos combustíveis fósseis, além de remover até 60 milhões de toneladas de gases causadores do efeito estufa, ao longo de sua vida útil no cenário projetado.
O projeto também abrange estudos sistemáticos de inventário de carbono, análise de ciclo de vida (LCA) e viabilidade econômica, para garantir que toda a cadeia tenha baixo impacto ambiental e seja competitiva no mercado internacional.
A previsão da empresa é que a produção de SAF e diesel renovável com gordura vegetal e óleo da macaúba comece em 2027, com a produção exclusivamente a partir da macaúba após 2030.
Em 2025, a Acelen Renováveis iniciou o plantio de macaúba em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, como uma fazenda-modelo. A meta inicial é plantar aproximadamente 200 hectares, parte de um total de 1.500 hectares previstos para a região. Serão utilizadas mais de 800 mil mudas.
Esse território foi escolhido não só por seu potencial agronômico e proximidade logística com a futura biorrefinaria de São Francisco do Conde, mas também por cumprir critérios legais e ambientais da região.
Potencial da macaúba
Estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que a macaúba pode produzir de 4 a 6 mil litros de óleo por hectare/ano, volume superior ao da soja (600 litros/ha/ano) e comparável ao do dendê, mas com menor impacto ambiental.
O óleo extraído do fruto pode ser usado tanto para biodiesel quanto para bioquerosene de aviação, setores que buscam alternativas mais limpas frente à pressão por redução das emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, a planta é perene e nativa, o que facilita sua adaptação ao solo brasileiro e favorece o equilíbrio ecológico.
O cultivo da macaúba é considerado de baixa complexidade, com custos de manejo inferiores aos de culturas como a soja e o milho. Além disso, a cadeia produtiva permite o aproveitamento integral do fruto: o óleo é extraído da polpa e da amêndoa, enquanto a torta resultante pode ser usada na alimentação animal ou como fertilizante.
Centro de inovação
Outro destaque da apresentação na sede da ABI foi o Agripark, Centro de Inovação e Tecnologia Agroindustrial localizado em Montes Claros (MG), que recebeu investimentos de R$ 314 milhões, parte financiada pelo BNDES. O espaço é considerado o maior do mundo dedicado à pesquisa sobre a macaúba e servirá como base científica e tecnológica para o desenvolvimento da cadeia produtiva.
Lyra também comentou o apoio de políticas públicas recentes ao setor de energia renovável, como a lei federal “Combustível do Futuro” e o Programa Protener, iniciativa estadual que estabelece diretrizes para a transição energética na Bahia. Segundo ele, tais medidas fortalecem o ambiente regulatório e ampliam as oportunidades para o estado. “A Bahia tem todas as condições de ser protagonista na transição energética brasileira”, declarou.
O executivo reiterou que o projeto respeita normas ambientais rigorosas e não representa ameaça à produção de alimentos, uma vez que utiliza apenas áreas degradadas. Ele destacou ainda o potencial do país na produção sustentável, afirmando que o Brasil pode se tornar “a Arábia Saudita da fotossíntese”.