Longe das cúpulas e holofotes da política, Brasília é também feita de silêncios, esquinas e histórias íntimas.
É nesse espaço invisível da capital que se passam as novelas reunidas em Sete Solidões, obra de Maurício Melo Júnior.
Cada história revela uma camada distinta de isolamento e resistência. Em Cárceres, uma ex-miss vê sua vida se transformar em uma prisão doméstica. Já em Prelúdio, uma servidora pública reavalia sua trajetória às vésperas dos 40 anos. Rostos, um homem explora a confusão da memória ao rever uma mulher do passado em uma fotografia da amiga de sua filha. Em Pacto, uma senhora descobre um diário da cunhada e se depara com a liberdade sexual que nunca viveu.
Cantata acompanha uma mãe frustrada que deposita na filha o peso de seus sonhos não realizados. Duelos apresenta o drama de um pai impotente diante do sequestro da própria casa.
Por fim, Peste se passa na pandemia, narrando a tentativa de reconexão entre dois irmãos afastados pelo tempo e pelas escolhas.
Segundo o escritor, a obra visa reposicionar a capital no imaginário literário: “Esse livro é motivado pela busca de destacar a Brasília cotidiana, que transita normalmente pelas ruas e esquinas — sim, ao contrário do senso comum, a cidade tem esquinas”. A publicação retrata personagens que, em vez de dominar o poder, são afetados por ele ou vivem à sua sombra. O cenário é a capital, mas as histórias são universais — sobre envelhecer, desejar, resistir.
Com narrativas que combinam densidade psicológica e crítica social, a obra transforma o ordinário em matéria de arte. A linguagem sensível valoriza os detalhes e transmite com elegância o peso das escolhas e das ausências. Ao final de cada conto, o leitor se reconhece no eco dessas vozes que, em comum, compartilham o peso de existir. Mais do que um livro, Sete Solidões é um mapa das emoções humanas — e uma celebração da literatura como espelho da cidade e do tempo.