
As águas quentes da Bahia voltam a receber um dos maiores espetáculos naturais do Atlântico Sul: a temporada reprodutiva das baleias-jubarte. Entre julho e outubro, milhares desses gigantes marinhos migram do Polo Sul em direção ao litoral brasileiro para acasalar, dar à luz e amamentar seus filhotes. A costa baiana, com suas condições ideais, é o principal palco desse fenômeno – e já registra, desde a primeira semana do mês, as primeiras aparições.
“É sempre emocionante ver o início desse ciclo. Já temos registros em Salvador, na Baía de Todos-os-Santos, no Rio Vermelho e até na travessia Salvador – Morro de São Paulo”, confirma Gustavo Rodamilans, coordenador do Projeto Baleia Jubarte na capital baiana.
As contagens oficiais dos avistamentos na cidade são feitas a partir de um ponto fixo instalado no Museu Náutico da Bahia, no Farol da Barra, que também abriga exposições e atividades de ciência cidadã. Segundo Rodamilans, “além da localização estratégica para a observação, o ponto fixo permite sensibilizar milhares de visitantes e envolver escolas e turistas no trabalho de conservação”. Em 2024, foram registradas 1.012 avistagens no local. Para este ano, a expectativa é de um aumento expressivo, tanto no número de baleias quanto de pessoas envolvidas.
Do risco à recuperação
A história da população de jubartes no Brasil é uma das mais significativas em termos de conservação marinha. Quando o Projeto Baleia Jubarte começou, em 1986, a estimativa era de apenas 1.000 a 1.500 indivíduos no litoral brasileiro. “Hoje, falamos em cerca de 35 mil baleias. É um número impressionante, fruto de políticas públicas, pesquisa científica e educação ambiental”, ressalta Rodamilans.
Embora não tenham o comportamento de retorno exato às praias como as tartarugas, algumas jubartes já foram fotoidentificadas repetidamente nas mesmas regiões. “Temos registros de animais retornando aos mesmos pontos em diferentes temporadas, o que reforça a importância da Bahia como local de referência para a espécie”, explica o coordenador.
A migração, que cobre cerca de 4 mil quilômetros entre a Antártida e a costa brasileira, exige grande esforço físico e é essencial para o ciclo de vida da espécie. A Bahia, por oferecer águas calmas, mornas e seguras, se tornou um verdadeiro santuário natural.
Turismo de observação
Na Bahia, além de Salvador, as jubartes podem ser observadas em Caravelas, Cumuruxatiba, Porto Seguro, Itacaré e Praia do Forte | Foto: Projeto Baleia Jubarte
Além de Salvador, as jubartes podem ser observadas em diversas localidades baianas: Caravelas, Cumuruxatiba, Porto Seguro, Itacaré e Praia do Forte estão entre os principais pontos de avistamento. Em todas essas cidades, o turismo de observação cresce de forma estruturada, em parceria com o Projeto Baleia Jubarte.
“O turismo de observação não só contribui com a economia local, como amplia o alcance da conservação. É uma forma responsável e educativa de se aproximar desses animais incríveis”, avalia Rodamilans. Em Salvador, operadoras parceiras como a SharkDive e a Apolônio Turismo já iniciaram os passeios desta temporada, seguindo regras de aproximação que evitam o estresse dos animais.
O sucesso do turismo náutico na capital durante o inverno, período tradicionalmente mais fraco para o setor, é creditado, em grande parte, à presença das baleias. “A parceria com a Prefeitura de Salvador tem sido fundamental para fomentar essa atividade. A cidade se beneficia de forma econômica, cultural e ambiental com a presença das jubartes”, diz o coordenador.
Ver e aprender
Mais de 60 mil pessoas visitaram o Museu Náutico da Bahia em 2024, onde o projeto mantém exposições permanentes sobre as jubartes. Neste ano, a nova mostra “Salvador das Baleias” fica em cartaz até outubro e traz ao público curiosidades sobre o comportamento, a anatomia e a relação histórica entre a cidade e as baleias.
Segundo Rodamilans, “é impossível sair da exposição e não se sentir mais conectado ao mar. Ver uma jubarte saltando perto da costa, com Salvador ao fundo, é uma cena que emociona qualquer um. Recomendo que as pessoas olhem mais para o mar nesta época. O espetáculo está ao alcance dos olhos”.
Temporada para não perder
Em tempos de crise climática, acidificação do oceano e ameaça à biodiversidade marinha, a temporada das jubartes é mais que um evento turístico: é um lembrete da força da natureza quando ela é protegida. É também uma oportunidade de reconexão, de se maravilhar com a vida e de entender o papel de cada um na preservação dos mares. O show das jubartes já começou. E quem está na Bahia tem o privilégio de assistir da primeira fila.