
A Praia do Patacho, situada no município de Porto de Pedras, no litoral Alagoano, é um refúgio para quem gosta de tranquilidade, mar de águas mornas e claras e muito contato com a natureza preservada. Encravado na Rota da Costa dos Corais, o Patacho conta com aproximadamente 5 km de praia cercada de vegetação e é habitat natural do peixe-boi marinho, que transita entre o estuário do Rio Tatuamunha e as piscinas naturais de águas azul celeste que se formam entre os corais. Não à toa, esse pequeno paraíso na Terra neste ano foi uma das seis praias nordestinas a receber o parecer favorável do júri nacional para a chancela Selo Bandeira Azul, neste caso pelo quinto ano consecutivo.
O Selo Bandeira Azul é uma certificação internacional concedida a praias, marinas e embarcações de turismo que atendem a critérios rigorosos de qualidade ambiental, segurança, serviços, informações e educação ambiental. O selo foi criado pela Foundation for Environmental Education (FEE), uma instituição Dinamarquesa, e visa promover o turismo sustentável e a preservação dos ecossistemas. No Brasil, o Operador Nacional do Programa é o Instituto Ambientes em Rede (IAR). No processo de implementação e manutenção dos critérios exigidos pelo Programa, a Prefeitura é a fiel guardiã da certificação.
Ao todo 34 critérios devem ser atendidos rigorosamente para que a certificação seja concedida. Aspectos como qualidade da água, conservação do ambiente, gestão ambiental, seguranças e serviços, educação e informação ambiental, dentre outros, são exigidos para a aquisição do Selo.
“A praia do Patacho tinha potencial para o desordenamento. O selo nos deu a oportunidade de organizar tudo isso e salvar o Patacho. Sem ele, seria mais uma praia desordenada do Nordeste. Começamos com a fase piloto em 2020. Entre 2021 e 2022, conquistamos a primeira certificação. A fase piloto prepara a praia para a certificação, que é por temporada. A gestão municipal teve que fazer adequações: análise da água para balneabilidade, estrutura com banheiros, chuveiros e passarelas de acessibilidade”, conta.
Dentre os maiores desafios neste processo, a titular da pasta de Meio Ambiente destaca a pouca disponibilidade de recursos financeiros para as adequações e o convencimento da população para acolher o Selo. Para ela, trabalhar o ordenamento das categorias do turismo foi desafiador. Além disso, o critério da segurança foi o mais difícil de ser atendido. Foi preciso aprimorar a guarda ambiental, criar equipe própria de guarda-vidas e ter apoio do Corpo de Bombeiros.
“Também criamos uma infraestrutura para acessibilidade: somos o único município do litoral norte de Alagoas com cadeiras anfíbias, que são essas que permitem que pessoas com deficiências físicas entrem no mar”.
Para manter o Selo, a praia é submetida a auditorias constantes e nesse sentido, Flávia Rêgo destaca que o Município segue um plano de trabalho rigoroso tendo como prioridade a manutenção do Selo. As análises de água são feitas regularmente e há também um Comitê Gestor e um Conselho Municipal de Turismo que dialoga sobre essas questões com a comunidade e parceiros.
Mudança de comportamento
E por falar na comunidade, essa é a grande protagonista deste processo de conservação: marisqueiras, barqueiros, pescadores e pessoas que vivem tradicionalmente nos arredores do Patacho estão diretamente inseridas nas atividades que fortalecem os critérios que tornam a praia uma das únicas com Bandeira Azul, no Nordeste.
“Trabalhamos com políticas públicas e ordenamento para tornar a comunidade protagonista. Os ambulantes, jangadeiros, barqueiros, pescadores, foram capacitados e incluídos no processo. O comportamento da comunidade mudou muito com a chegada do Selo que trouxe principalmente o sentimento de pertencimento. Ganhamos por dois anos consecutivos o prêmio de melhor vídeo de educação ambiental: um sobre poluição marinha, outro sobre áreas degradadas. A população se sente parte da preservação”, destaca.
A educação ambiental no município também é fortalecida com a iniciativa do Selo Bandeira Azul que envolve escolas, Centros de Atenção Psicossocial (Caps), bugueiros, barqueiros, turistas e pousadas. Em 2024 o Bloquinho de Carnaval do Bandeira Azul abordou o tema “No ritmo da inclusão”, focando na acessibilidade.
“O Selo garante acesso público à praia. O Bandeira Azul é ferramenta para garantir esse direito, especialmente frente à especulação imobiliária. Estamos inclusive na fase piloto para a Praia de Lages, expandindo o programa em Porto de Pedras”, ressalta a secretária de Meio Ambiente do Município.
Peixe-boi como guardião
A Praia do Patacho conta com um ícone bastante influente que engaja e sensibiliza para a manutenção da certificação: o peixe-boi marinho. A poucos quilômetros da Praia, situa-se o santuário da espécie, no estuário do Rio Tatuamunha. A Associação Peixe-Boi, instituição que trabalha em prol da conservação desses mamíferos marinhos, é uma grande parceira do Selo Bandeira Azul em Porto de Pedras.
“Ele é o maior símbolo de conservação que temos. O peixe-boi representa critérios de cuidado ambiental. Proteger o peixe-boi é proteger o habitat inteiro”, destaca Flávia.
Para ela, que também é bióloga, os principais fatores que vão na contramão da conservação das praias são a predação da fauna local, a destinação inadequada de esgoto, o despejo de poluentes por indústrias, a falha na coleta de resíduos sólidos e , principalmente, a ausência de políticas públicas eficientes.
No Nordeste
Além da Praia do Patacho, outras quatro praias nordestinas e uma marina tiveram suas candidaturas aprovadas para a temporada 2025/2026:
-- Praia do Paraíso – Guarajuba, Camaçari (BA)
-- Praia da Espera – Itacimirim, Camaçari (BA)
-- Praia da Viração – Ilhas dos Frades, Salvador (BA)
-- Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, Ilha dos Frades, Salvador (BA)
-- Yacht Clube da Bahia – Salvador (BA)
A jornalista ambiental Cláudia Guadagnin conheceu a Praia da Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, na Ilha dos Frades, em Salvador (BA), que obteve o Selo pela primeira vez em 2015, e considera que é uma das mais belas praias que já conheceu:
“O que torna tudo ainda mais especial é a limpeza incrível da água e da areia, o controle de acesso e a preservação do local. Tudo isso ajuda a manter o ambiente bem cuidado e agradável. Claro que fui em baixa temporada, então estava mais tranquilo. Sei que nos meses de alta temporada o movimento aumenta bastante, mas mesmo assim, eles mantêm um rigoroso controle de qualidade”.
Cláudia explica que lá agentes ambientais fazem a medição da qualidade da água mensalmente. “No dia da nossa visita, inclusive, vimos uma equipe uniformizada coletando amostras. A ilha é um pouco mais distante de Salvador. Leva cerca de 1h30 de barco para ir e o mesmo para voltar, o que também ajuda a preservar o local, já que o acesso não é tão fácil. Isso, junto com o cuidado ambiental, cria uma atmosfera quase intocada. É lindo ver que é possível fazer o certo quando há vontade e compromisso. Seria maravilhoso se todas as praias tivessem esse nível de rigor e critério”, ressalta.
No Brasil
Um total de 60 praias e marinas do Brasil podem receber a prestigiada certificação internacional Bandeira Azul na temporada 2025/2026. As candidaturas foram aprovadas pelo júri nacional do Programa, integrado pelo Ministério do Turismo (MTur), e seguem agora à etapa final do processo realizado pela Foundation for Environmental Education (FEE), que tem sede na Dinamarca.
Os destinos, selecionados por candidatura voluntária, são de Alagoas, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. O processo teve concorrentes inéditos, como as praias José Gonçalves (Armação de Búzios-RJ), Foguete (Cabo Frio-RJ), Vermelha (Penha-SC) e dos Molhes do Atalaia (Itajaí-SC).
O Brasil tem o maior número de praias e marinas premiadas na América do Sul (49), um reflexo do avanço da qualificação ambiental de áreas costeiras e estruturas náuticas.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, ressalta os esforços do governo federal para incentivar o turismo responsável: “A possibilidade de ampliarmos o número de locais certificados com o Selo Bandeira Azul demonstra que nossos destinos estão cada vez mais comprometidos com o meio ambiente. Isso reforça a visibilidade do Brasil como protagonista do desenvolvimento sustentável e responsável”.
Para Leana Bernardi, coordenadora nacional do Programa Bandeira Azul e diretora do Instituto Ambientes em Rede (IAR), responsável pela iniciativa no Brasil, a seleção reafirma o papel do País como referência na região. “O programa tem contribuído de forma estratégica para consolidar uma agenda de sustentabilidade no turismo nacional. A expansão da premiação demonstra o compromisso de diversos atores com a valorização do nosso patrimônio natural e com a excelência na gestão ambiental das regiões costeiras”, aponta.
Além do MTur e do IAR, o júri nacional do Bandeira Azul – programa presente em mais de 50 países – é composto pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) e a Secretaria do Patrimônio da União (SPU), entre outros, e passou a contar, neste ano, com a Associação Brasileira de Ilhas Turísticas (Abitur). O anúncio dos premiados e a cerimônia nacional de entrega do Selo serão no mês de outubro, em data e local a serem confirmados.