
O médium Divaldo Franco
O médium, orador e filantropo Divaldo Franco morreu na noite desta terça-feira (13 de maio), em Salvador (BA), aos 98 anos, em decorrência de falência múltipla dos órgãos.
Considerado um dos maiores expoentes do espiritismo no mundo, Divaldo dedicou mais de sete décadas à propagação da doutrina codificada por Allan Kardec, ao amparo de populações vulneráveis e à educação de crianças e jovens.
O corpo está sendo velado na Mansão do Caminho, instituição filantrópica que ele próprio fundou em 1952.
O sepultamento está marcado para a quinta-feira (15), no Cemitério Bosque da Paz, também na capital baiana.
Autor de mais de 250 livros psicografados, traduzidos para 17 idiomas, Divaldo impactou milhões de vidas através da palavra, da escrita e da ação direta no campo social.
Infância e primeiros contatos com a mediunidade
Divaldo Pereira Franco nasceu em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana (BA), o caçula de 13 filhos de Francisco Pereira Franco e Ana Alves Franco.
A infância foi marcada por episódios de saúde debilitada e visões espirituais, o que lhe rendeu episódios de discriminação e preocupação familiar.
Foi apenas na adolescência, por volta dos 16 anos, que Divaldo teve o primeiro contato estruturado com o espiritismo, através da leitura das obras de Allan Kardec, codificador da doutrina.
A morte precoce de dois irmãos e experiências mediúnicas recorrentes o aproximaram definitivamente da filosofia espírita.
Em 1945, mudou-se para Salvador para trabalhar como servidor público no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), ao mesmo tempo em que intensificava seus estudos e práticas no espiritismo.
Em 1947, fundou com Nilson de Souza Pereira o Centro Espírita Caminho da Redenção, que mais tarde deu origem à Mansão do Caminho, uma das instituições sociais mais conhecidas do Brasil. A Mansão, localizada no bairro de Pau da Lima, zona periférica de Salvador, cresceu para se tornar um complexo de mais de 80 mil metros quadrados, oferecendo educação, saúde, cultura e acolhimento.
Entre suas ações estão:
-- 14 casas-lares, que acolheram mais de 600 crianças e adolescentes ao longo dos anos
-- Escolas com ensino da educação infantil ao ensino médio
-- Unidade de saúde com atendimento gratuito
-- Programas de assistência social, cursos profissionalizantes e projetos culturais
Obra psicográfica e doutrinária

Divaldo Franco psicografou mais de 250 livros, atribuídos a mais de 200 autores espirituais, com destaque para Joanna de Ângelis, sua mentora espiritual. Sua produção é extensa, abordando desde temas doutrinários e religiosos até reflexões filosóficas, autoajuda e psicologia transpessoal.
Além da produção literária, Franco participou de mais de 20 mil conferências em 71 países e traduziu o espiritismo para uma linguagem acessível a diferentes públicos. Sua oratória foi reconhecida pela ONU e por diversos fóruns inter-religiosos.
Atuação internacional e prêmios
Divaldo foi um verdadeiro embaixador da paz e do espiritismo, recebendo mais de 800 homenagens, entre títulos de Doutor Honoris Causa, prêmios de direitos humanos, educação e filantropia. Representou o espiritismo no Fórum Mundial da Paz, organizado pela ONU em 2000, em Nova York.
Dentre as principais condecorações:
-- Título de Embaixador da Paz pela Universidade da Paz, Suíça
-- Medalha da Ordem do Mérito da Bahia
-- Troféu Chico Xavier de Humanismo, em Uberaba
-- Reconhecimentos da Federação Espírita Brasileira (FEB) e instituições internacionais como a Spiritist Society of London.
Divaldo nunca se casou nem teve filhos biológicos, mas adotou centenas de crianças e se dedicou integralmente à filantropia. Seu estilo de vida era simples e disciplinado, com rotinas que incluíam meditação, leituras, escrita e atendimentos fraternos.

Mesmo aos 98 anos, mantinha agenda ativa, inclusive com transmissões virtuais. Em entrevistas recentes, manifestava serenidade diante da morte e dizia estar pronto para o reencontro com os amigos espirituais.
Impacto e legado na doutrina espírita
Divaldo Franco é considerado, ao lado de Chico Xavier, o maior nome do espiritismo brasileiro do século XX e início do XXI.
Organizações como a FEB (Federação Espírita Brasileira) e a USE (União das Sociedades Espíritas) já declararam que suas contribuições serão estudadas por décadas.
Repercussão da morte e homenagens
Após o anúncio da morte, uma série de homenagens começou a ser publicada por políticos, líderes religiosos, artistas e instituições. A Mansão do Caminho recebeu uma multidão de admiradores, e diversas casas espíritas realizaram reuniões públicas em sua memória.
Nota oficial da FEB: “A Federação Espírita Brasileira lamenta profundamente a partida do querido confrade Divaldo Franco. Seu exemplo de amor, disciplina e serviço será farol para todos os que militam no bem”.
Presidente da Mansão do Caminho, Nilson de Souza Pereira: “Divaldo nos deixa um oceano de exemplos. Seu corpo parte, mas sua obra viverá em cada criança que foi educada, em cada alma que foi consolada”.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis: “Recebo com profundo pesar a notícia do falecimento de Divaldo Franco, um dos maiores líderes espirituais do Brasil e um exemplo de dedicação à caridade, à paz e à promoção da dignidade humana. Sua partida deixa uma lacuna irreparável, mas seu legado de amor e serviço ao próximo permanecerá vivo por gerações”.
A doutrina espírita após Divaldo Franco

Com a morte de Divaldo Franco, o movimento espírita brasileiro entra numa nova fase. Líderes e estudiosos indicam que o legado deverá ser preservado, sistematizado e difundido, sobretudo entre as novas gerações.
Já se discute a digitalização de todo o seu acervo e a criação de um Instituto Divaldo Franco de Estudos Espíritas, nos moldes do que foi feito com Chico Xavier.