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Cesta básica em Salvador consome quase a metade do salário mínimo

Queda nos preços não alivia pressão sobre renda

Foto: LEIAMAISba
O preço da cenoura teve a maior queda, mas subiu 20,06% desde janeiro
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Mesmo com queda de 0,44% em abril, a cesta básica de Salvador custa R$ 613,07 e consome 43,66% do salário mínimo líquido. Almoço típico teve alta de 1,44%, enquanto o café da manhã caiu 1,32%. Apesar da redução em 16 itens, o impacto no orçamento segue alto, refletindo desigualdades persistentes.

Mesmo com a redução de 0,44% no custo da cesta básica de Salvador em abril, o peso sobre o bolso do trabalhador permanece alto. Com um valor de R$ 613,07, a cesta compromete quase metade (43,66%) do salário mínimo líquido, que atualmente é de R$ 1.404,15.

A análise foi divulgada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base em dados de 3.417 cotações realizadas em 97 estabelecimentos comerciais da capital baiana.

O levantamento mostra que o trabalhador soteropolitano precisa dedicar, em média, 96 horas e 2 minutos para adquirir os itens essenciais que compõem a cesta — um cenário que evidencia a dificuldade de acesso a alimentos básicos e reforça as desigualdades estruturais da capital baiana.

Embora 16 dos 25 produtos que integram a cesta tenham apresentado queda nos preços, o impacto no orçamento familiar ainda é significativo.

Entre os itens que mais recuaram destacam-se:
-- Cenoura: -16,24%
-- Linguiça calabresa: -7,07%
-- Banana-prata: -6,79%
-- Ovos de galinha: -5,70%
-- Leite: -5,67%

A redução foi puxada, principalmente, pela desaceleração dos preços de hortaliças e derivados de proteína animal, refletindo safras mais favoráveis e maior oferta no varejo.

Por outro lado, 9 itens registraram aumento, com destaque para:

-- Batata inglesa: +17,34%
-- Tomate: +16,44%
-- Queijo muçarela: +9,16%
-- Café moído: +5,71%
-- Feijão: +2,97%

Estes aumentos indicam uma recomposição de preços influenciada por fatores sazonais, como clima e logística, além de questões estruturais da cadeia produtiva.

Refeições típicas pressionam o orçamento

O levantamento da SEI destaca dois subconjuntos de alimentos com base nos hábitos alimentares locais:

-- Almoço soteropolitano (feijão, arroz, carnes, farinha de mandioca, tomate e cebola): aumento de 1,44% e responsável por 34,84% do custo da cesta.

-- Café da manhã típico (café, leite, açúcar, pão, manteiga, queijos e flocão de milho): queda de 1,32%, com 34,27% de participação no custo total.

Mesmo com a redução parcial no grupo matinal, o impacto da alimentação principal do dia — o almoço — foi decisivo para manter a pressão sobre a renda.

Desde janeiro de 2023, a SEI ampliou a composição da cesta básica de Salvador, passando de 12 para 25 itens, com base na Ração Essencial Mínima estabelecida pela Lei nº 399/1938 e ajustada conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A nova metodologia também foi adaptada ao Decreto Federal nº 11.936/2024, que determina:

Desigualdade regional e comparações históricas

Embora o boletim da SEI trate exclusivamente de Salvador, o contexto nacional aponta para disparidades significativas entre capitais brasileiras. Em cidades como São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro, o custo da cesta básica costuma ser ainda mais alto, superando os R$ 700 em diversos meses de 2024.

Para efeitos comparativos, em abril de 2023, a cesta básica em Salvador custava cerca de R$ 544,00, o que indica um aumento acumulado de cerca de 12,7% em dois anos, acima da inflação média registrada no mesmo período. A elevação reforça a necessidade de políticas públicas eficazes para controle de preços e garantia de segurança alimentar.

Segurança alimentar

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar (2022), mais de 33 milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar grave, sem acesso regular a comida suficiente. Na Bahia, esse número ultrapassava 4,5 milhões de pessoas.

Os dados atuais da cesta básica de Salvador demonstram que, mesmo em cenários de leve retração de preços, a alimentação ainda é um luxo para muitos. A persistência da insegurança alimentar exige ações integradas de governos, sociedade civil e setor privado.