Chico Ribeiro Neto

Os remédios da infância (que eram piores que os sintomas da doença)

Ah, os velhos e intragáveis remédios!


Imagem: Leonardo.AI

Era o único dia em que a gente lá em casa comia maçã e chupava uva. Tinha que estar doente para que essas caras frutas chegassem até a cabeceira da cama.

Nesse ponto dei sorte, pois fui um menino doente. A partir dos 7 ou 8 anos comecei a sofrer de asma e o bicho era brabo.

Lá fora, a zoada dos meninos jogando bola na rua. “Cadê Chico?” “Ele não vai hoje, não, tá doente”.

O problema era que quando curava uma coisa, vinha outra. Quando o médico passava remédio pra asma, eu parava de sentir falta de ar, mas aí aparecia a coceira, e vice-versa. Eram 15 dias me coçando e 15 dias piando. Já em Salvador, depois da consulta no médico, na Piedade, mamãe me levava para merendar na Lobras (Lojas Brasileiras), em São Bento.

A asma até que me ajudou em algumas situações. Quando meu pai Waldemar vinha me dar uma surra, eu simulava logo uma crise e mamãe Cleonice alertava: “Waldemar, você não tá vendo que o menino tá com falta de ar?”. E eu escapava do cinturão. O problema é que essa simulação muitas vezes provocava a asma de verdade.

Lembro uma piada de Juca Chaves. O cara passou a noite com uma mulher no motel e de manhã disse que precisava confessar algo. “Você é casado?”, perguntou ela. “Não, é outra coisa”. “Fique à vontade, pode falar o que é”. “Eu queria lhe dizer que ... eu sou asmático”. “Ainda bem que você me contou, porque eu pensei que você estava me dando vaia a noite toda”.

Ah, os velhos e intragáveis remédios! Tinha um tal de óleo de ricínio (óleo de rícino), pra combater vermes, que era terrível. E o Emulsão de Scott? Cleonice dava voltas na mesa da sala até conseguir segurar um dos quatro filhos pra engolir aquele negócio branco e intragável na colher de sopa.

Mamãe usava Colubiazol pra garganta e vovô Chico não ficava sem Sal de Fruta Eno em casa. E papai passava na cabeça a loção Tricomicina pra ver se ainda nascia cabelo.

A gente ia no inferno e voltava quando o Merthiolate era aplicado em cima do ferimento no joelho adquirido no “baba” da rua. A chegada do Band-Aid foi um alívio. Os pequenos curativos deixaram de ser feitos com gaze e esparadrapo, que saía arrancando os cabelinhos a torto e a direito. Quando não era raladura, era uma porrada na perna, usava-se o Iodex, uma pomada preta que tinha um cheiro forte.

Difícil mesmo era engolir uma gemada. Beber o chá de fedegoso contra asma era outro processo doloroso. Gripe? Chá de limão com alho. Tomar bem quente e entrar debaixo da coberta. Vai suar em bicas e no outro dia tá bom. Pode escalar Chico pro “baba” de hoje.