Brasil / Economia

BC acha difícil baixar juros sem que o governo reduza os custos

A inflação também está preocupando o Banco Central

Foto: Felipe Gonçalves | LIDE
Campos Neto: o mercado precisa perceber melhoria no controle fiscal

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, lembrou, em Londres, durante o LIDE Brazil Conference London, que toda estratégia para reduzir os juros no Brasil foram acompanhadas de iniciativas fiscais que tranquilizaram o mercado. 

Como exemplo das iniciativas fiscais que sinalizaram segurança ao mercado, citou a implementação do teto de gastos, a reforma da previdência e o arcabouço fiscal.

“Todas as vezes que o Brasil reduzir diminuir os juros foram acompanhadas de choques fiscais positivos. A mensagem aqui é que é muito difícil trabalhar com juros mais baixos sem ter choque positivo na parte fiscal, sem ter percepção do mercado de que o fiscal vai melhorar”, disse Campos Neto.

Nesta quarta-feira (30 de outubro) o dólar opera em alta, encostando nos R$ 5,79, com o mercado ainda cauteloso com o risco fiscal brasileiro, depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar, na véspera, que não há previsão para divulgação do novo pacote com corte de gastos.

Nessa terça-feira (29) a moeda chegou a R$ 5,7666, o maior patamar desde 30 março de 2021, quando fechou a R$ 5,7613. 

O comportamento da cotação do dólar no Brasil

Alta de 0,99% na semana - Essa variação em um período tão curto pode sinalizar uma tendência de curto prazo.

Avanço de 5,77% no mês - A variação mensal aponta para uma tendência de crescimento contínuo. Uma variação mensal assim forte sugere que os fatores por trás do movimento semanal são persistentes.

Ganho de 18,72% no ano - É um valor que, se sustentado, pode indicar inflação acumulada.

Esses valores sugerem que, no contexto econômico atual, existe uma pressão inflacionária ou valorização significativa em ativos, produtos ou indicadores relacionados, especialmente considerando o acumulado anual que ultrapassa amplamente as metas de inflação comuns em diversas economias.

Entenda porque o desequilíbrio fiscal alimenta a inflação

Quando o governo gasta mais do que arrecada - para financiar projetos, salários ou benefícios -, precisa buscar recursos extras para cobrir esse desequilíbrio. Isso pode ser feito aumentando a dívida pública ou emitindo mais moeda, por exemplo. E é justamente aqui que o problema começa a surgir, porque esses caminhos acabam pressionando a inflação.

Pense na inflação como o aumento generalizado dos preços. Ela ocorre, em grande parte, quando existe mais dinheiro circulando do que produtos e serviços para comprar. Se o governo gasta muito e coloca mais dinheiro na economia (principalmente via emissão monetária), há uma maior disponibilidade de dinheiro para os consumidores, o que estimula o consumo. Só que, se a produção de bens e serviços não acompanha esse aumento na procura, os preços sobem.

Outro ponto importante é o efeito psicológico. Quando as pessoas percebem que o governo está gastando demais e desequilibrando as contas públicas, crescem as expectativas de inflação. Empresários e consumidores, antecipando a alta dos preços, acabam ajustando suas demandas e preços. O empresário, por exemplo, pode aumentar o preço dos produtos, prevendo que os custos vão subir. Esse aumento, ainda que preventivo, alimenta a inflação.

Por fim, governos que acumulam dívidas elevadas têm de pagar juros altos para atrair investidores. E, quanto mais gastam com esses juros, menos sobra para investimentos que realmente aumentariam a produtividade e estabilizariam a economia. Esse cenário, além de provocar inflação, prejudica o crescimento econômico no longo prazo.

Ajustes

Em Londres, o presidente do Banco Central se mostrou preocupado com a desancoragem da inflação. “A gente tem uma economia que está acelerando, uma mão de obra muito apertada, uma expectativa de inflação que tem desancorado, então o Banco Central iniciou um processo de ajuste para corrigir esse movimento.”

Em setembro, o Banco Central sinalizou o retorno de um ciclo de crescimento da taxa Selic, com aumento de 0,25 ponto percentual, passando para 10,75% ao ano. Foi o primeiro aumento do índice desde agosto de 2022.

“Em termos de inflação, vemos uma convergência. Temos uma inflação de serviços hoje muito alta e uma inflação de bens que tem caído bastante, mas precisamos que a inflação de serviços comece a cair.”

Campos Neto também destacou os benefícios trazidos pelo pix à economia brasileira e comentou a nova parceria entre o pix e o Google, que permitirá aos usuários realizar transferências por meio do Google Pay. “O Pix vai conseguir fazer todas as funções que o cartão de crédito faz hoje, de forma muito mais barata e eficiente.”

A partir da semana que vem, o pagamento com PIX poderá ser feito por aproximação. Ou seja, o cliente poderá pagar sua conta aproximando o celular de uma máquina de cartão.

Nesta semana, passou a funcionar o PIX Agendado Recorrente, nova modalidade do PIX permite que qualquer pessoa agende pagamentos de mesmo valor de forma recorrente, para cair na conta do recebedor sempre no mesmo dia de cada mês.