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Hamas ameaça executar reféns

Norte-americanos podem estar entre os sequestrados pelo Hamas

Soldados de Israel em Sderot, cidade israelense perto da Faixa de Gaza

Um porta-voz do grupo terrorista Hamas ameaçou executar um refém a cada vez que um ataque aéreo israelita atinja moradores de Gaza nas suas casas. "Em resposta a cada ataque sem aviso e casa bombardeada por Israel, o grupo executará um prisioneiro civil", disse Abu Obaida, representante oficial da ala militar do Hamas.

Uma troca de prisioneiros (entre eles mulheres, crianças e idosos) foi descartada por Husam Badran, membro do gabinete político do Hamas no Catar, "enquanto durarem as hostilidades".

Nesta segunda-feira (9) o governo de Israel ordenou um "assédio completo", enquanto rumores apontam para o possível início de uma operação militar terrestre no território palestino.

"Não haverá eletricidade, comida nem combustível. Tudo está fechado", disse o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, após uma reunião no Comando Sul em Bersebá.

"Estamos combatendo animais humanos e nos comportaremos de acordo", acrescentou. Nos Estados Unidos, o jornal Washington Post publicou que o governo americano espera que Israel lance uma operação terrestre contra o Hamas em Gaza nos próximos dias, mas a informação não foi confirmada oficialmente.

"O que o Hamas irá vivenciar será difícil e terrível", prometeu o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, afirmando que "os terroristas do Hamas amarraram, queimaram e executaram crianças".

Netanyahu falou sobre os israelenses e estrangeiros sequestrados. "Nossos corações estão com os reféns, israelenses ou não, judeus ou não. Precisaremos de paciência, mas ao fim será possível entender que o Hamas cometeu um erro terrível ao atacar Israel", disse.

As Forças de Defesa de Israel afirmam ter lançado ataques aéreos massivos contra um bairro costeiro da Cidade de Gaza, visando dezenas de locais que considera bases do Hamas. Dezenas de caças participaram dos ataques.

De acordo com a mídia hebraica, Israel atingiu 1.707 alvos em Gaza desde sábado (7), incluindo 475 sistemas de foguetes, 73 centros de comando, 23 locais de infraestrutura estratégica e 22 alvos subterrâneos.

O Exército de Israel também está atacando postos do Hezbollah no Líbano após a suposta infiltração de militantes do grupo xiita em seu território, segundo a mídia local.

O movimento negou envolvimento em ações armadas contra Israel e disse que só vai agir se for atacado. Horas antes, veículos de imprensa haviam relatado o disparo de foguetes a partir do sul do Líbano.

Como forma de precaução, militares italianos empenhados na missão da ONU em solo libanês (Unifil) procuraram abrigo em bunkers.

A cidade de Ashdod sob ataque do Hamas e a resposta de Israel na Faixa de Gaza
Foto: Mídias sociais | Reprodução

O jornal israelense Jerusalem Post disse nesta segunda-feira, em sua conta no Twitter, que foram encontrados corpos de cerca de '1,5 mil terroristas palestinos' perto da fronteira com Gaza, em território de Israel. 

A nova espiral de violência foi deflagrada no sábado, quando o grupo fundamentalista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque sem precedentes contra Israel.

"Sábado foi, de longe, o pior dia da história de Israel", disse um porta-voz das Forças de Defesa do país (IDF), que comparou a ação do Hamas com o ataque japonês a Pearl Harbor ou aos atentados de 11 de setembro nos EUA.

A instituição de caridade israelense Zaka, formada por judeus ortodoxos, anunciou que foram descobertos 108 corpos de israelenses no kibutz de Be'eri, perto da fronteira oriental com a Faixa de Gaza. As informações foram divulgadas pelo jornal Haaretz.

O Exército israelense jurou de morte Yahua Sinwar, líder do Hamas na Faixa de Gaza e comandante dos ataques deflagrados no sábado. "Ele é um homem morto", disse o porta-voz militar Daniel Hagari.

300 mil reservistas foram convocados em Israel, nas últimas 48 horas.

Destruição e morte na Faixa de Gaza, após ataque aéreo de Israel
Foto: Mídias sociais | Reprodução

Reações internacionais

Na noite desta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou a morte de pelo menos 11 cidadãos norte-americanos, em Israel. "É provável que cidadãos norte-americanos possam estar entre os detidos pelo Hamas", dise Biden.

Dois cidadãos ítalo-israelenses desaparecidos pode ter sido tomados como reféns, segundo o ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani. "São marido e mulher, pensávamos que fossem pai e filho", esclareceu. Viviam no kibutz de Beeri e não atendem as ligações da família. Viviam no kibutz de Beeri e não atendem as ligações da família. 

Em meio à escalada da violência no Oriente Médio, a China condenou ataques contra civis nos dois lados do conflito e afirmou estar "fortemente preocupada" com a situação.

Já os Emirados Árabes Unidos, que pacificaram sua relação com Israel há três anos, cobraram o fim dos atentados do Hamas. Por sua vez, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, definiu os ataques contra Israel como "barbárie".

"O governo expressa sua proximidade e solidariedade ao povo de Israel e às comunidades hebraicas italianas. O terror jamais vencerá", disse a premiê, também por ocasião do 41ª aniversário de um ataque contra a Sinagoga de Roma.

O vice-premiê e ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, afirmou ainda que o país trabalha na criação de um "corredor humanitário" para libertar reféns israelenses em Gaza, sobretudo mulheres, crianças e idosos.

O governo austríaco anunciou nesta segunda-feira (9) a suspensão de seu programa de ajuda ao desenvolvimento nos territórios palestinos.

"Por enquanto, congelaremos todos os pagamentos austríacos da cooperação para o desenvolvimento", no valor de cerca de 19 milhões de euros, informou o ministro das Relações Exteriores da Áustria, Alexander Schallenberg, em entrevista na radio pública Ö1.

Desabamento de edifício nas ruas de Gaza
Foto: Mohammed Hinnawi | ONU

O chefe da diplomacia austríaca explicou que seu país irá, portanto, "examinar e avaliar" todos os projetos que envolvem os territórios palestinos e outras medidas serão decididas "em colaboração com a União Europeia e os parceiros internacionais".

"A escala do terror é tão terrível. É uma revolta tão grande que não podemos voltar à normalidade como se nada tivesse acontecido", acrescentou.

Schallenberg anunciou também a convocação do embaixador iraniano na sede do ministério para protestar contra as "reações abomináveis", tendo em vista que o Irã foi um dos primeiros países a apoiar o ataque massivo e surpresa lançado pelo Hamas no último sábado (7) contra o território israelense.

No último domingo, a ministra de Desenvolvimento da Alemanha, Svenja Schulze, também já havia divulgado que o governo estuda a possibilidade de rever seus compromissos com os palestinos e, por sua vez, lançar outros projetos com Israel na tentativa de melhorar a situação e a segurança na região.

De acordo com a ministra alemã, a ajuda de cerca de 250 milhões de euros era destinada para o financiamento de planos de saúde, saneamento, abastecimento de água, segurança alimentar, além de criação de empregos.

"O governo sempre teve o cuidado de verificar se o dinheiro era usado apenas para fins pacíficos. Mas estes ataques contra Israel marcam uma fratura terrível. Agora iremos rever todo o nosso compromisso com os territórios palestinos", explicou Schulze, enquanto parlamentares conservadores da oposição apelaram pela suspensão do financiamento.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que está “profundamente angustiado” com o anúncio de que Israel iniciará um cerco completo à Faixa de Gaza, com total fechamento, sem eletricidade, alimentos ou combustível.

Falando a jornalistas em Nova Iorque, ele condenou os ataques do Hamas deste sábado contra cidades israelenses. Com a resposta das forças de Israel, o chefe das Nações Unidas reforçou que as operações militares devem estar de acordo com o direito humanitário internacional.

No Brasil, o Partido da Causa Operária (PCO) comemorou a invasão praticada pelo Hamas, considerando o sábado (8) "um dia histórico não só para o povo palestino, mas para todos que querem ver o mundo livre da opressão, da tirania e do terrorismo". E completou: “O Hamas acendeu a chama da resistência contra o estado terrorista e fictício de Israel. Todo apoio ao Hamas! Fim de Israel!”.

Carros destruídos pelo Hamas em festa promovida por brasileiros, próximo à Faixa de Gaza
Foto: Mídias sociais | Reprodução

Avião da FAB aguarda em Roma para resgatar brasileiros

O primeiro dos seis aviões que o governo brasileiro mobilizou para repatriar cidadãos brasileiros que tentam sair da Palestina ou de Israel devido ao conflito iniciado no fim de semana já está em Roma, na Itália.

A aeronave, um Airbus A330-200 convertido em um KC-30 com capacidade para 230 passageiros, pousou na capital italiana às 7h50 (horário local, 2h50 no horário de Brasília) desta segunda-feira (9), após um voo de 9 horas de duração a partir de Natal, de onde o avião decolou na tarde deste domingo (8).

A expectativa da Força Aérea Brasileira (FAB) é que o avião siga da Itália para Tel Aviv, em Israel, até esta terça-feira (10), a fim de embarcar o primeiro grupo de brasileiros dispostos a retornar ao Brasil.

Um segundo KC-30 e dois KC-390, com capacidade para 80 passageiros cada, além de duas aeronaves da Presidência da República, com capacidade para transportar até 40 passageiros cada uma, estão preparadas para participar da repatriação dos brasileiros. Segundo a FAb, o segundo KC-30 parte ainda nesta segunda-feira para Roma.

O Itamaraty estima que ao menos 30 brasileiros vivem na Faixa de Gaza e outros 60 em Ascalão e em localidades na zona de conflito. Já em Israel, a embaixada brasileira já tinha reunido, até este domingo, informações de cerca de 1 mil brasileiros hospedados em Tel Aviv e em Jerusalém interessados em voltar ao Brasil. A maioria é de turistas que estão em Israel.

1,7 mil brasileiros já procuraram a embaixada do Brasil em Tel Aviv em busca de ajuda para deixar Israel.

Em nota divulgada no início da tarde de hoje, o Itamaraty informou que as autoridades israelenses já autorizaram a entrada no país dos aviões que o governo brasileiro mobilizou para resgatar os brasileiros que precisarem de ajuda para deixar Israel.

Os brasileiros candidatos à repatriação serão distribuídos por grupos, em voos que acontecerão em datas que ainda serão definidas. Inicialmente, o Itamaraty vai priorizar o traslado dos residentes no Brasil que ainda não têm passagem aérea para regressar ao país.

Os plantões consulares da Embaixada em Tel Aviv (+972 (54) 803 5858) e do Escritório de Representação em Ramala (+972 (59) 205 5510), com Whatsapp, permanecem em funcionamento para atender brasileiros em situação de emergência. O plantão consular geral do Itamaraty também pode ser contatado por meio do telefone +55 (61) 98260-0610.

O Escritório de Representação em Ramala, na Cisjordânia, segue em contato com os brasileiros na Faixa de Gaza e, tendo em conta a deterioração das condições securitárias na área, está implementando plano de evacuação desses brasileiros da região, em coordenação com a Embaixada do Brasil no Cairo.

O avião da Força Aérea Brasileira decola para Roma
Foto: FAB

Apelo

O governo do Brasil fez nesta segunda-feira (9) um apelo por um cessar-fogo entre Israel e Palestina, após os ataques lançados no sábado (7) pelo grupo radical Hamas.

"Todos deveriam imediatamente interromper a violência e exercer o máximo de autocontenção para evitar que a situação escale ainda mais", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, durante visita a Jacarta, na Indonésia.

"A atual dinâmica entre Israel e Palestina é insustentável, e uma solução é necessária para essa situação, com Israel e Palestina convivendo em paz e segurança e com fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas", reforçou o chanceler após uma reunião com sua homóloga Retno Marsudi.

O ministro lembrou que o Brasil presidiu no domingo (7) uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, para tratar da crise.

"Sob a presidência brasileira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, vamos redobrar os esforços multilaterais para conter a espiral de violência e para desbloquear o processo de paz", ressaltou.