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Morre o diretor José Celso Martinez (criador do Oficina)

Ele teve quase 60% do corpo queimado em incêndio

Foto: YouTube | Reprodução
Zé Celso, criador do Teatro Oficina

Ele tinha 86 anos de idade e teve quase 60% do corpo queimado em incêndio que começou no apartamento em que morava, na zona sul da cidade de São Paulo. 

O diretor foi levado para o Hospital da Clínicas, onde morreu, após desenvolver um quadro de insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos.

O meio político e artístico lamentou a morte do diretor.

O presidente Lula disse que José Celso era "um artista que buscou a inovação e a renovação do teatro". E, para o cantor e compositor Gilberto Gil, Zé Celso (como era chamado) marcou a história do Brasil . "Seu legado será eterno."

Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ex-governador de São Paulo, destacou o tom "irreverente, provocativo" do diretor e sua "enorme capacidade inventiva". 

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, ressaltou que ele era "um dos dramaturgos mais revolucionários e inovadores do Brasil".

Já a atriz Christiane Torloni relembrou os trabalhos que realizou com o dramaturgo Zé Celso Martinez e falou da importância do artista para a retomada do teatro após a ditadura militar no Brasil.

Leona Cavalli, também atriz, se emocionou: “O Zé sempre acreditou na eternidade através da força do teatro", disse.

E o ator Lázaro Ramos destacou os "mais de 60 anos de dedicação a arte, ao teatro questionador, provocador, cheio de improvisos, coragem e a frente do seu tempo".

"Os deuses do teatro estão em festa para te receber, Zé Celso", postou no Twitter a apresentadora Ana Maria Braga.

Antropofágico

Nascido em Araraquara-SP, no dia 30 de março de 1937, Zé Celso, foi diretor, ator, dramaturgo e encenador.

Seu trabalho, encarado às vezes como orgiástico e antropofágico, iniciou-se no fim da década de 1950, e se definiu na década de 1960 quando Zé Celso liderou a importante Teatro Oficina − grupo formado quando integrava o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo − onde apresentava sua inquietude e irreverência, realizando trabalhos de caráter inovador.

Nessa época, destacam-se as encenações de Pequenos Burgueses (1963) − peça que enfoca a Rússia às vésperas de sua Revolução e evidencia numerosos pontos de contato com a realidade nacional anterior ao golpe militar de 1964 −, O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade − espetáculo-manifesto tornado emblema do movimento tropicalista − e Na Selva das Cidades (1969), obra de Bertolt Brecht que trata da profunda crise que atravessava o país e a equipe artística. 

Pequenos Burgueses, embora suspenso em abril de 1964 por autoridades militares que acabavam de tomar o poder, rendeu a José Celso todos os prêmios de melhor direção do ano e as críticas colocaram a produção como a mais perfeita encenação do teatro brasileiro; a apresentação retornou aos palcos no mês seguinte.

Interessado em eventos culturais, artísticos e políticos, Zé Celso atualmente se intercala entre o cinema e o teatro. Trabalhou em Encarnação do Demônio (2007), de José Mojica Marins (lançado em 2008), dirige e atua em inúmeras peças teatrais, ainda comandando o Teatro Oficina, mesmo depois de cinquenta anos − como em Santidade (2007).

Por experimentar formas ousadas de se realizar uma peça teatral, Zé Celso já se viu entre críticas internacionais. Num caso mais recente, sua peça Os Sertões, quando montada em 2005 em Berlim, Alemanha, causou polêmica na capital pelo fato dos atores ficarem nus em determinadas cenas. A imprensa alemã apelidou a montagem de “teatro pornô”.

Desde os anos 2000, luta contra o Grupo Silvio Santos, que busca construir um empreendimento comercial nos arredores do Teatro Oficina, cujos traços originais, projetados pela arquiteta Lina Bo Bardi, interagem com vizinhança ameaçada pela incorporação imobiliária. Embora José afirme que sua relação com Silvio Santos seja boa, a disputa se estende há anos.[8]

Trabalhando − seja dirigindo, adaptando, ou realmente numa colaboração − com nomes que vão de Augusto Boal, Henriette Morineau, Fernanda Montenegro, Sérgio Britto, Raul Cortez, Bete Coelho e Flávio Império a Chico Buarque, William Shakespeare, Nelson Rodrigues, Max Frisch, Bertolt Brecht e Máximo Gorki, Zé Celso construiu um dos mais originais percursos dos palcos brasileiros. Com a realização de Vento Forte Para um Papagaio Subir (2008) − de sua própria autoria e montada primeiramente em 19