O artista plástico Sanagê Cardoso desembarca em Salvador com sua exposição Sanagê Pele e Osso, que ficará exposta no MAB - Museu de Arte da Bahia de 11 de maio a 15 de junho. A mostra, que conta com a curadoria de Carlos Silva, já passou pelo Museu da República em Brasília, MAB - Museu de Arte de Blumenau, Centro Cultural Correio, MAMAM - Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães - em Recife e Espaço Cultural Correio em Niterói é um convite ao público a uma imersão estética e sensorial à questão racial e suas consequências na sociedade contemporânea brasileira e é resultado de mais de quatro anos de pesquisas de materiais e de texturas.
Inicialmente, a linguagem é direta, pois cada uma das telas e o objeto escultórico se referem a alguns dos países africanos de onde saíram e por onde passaram homens, mulheres e crianças capturados e vendidos como escravos para trabalhar em fazendas e minas no Brasil.
Sanagê pesquisa a espuma expandida, material muito utilizado na construção civil para assentar portais e batentes. Usado de forma bruta, cria volumes e texturas. ?Num primeiro momento, há o encantamento com a matéria e suas possibilidades. Este é um dado fundamental para a construção da sua obra, pois é sobre a espuma expandida que se projeta seu exercício de produção contemporânea em arte?, afirma o curador.
Expor na primeira capital brasileira, cidade com a maior população negra fora do continente africano e ainda mais no museu mais antigo da capital baiana, fundado em 1918, é a realização de um sonho para Sanagê. Acredito que trazer essa mostra para a capital baiana será impactante porque todas as verdades da minha obra passam por Salvador, celeiro da nossa história escrava?, afirma o artista, que faz questão de destacar que a mostra é uma busca, de forma tímida, porém consistente, para despertar alguns desses fatos e momentos, trazendo luz a algumas questões que possam motivar a releitura de aspectos históricos importantes sobre o racismo no nosso país e no mundo, considerando que nada é definitivo. Esta exposição é uma fagulha nesta proposta e entendimento da questão?, conclui ele.
Para a diretora do Museu de Arte da Bahia, Ana Liberato, ?a exposição promove uma imersão na diáspora africana provocando importantes questionamentos acerca da desigualdade social que marca o país desde os tempos coloniais. Nada melhor que utilizar a arte para lançar protestos e provocar reflexões?, afirma a museóloga.
Foi a partir da experimentação à textura e cor de peles, ossos, fissuras e ligamentos, que o artista se aproximou de um tema que lhe é muito próximo: a diáspora africana e suas consequências. Se por um lado, o material se mostrou muito interessante para pensar estruturas invisíveis de um ponto de vista externo, por outro lado, nunca foi intenção de Sanagê fazer uma apropriação expressionista e explícita da condição básica da diáspora. Os mapas são regiões de circunscrições de uma experiência.
Nesse lugar da experimentação, ele alcança a conjunção favorável de um trabalho com pé na pintura e um desdobramento imediato em relevo e escultura. As estruturas de espuma são rasgadas, serradas, quebradas e coladas entre elas e sobre a tela.
Telas escultóricas, objeto escultórico e sala de exposição são pintados de branco. Ao optar pela cor que contém e reflete todas as cores, Sanagê conduz o visitante para uma experiência de espaço infinito. ?O branco é a presença diáfana que simboliza uma ausência de limites. Porém, além de uma escolha estética, a cor também é política. Assim como as telas que contêm relevos e texturas que não representam os relevos ou acidentes geográficos dos países africanos, a cor também não ser refere a uma realidade. É uma provocação para a reflexão sobre passado, presente e futuro?, afirma o artista.
Exposição: Sanagê Pele e Osso
MAB - Museu de Arte da Bahia
Datas: 11 de maio a 15 de junho
Horário de funcionamento: Terça a sexta das 13h às 18h. Sábado, domingo e feriados das 13h às 17h
Endereço: Av. Sete de Setembro, 2340, Corredor da Vitória
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