Opinião

ChatGPT não sabe Matemática

A inteligência artificial erra, e não é pouco

O conhecimento humano, sempre quando avança, costuma surpreender. O ChatGPT (sigla inglesa para Chat Generative Pre-trained Transformer, ou transformador pré-treinado de gerador de conversas em bom português) consiste num robô de inteligência artificial (IA) que vem chamando a atenção por suas respostas articuladas e algo detalhadas, embora a precisão de suas informações tenha sido bastante questionada. Foi desenvolvido pela OpenAI, que consiste num laboratório de pesquisa de inteligência artificial americano inaugurado em 2015, tendo Elon Reeve Musk (n. 1971), empresário e empreendedor sul-africano, como um de seus fundadores.

Um exemplo de questionamento foi apresentado pelo matemático inglês Keith James Devlin (n. 1947) nas redes sociais no dia 22 de abril de 2023. Segundo ele, sua filha escreveu a seguinte sentença: “is 300,000 an order of magnitude greater than 30,000” (algo como “300.000 é uma ordem de grandeza superior a 30.000”). E a reposta da inteligência artificial foi: “no, 300,000 is not one order of magnitude greater than 30,000” (“não, 300.000 não é uma ordem de grandeza maior que 30.000”).

Ao se repetir, verificando a mesma sentença em inglês, o resultado não foi diferente. No entanto, ao se escrever em português, a IA acertou (“sim, 300.000 é uma ordem de grandeza maior do que 30.000”).

Uma ordem de grandeza significa uma diferença de magnitude de dez vezes. No caso, ao se dividir 300.000 por 30.000 a razão resulta no valor dez, que significa que 300.000 é dez vezes maior que 30.000.

Cabe ressaltar que este é um erro muito comum em humanos. O que surpreende é um software bastante aprimorado dar repostas diversas, acertando numa língua e errando noutra. Eventualmente, há uma situação básica de programação que deve estar vinculada ao uso de vírgulas. Certamente, este erro será sanado pelos próprios usuários(as).

O que chama a atenção é que tal inteligência artificial erra, e não é pouco. No entanto, consegue ser algo precisa, e em outras oportunidades, bastante sofisticada. Seu aprendizado é refinado pelo uso incessante de um enorme número de usuários(as), que validam positiva ou negativamente suas sentenças, além do uso de um banco de dados fabuloso.

Diferente do que muitos pensam, matemática está longe de ser uma ciência exata. Em linhas gerais, ciência provem de uma antiga latina palavra que significa saber. Já exactus, também do latim, significa algo como perfeito, ou ainda preciso. Isto está em parte vinculado a previsibilidade que a matemática apresentou desde a aurora da humanidade ao prever fenômenos da natureza como eclipses e quetais. No entanto, ainda que exata, a matemática não deixa de ser uma ciência; logo, humana.

Do grego, matemática significa algo como decifrar. Assim, um(a) matemático(a) pode ser considerado(a) um(a) decodificador(a) da natureza. Matemática é tanto invenção quanto descoberta. Tal resposta dúbia se explica pois é necessário separar sua linguagem de sua estrutura. Enquanto linguagem, há muito de invenção. Por exemplo, os diferentes nomes para números como dois ao redor do mundo. Já enquanto estrutura, há descobertas que podem ser vinculadas ao zero, ao uso de frações ou mesmo aos números transfinitos.

A humanidade está sendo testemunha de mais uma importante revolução científica. Máquinas e robôs baseados em inteligência artificial estão errando como seres humanos. O chatGPT, enquanto oráculo da modernidade, não saber muito de matemática básica é algo surpreendente e revelador. Se errar é humano...

Marcio Luis Ferreira Nascimento é Professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química da UFBA e membro associado do Instituto Politécnico da Bahia