Cinema

Ana Marice Ladeia comenta o filme Entre Mulheres

Um filme feito por mulheres, para as mulheres e pelas mulheres

Foto: Divulgação
Entre Mulheres

Minha resenha hoje é sobre o  filme Entre Mulheres, baseado no  livro (Women Talking) escrito por uma mulher (Miriam Toews ), dirigido por uma mulher ( Sarah Polley ), produzido por mais  uma mulher (Frances Mc Dormand  ) que também  participa como atriz, e com a atuação irretocável e emocionante de três excelentes atrizes (Rooney Mara, Claire Foy e Jessie Buckley ). Portanto é um filme feito por mulheres, para as mulheres e pelas mulheres. Certamente, o meu favorito no Oscar.

O livro que deu origem a filme se baseia em fatos reais que ocorreram em uma comunidade da igreja Menonita, em Manitoba- Bolívia, na qual, durante anos, homens dopavam mulheres e meninas para abusarem sexualmente delas, fazendo-as acreditar que eram vítimas de fantasmas e forças do mal.  Eles são descobertos, presos e as mulheres deverão perdoá-los (o perdão é uma das máximas dos menonitas) quando eles voltarem para comunidade, após a fiança ser paga. Esse é o ponto de partida para todo o enredo do filme e também o meu maior “spoller” aqui.

O filme tem uma fotografia escura, figurino escuro, cenários escuros, casando com o obscurantismo que vivem aquelas mulheres que não sabem ler, escrever, nunca viram um mapa, portanto nem sabem onde estão.  Mas sabem pensar e falar, expressando sentimentos, angústias, dores, mágoas e as poucas alegrias que têm. E terão que decidir o próprio destino após a violência dos homens. Nesse ponto, ficam evidentes os aspectos dogmáticos e patriarcais da comunidade que colocam aquelas mulheres como seres submissos e alienados.

O filme é atemporal em todos os sentidos. O tempo parou naquele espaço, a ponto do espectador não saber quando se passa a história. Em um dado momento, a surpresa virá, pois estamos todos no século XXI. 

O filme realmente é Mulheres Falando e Entre Mulheres. Falam de si, falam das outras, falam consigo, com sua dor e com a dor e a raiva da outra. Mas têm a sensibilidade de mostrar que mulheres mesmo discordando, ferindo a outra e se ferindo, jamais perdem o sentimento de sororidade, em cenas que são de uma beleza que tocam profundamente a alma feminina.

Fiquei inundada por dentro e por fora enquanto assistia ao filme. Inundada de lágrimas, de sentimentos contraditórios que vão da revolta à esperança. Do desalento á certeza que nós mulheres sempre encontraremos o caminho de sermos donas dos nossos destinos e protagonizarmos nossas histórias.  E se estamos juntas, melhor ainda.