Confesso que só fui conferir por se tratar de um filme candidato ao Oscar 2023 e por estar sendo exibido no circuito sala de arte, que quase em 100% das vezes não me decepciona.
Mas não decepcionou mesmo!
O que não esperava é que ele tivesse me acompanhado ao longo da semana, como que “cutucando” algo além, uma ferida exposta, embora não falada.
A tristeza me acompanhou tela afora.
Este é o cinema do absurdo, que toca no profundo desconhecido da nossa humanidade.
Tendo como pano de fundo a guerra civil irlandesa, em uma “ilha-paradeiro do nada”, estão os personagens de uma trama nada convencional magistralmente dirigidos por Martin McDonagh e protagonizados por Colin Farrell e Brendan Gleeson.
De uma hora para outra Colm (Gleeson) decide acabar com a amizade entre eles sem nenhuma explicação plausível, o que deixa Pádraic ( Farrel) aturdido. Não bastasse a interrupção abrupta da amizade, Colm, num gesto de desespero ( e desespero aqui é uma palavra assídua nas conversas de Colm em suas confissões), ameaça cortar os dedos caso Pádraic voltasse a lhe dirigir a palavra.
Vale dizer que Colm adora tocar violino e está compondo uma música - Os Banshees de Inisherin - para deixar algo significativo na sua história.
Banshees são como bruxas que preveem a morte e cujo grito é potente o suficiente a ponto de estourar um crânio ( pesquisei na internet!)
A profunda solidão de Pádraic e sua recusa em aceitar o abandono e a enlouquecida determinação de Colm são entremeadas com o som e a fumaça dos canhões, ouvidos e avistados no continente a partir da ilha.
Em uma sucessão crescente de eventos a narrativa nos leva a um extremo de dor, vazio e solidão.
Uma situação em que todos os pontos de referência afetiva são subtraídos, traídos, interrompidos de forma violenta, resumindo a condição humana a uma ilha de ausência e de dor.
E, como cantava Cassia Eller, sem explicação!
De longe o melhor (e pior) filme de guerra que já assisti nos últimos tempos.
Nila Costa é médica e psicoterapeuta