Em triângulo da tristeza o diretor sueco Ruben Östlund já inicia anunciando uma premissa: no topo da pirâmide social está o distanciamento, a tristeza, a sisudez e sobretudo, a solidão.
Inversamente, tudo aquilo que é barato encontra seu lugar na alegria, no sorriso, no “fácil” .
O triângulo da tristeza seria aquela área situada entre os olhos quando franzimos a testa. E é assim que o termo aparece quando o modelo Carl é criticado por franzir excessivamente esta região da sua anatomia.
Carl possui um relacionamento com Yaya, uma modelo e influencer bem mais cotada que ele, extremamente manipuladora que já anuncia seu inexorável destino para a maturidade: ser esposa troféu de algum ricaço.
Mesmo após uma briga muito dura, eles partem em um cruzeiro de alto luxo que ela ganhou de presente de seus seguidores.
O filme segue apresentando os personagens e as formas de estratificação/manipulação das relações de poder entre as classes de maneira bastante lenta e cansativa; a perfeccionista chefe da tripulação que precisa lidar com um comandante alcoolizado, um casal de ingleses que fez fortuna vendendo armas, um homem de meia idade que enriqueceu vendendo sua startup, um senhor deselegante que enriqueceu vendendo dejetos para adubo, um casal gentil cuja esposa teve um derrame e perdeu a fala, e uma russa perversa que sofisticadamente humilha os empregados.
Várias situações “lugar comum” são apresentadas.
Numa delas Carl, despido da cintura pra cima, vai comunicar seu incômodo à chefe da tripulação por um empregado estar sem camisa (porque percebe que Yaya estava apreciando o rapaz), o que gera sua demissão imediata.
Até que num clímax de proporções bastante escatológicas o cenário muda.
É na terceira parte do filme que o diretor prova seu point of view: as relações sociais são necessariamente relações de poder.
E onde há relação de poder não cabe o amor.
O filme está sendo exibido nos cinemas da cidade e na Amazon Prime. Foi indicado ao Oscar 2023 nas categorias melhor filme, melhor direção e melhor roteiro original.