Um estudo realizado em sete estados do Brasil, sendo cinco da região Nordeste, mostra que em mais de 75% dos casos, os agressores das vítimas de feminicídio são cônjuges, namorados ou ex.
Os dados coletados pela Agência Tatu são da Rede de Observatórios da Segurança, que realizou um monitoramento diário de casos de violência contra a mulher nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro, durante o último ano.
De acordo com Elaine Pimentel, professora da Faculdade de Direito de Alagoas, pesquisadora de Ciências Criminais com ênfase em estudos de gênero e coordenadora do Grupo de pesquisa CARMIM Feminismo Jurídico, os números refletem uma triste realidade que acompanha a história das mulheres.
“Esse é um padrão cultural de relacionamento. E é justamente um dos itens da qualificadora do feminicídio, que é a violência letal no contexto das relações domésticas.(...) Então isso reproduz um padrão de relacionamento abusivo e opressor, que identifica a mulher como objeto de desejo na relação, e não como sujeito de um relacionamento de igual para igual.”, relata Elaine Pimentel, que também é doutora em Sociologia.
Quando se trata das principais motivações de feminicídio, brigas (21,74%) e término de relacionamento (14,62%) são as que mais se destacam, após motivos não identificados (38,54%) pelo estudo.
Violência contra a mulher
O estudo também apresentou dados gerais de casos de violência contra a mulher, em que as qualificadoras tentativa de feminicídio e agressão física aparecem juntas com o maior número: 987 casos em 2022, somente nos sete estados monitorados.
Em seguida, foram registrados 495 casos de feminicídio, 415 casos de homicídio, 282 casos de violência sexual ou estupro, 216 casos de agressão verbal ou ameaça, e ainda, 145 casos de tortura, cárcere privado ou sequestro.
Mudar a realidade que faz ser comum existirem tantos casos de violência contra a mulher é algo difícil e que demanda tempo, principalmente porque é necessário educar a sociedade desde a infância, conforme explica a professora.
“É preciso falar sobre esses temas em todos os espaços, desde as crianças muito pequenas, e ensinar o respeito, porque a gente não muda o feminicídio da noite para o dia, a gente muda isso construindo uma nova cultura de respeito e informando as mulheres. Na maior parte dos casos o feminicídio não é a primeira ação, é o resultado de um conjunto de ações opressoras e violentas dentro de relacionamentos ou de estruturas sociais patriarcais. (...) Portanto, fortalecer essa rede de informações e de acolhimento a mulheres em situação de violência é fundamental”, relata Elaine Pimentel.