Pedro Oliveira

O couro é ouro para quem vive em Tracupá

Como manda a tradição as famílias trabalham em casa

“Tracupá – a Terra do Couro”, o visto tope elevado, colocado ao lado direito da BR-116 Norte, há 18 km da sede do município de Tucano, a 250 km de Salvador, não se trata de uma jogada de marketing para atrair visitantes, mas espelha uma realidade indiscutível de uma comunidade operosa que faz do couro seu cotidiano. Uma tradição de cerca de um século, desde que antigos moradores começaram a produzir bainhas de fações, chapéus, cintos de couro de boi e outros objetos, ainda de forma bastante rustica. A evolução veio com o tempo e naturalmente o trabalho restritamente artesanal foi alcançado pelo maquinário da industrialização.

Hoje ainda há bons artesões, mas a necessidade de atender a grande demanda, obriga-hoje, a ceder face a modernidade das maquinas. De todo modo, Tracupá tem sua forma própria de viver, e pode dizer que praticamente 95% de seus habitantes estão ligados a produção de objetos de couro. Exatamente por isso, o visitante é surpreendido: não se ver pessoas circulando nas ruas, nem mesmo crianças. Somente em época de férias escolares e mesmo assim raramente.

Como manda a tradição as famílias trabalham em casa, nas chamadas tendas e muitas crianças de forma voluntaria, dão os primeiros passos, quando não estão na sala de aula, observando os adultos no manuseio do couro. Hoje graça a essa atividade a comunidade com população estimada em mais de 5 mil pessoas, tem aspecto próximo com ruas pavimentadas, duas escolas do ensino básico, creche, posto de saúde e, mostrando força e prestigio político, está representada no legislativo municipal, por dois vereadores.

As espaças casas de antigamente, hoje, numerosas e bem aliadas, coexistem ao lado de outras de aspecto moderno e atrativo: são as lojas onde o visitante pode encontrar por preços considerados convidativos:  bolsas femininas e masculinas, jaquetas, mochilas, cintos, sacolas, carteiras, chaveiros e vários outros objetos. Nitzy Couro, Infiniti Niti, Kouro Magazine, Tracupá Couro, Santana Couros, Vallentine Couro, Sara Couro, BrasNi Couro, são algumas das lojas existentes. Hoje a maioria das peças são feitas em couro industrializada adquirida em outras regiões, sendo bem menor o uso do couro curtido e oriundo da localidade de Pedra Grande.

Segundo Adriano Ferreira, diretor comercial da Cooperativa de Produtores e Artefatos de Couro da comunidade de Tracupá – Coopact, a atividade coureira envolve mais de 3 mil pessoas que trabalham nas tendas daí em mais de 15 lojas, com vendas no varejo e distribuição para outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Espirito Santo, além de bom volume comercializado em Salvador e outros municípios baianos.

Devido a qualidade refinada dos artigos, muitos são fabricados diretamente para renomadas grifes. Jaquetas de qualidade de até R$ 800,00, bolsa feminina de R$ 80,00 a R$ 500,00, mochilas grandes de R$ 450,00, são muito procuradas, mas as carteiras cédulas e cintos, são as peças que saem em maior quantidade e tem maior volume de produção, relata Tarcísio Conceição da Nitzy Couros. Com 75 anos, José Francisco Evangelista, um dos mais antigos artesões em plena atividade, enfatiza que aprendeu a profissão com o pai Sérgio Boa Evangelista “ele fazia capas de fação e faças com couro curtido”.  

Renata Pimentel de Moura, secretária da Coopact, destaca a grande presença de turistas em Tracupá notadamente em momentos especiais como nas férias, durante o carnaval e nos festejos de São João e São Pedro no mês de junho, quando é realizada a conhecida Feira do Couro, que durante três dias reúne grande público. Assim já é sentida a necessidade da instalação de uma pousada ou um estabelecimento similar que nesses dias, principalmente, possa atender a demanda. “Há dias que é recebido até 10 ônibus de turistas”, garante Renta. Acrescenta Adriano Ferreira que praticando o artesanato de couro a população tem bom nível de vida, com renda mensal superior ao salário mínimo e a garantia de um clima de segurança e tranquilidade que permeia a comunidade.