A indústria da moda é a segunda mais poluidora do mundo. Perde apenas para a produção de petróleo. Nas fases de extração e produção dos materiais utilizados por ela, são emitidas grandes quantidades de gases de efeito estufa, além de resíduos tóxicos provenientes do processo de tinturaria.
Preocupada com os problemas ambientais, processos de produção sustentáveis e a progressiva falta de recursos não-renováveis, a artista e designer Iane Cabral – idealizadora do Setor W, um laboratório experimental de pesquisa em tecnologias vestíveis – lança, no dia 22 de setembro, a loja virtual PLASMA www.plasmaproject.com.br.
Trata-se de uma marca de moda híbrida que une tecnologia sensorial e artesanal, usando materiais vivos – bactérias e leveduras encontradas na Kombucha. Desta forma, Iane reinterpreta técnicas de gastronomia e biotecnologia sob a perspectiva de um design sustentável, pensando em uma prática universal. É uma proposta de reorientação do design da moda atual, que atua de forma predatória e extrativista.
“Através desta mudança, visto que a moda é uma expressão cultural e artística legítima, direcionamos uma compreensão mais profunda dos complexos sistemas interconectados em que vivemos e compartilhamos”, observa ela. “Isso nos encoraja a aderir a transformações de hábitos e atitudes que estreitam a nossa relação com a natureza de forma regenerativa e, assim, neutralizar impactos.”
Contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020, o projeto nasce no Rio de Janeiro sob um cenário nem distópico, nem utópico, mas antropoceno, ou seja, em uma nova época geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra. Surge em paralelo à modernidade urbano-industrial.
Coleção de lançamento
Nomeada UV Selfcare, a coleção de lançamento da marca foi inspirada nos efeitos da radiação solar. Tem como produtos iniciais o biochapéu Bucket e a UV Bag, uma bolsa inteligente. O primeiro é confeccionado em couro biodegradável com kombucha, proteção dos raios solares e etiqueta feita por gravação a laser no couro.
A UV Bag é criada em crochê com fio jeans reciclado, misturado a um circuito eletrônico composto por microcontrolador, acionamento on/off por abotoamento, sensor de radiação Ultravioleta e alto-falante, que identifica a incidência solar. O aviso vem em bipes, indicando se o sol está “ok, tenso ou ruim” e quais cuidados tomar – uma convergência entre ciência, moda, arte, biologia e tecnologia. A logo da peça é produzida por impressão 3D com material biodegradável.
“É a primeira vez no país que material com kombucha é utilizado em um acessório e que uma bolsa ganha tecnologia UV, neste formato que propusemos”, explica Iane. Pela percepção de técnicas próximas ao dia a dia, usando a cozinha como laboratório, de acordo com ela, foram projetadas maneiras inovadoras de criação com biologia.
“A escolha da celulose bacteriana é fruto da busca por novos materiais resistentes, baratos e que possam substituir os derivados de petróleo de origem animal”, diz. “Suas características principais, como biodegradabilidade, proteção UVA e UVB, condutividade elétrica e mecânica, são essenciais para o contexto narrativo e tecnológico da PLASMA.”
Ainda, um dos propósitos do projeto é estender o banco de materiais e suas possibilidades de aplicações para que novos produtores, designers, artistas, estilistas, e entusiastas em novas tecnologias repensem seu modo de criação e produção de acordo com formas de coexistência sadia entre todos os seres vivos. A ideia é deslocar a visão para um design cultivado e encorpado como crítica à atuação predatória e extrativista.
Modo de preparo
A preparação do tecido é simples: se resume em fazer um chá e fermentá-lo. Depois de curtido, em sua superfície forma-se uma celulose bacteriana ou biotecido. O tempo necessário para a produção depende do objetivo do designer e da finalidade do tecido. Um biotecido com espessura em milímetros, por exemplo, requer um tempo curto. Porém, para uma aparência semelhante ao do couro e com uma gramatura maior, é necessário aguardar pelo menos de duas a três semanas.
A coloração da peça é criada com corantes naturais conforme a sazonalidade de produtos orgânicos da cidade do Rio de Janeiro. No final, como método de conservação, a superfície do biotecido é pincelada com óleos de jojoba e linhaça, a fim de combater e prevenir a proliferação de fungos.
lane Cabral é idealizadora do Setor W, um laboratório experimental de pesquisa em tecnologias vestíveis. Diretora criativa e artista, foi nomeada pela Regenerative Futures, Gucci Equilibrium e Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das jovens que estão construindo futuros regenerativos. Também, foi contemplada pela Dassault Systemes (Solidworks) com uma bolsa de estudos na Fabricademy.
Já participou e realizou performances, publicações, residências, hackathon´s, oficinas e exposições em diversos museus e festivais nacionais e internacionais, como o METABODY INTERFACE 4.0, no Chile; 14art – International Meeting of Art and Technology, em Portugal; CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil, no Distrito Federal; e Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 75,8 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas 1,5 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.
Na última edição, de 2019-2020, os 11.246 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 23 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 90 projetos.
PLASMA Project
Dia 22 de setembro (quinta-feira)
Loja: www.plasmaproject.com.br
IG: @plasmaproject