Parede com parede. “Só dou bom dia no elevador e pronto”. “Vizinho é bom ele lá e eu cá”. “Intimidade com vizinho não dá certo".
Outro dia um entrou lá em casa e foi logo dizendo: Que sofá bonito! Quanto foi?”
Briga de vizinhos sempre parece interminável.
O inesquecível jornalista Walmir Palma, mistura de repórter policial, poeta e filósofo, contava que na década de 50 havia um delegado em Salvador que resolvia assim toda briga de vizinhos: mandava o jipão da Polícia ir lá e prender os dois. “Doutor, por que não ouve as partes, manda logo prender os dois?” “Porque ambos querem ter razão. Então, mando prender os dois, dormem no xadrez e mando deixá-los em casa às 5 da manhã. Entra todo mundo pianinho em casa. Se eu prender um só, o outro vai ficar na rua cantando de galo: Tá vendo que eu tinha razão? Ele ficou lá preso”.
Antigamente também os muros entre as casas eram baixos e durante uma briga com o vizinho dava pra arremessar um “pombo” (cocô enrolado no jornal) no quintal do outro. Aí virava uma guerra de “pombos”, onde vencia quem tinha mais munição.
Era o próprio jornalista Walmir Palma quem vaticinava: “Briga de vizinho só termina quando um mata o outro ou quando um dos dois se muda”.
Eu tinha um amigo que morava num conjunto habitacional de Salvador. Como o local era muito quente, as pessoas costumavam ficar com a porta do apartamento aberta. Um morador, cheio de pudor, passou e viu o casal no sofá, a mulher no colo do marido, e foi se queixar ao síndico, que preparou um abaixo-assinado em defesa da moral e dos bons costumes. Meu amigo recebeu o síndico, leu o abaixo-assinado e perguntou:
--- Eles estavam nus?
-- Não, mas ela estava de short sentada no colo dele, com a porta aberta.
-- E ele estava nu?
-- Não, estava de bermuda.
-- Mas, então, onde está a putaria? – perguntou meu amigo que se recusou a assinar o protesto.
Há vizinho que adora pedir coisa. Havia uma amiga cuja vizinha, uma vez por semana, pedia um pouco de café, “porque o de lá de casa acabou agora”. Parece que ela já sentia o cheiro do café por volta das 18 horas e já ia com a garrafa térmica em punho. Um belo dia minha amiga a recebeu e disse logo: “Que coincidência, o meu café também acabou de acabar”. Nunca mais ela bateu na porta.
Dizem que os vizinhos pobres se dão melhor do que os de classe média ou ricos. É verdade. O pobre divide com o vizinho um pedaço de bolo, um pouco de açúcar e até o cuidado com as crianças. Classe média e ricos é só bom dia e boa tarde no elevador, quando não tem jeito de ficar calado.
Quem teve sorte foi Dorival Caymmi, que viu a vizinha passar “com seu vestido grená: ela mexe com as cadeiras pra cá/ ela mexe com as cadeiras pra lá/ ela mexe com o juízo/ do homem que vai trabalhar” (música “A Vizinha do Lado”, do próprio Caymmi).
Tive uma vizinha que não tinha vestido grená, mas tocava piano com muita suavidade. Era um prazer ouvi-la. Hoje tenho um vizinho de prédio que toca flauta. Cada música linda, alguns chorinhos, quase sempre no final da tarde. Flauta combina com o entardecer.
Minha mãe Cleonice teve uma vizinha, já idosa, que descobriu que o marido arranjou uma namorada chamada Indaiá. E era só ver na rua o caminhão da água mineral do mesmo nome que ela voltava pra casa passando mal: “Cleonice, vi de novo hoje o caminhão com o nome daquela safada. Outro dia o caminhão tava parado aqui na porta do prédio, parece uma perseguição”.