Chico Ribeiro Neto

Histórias para contar no cemitério


Foto: KoolShooters | Pexels/Creative Commons

Sempre achei que o maior desafio para um publicitário é criar um anúncio para vender túmulos . Uma vez recebi uma ligação. Tinham uma proposta de um jazigo para mim. Sapo cururu três vezes, bati logo na madeira. Vender jazigo é pior do que vender terreno na lua.

Há anúncios que são terríveis:

“O custo de uma cremação pode surpreendê-lo”.

“Planeje sua tranquilidade!”

“Qual minuto de sua vida você eternizaria?”

“Nossos clientes nunca voltam para reclamar”.

“Fica frio que a gente cuida de tudo”.

..:: ::..

O que dá pra chorar dá pra rir. Quem é que não conhece um caso engraçado de cemitério? O tio de um amigo, fotografando um sepultamento em São Paulo, foi dando de costas, dando de costas e, PIMBA, caiu dentro da cova e foi retirado pelos coveiros.

Conheço uma pessoa que se dirigiu à viúva e, nervoso sem ter o que dizer, acabou dizendo “parabéns” ao abraçá-la.

..:: ::..

E as lápides? Uma dizia: “Não repassou corrente para 10 pessoas”.

Veja agora as frases de algumas lápides de gente famosa:

-- Frank Sinatra: “O melhor ainda está por vir”.

-- Mel Blanc: “Isso é tudo pessoal”.

-- Billy Wilder: “Eu sou um escritor, mas ninguém é perfeito”.

O famoso comediante Leslie Nielsen, falecido em 2010 em Los Angeles, “queria em seu epitáfio, escolhido um ano antes de sua morte, que aparecesse “um peido grande e alto”. Gravado em letras de ouro na lápide, em vez da clássica RIP (descanse em paz), escolheu “Let ‘er rip”, uma piada póstuma escrita em gíria difícil de traduzir. Na verdade, trata-se de um trocadilho com a sigla RIP e “let ‘it rip” (solto um peido)” - (Fonte: Antena Paranóica, novomundonovo.wordpress.com).

..:: ::..

Isso me lembra que na minha turma de rua, adolescente na Ladeira dos Aflitos, em Salvador, a gente costumava cantar uma paródia: “Quando eu morrer vou de bunda para o ar
Soltando peido para quem me acompanhar
Quando eu morrer quero uma cova bem funda
Pra quem passar não pisar na minha bunda”.

..:: ::..

Enterro alegre era no interior. Lembro o velório do meu avô Chico Ribeiro, na Igreja Matriz de Ipiaú, e o povo na frente da igreja contando piadas e tomando cerveja. Nas roças sempre rolam cachaça e muita comida. São velórios animados.

..:: ::..

Sempre admirei a alegria contagiante do Dia de los muertos (Dia dos Mortos) no México, uma celebração de origem indígena nos dias 1 e 2 de novembro, quando, segundo a crença popular, as almas são autorizadas a visitar os parentes e amigos vivos. Por isso, as pessoas enfeitam as casas com flores, velas e incensos e preparam as comidas preferidas dos que já partiram. É uma animada festa com muita música, danças e doces. Os preferidos das crianças são as caveirinhas de açúcar e os esqueletos de chocolate.

..:: ::..

Teve um grande empresário brasileiro que pediu para colocarem no caixão dele 16 celulares do último modelo. Vai que morre mas não morre, dá aquele negócio chamado catalepsia, e ele precisa falar com alguém... O problema é ligar lá debaixo e ouvir: “Por favor, deixe seu recado”.

..:: ::..

Bem fez o meu irmão Cleomar Ribeiro Brandi, falecido em 2011, em Aracaju. Ele deixou 200 reais no Bar do Camilo para os amigos tomarem uma, acompanhando-o na “Última Saideira”, titulo da crônica que deixou para ser distribuída no sepultamento, cujo final dizia: “Um dia, o velho barril de carvalho pinga sua última gota de conhaque. E o poeta se despede de tudo, sem tristezas nem vexames. Apenas sabendo que cumpriu seu papel com dignidade, com honestidade e com um brilho de criança nos olhos. Quem sabe, eu encontre o amarelo dos girassóis nesse novo caminho? PS: Os amigos estão convidados para a última saideira no Bar do Camilo, assim que terminar o sepultamento. Já está pago”.

..:: ::..

Um velho jornalista baiano não assinava em nenhum Livro de Presença nos cemitérios. Uma vez, estava num velório quando o funcionário do cemitério lhe ofereceu o livro para assinar. Quando ele se recusou, o funcionário então perguntou:

- Por que o senhor não quer assinar no Livro de Presença?

- Porque é por aí que Ele (apontou para o céu) faz a chamada.