Chico Ribeiro Neto

Uma tamancada no morcego

Seu Zé era um aposentado tranquilo. Morava no interior da Bahia, numa casa cujo fundo dava para o Rio de Contas e ali construiu uma varanda e instalou uma rede, onde sempre tirava uma boa soneca à tarde.

Dona Maria, sua mulher, preparou uma feijoada daquele jeito que Zé gostava, e ainda tinha uma pimentinha para acompanhar. Seu Zé tomou uma "purinha" escondido no velho armazém e uma cerveja em casa ("só uma, viu?"), com autorização da mulher.

Quando acabou de comer já era mais de duas horas, o feijão "bateu na fraqueza". Seu Zé partiu pra rede abrindo a boca. Deitou com aquele seu short bem folgado que gostava de usar sem cueca, pra ficar tudo solto e refrescando.

Ele pegou no sono logo e, minutos depois, numa das viradas na rede, o saco de Seu Zé projetou-se para fora. Como a rede de algodão era de gomos largos e toda esburacada, o saco ficou pendurado. Fez lembrar a quadrinha: "Tô ficando velho/Tô ficando fraco/Encolhendo a binga/ Espichando o saco".

Já era quase seis horas da tarde, hora em que esses morcegos começam a atentar a gente, e dona Maria já tinha na varanda um espanador comprido para espantá-los. Ela chegou na varanda e, sem óculos e no lusco-fusco, enxergou um morcego no que eram os quimbas do velho, aquela coisa cinzenta e enrugada.

"Olha, ali na rede tem um morcego e o perigo é morder Zé. O miserável chega tá encolhido". Ela não pensou duas vezes. Tirou o par de tamancos de madeira, colocou um em cada mão, aproximou-se da rede pé ante pé e PÔ! Seu Zé foi parar dentro do Rio de Contas.