Ser mãe é padecer no paraíso... e no cinema também. O senso comum diz que ser mãe é a tarefa mais maravilhosa do mundo. É amor incondicional. E porque será que os filmes adoram apresentar as progenitoras comendo o pão que o diabo amassou?
Fazendo uma busca mental bem rápida, quando penso em paternidade em um filme, me vem logo à mente uma história de redenção, onde o cara passa por uma transformação interna e descobre a mágica função que é ser um pai de verdade e termina o filme conquistando o amor dos filhos... Lindo, né?
E mãe, eu penso numa guerreira criando uma penca de menino sozinha, contra tudo e contra todos, tanto que ela nem tem tempo de pensar em sagas edificantes de auto ajuda. E aí? Será que estou certo ou estou de implicância? Ok, estou de implicância..., mas vamos explorar um pouco mais o conceito, lembrando de algumas produções com essa temática.
Alguém já viu um pai ser elogiado pela habilidade em trocar fraldas? E por saber todas as tarefas da escola do filho? “Nossa, que pai participativo”, diriam. E mãe? Alguém já elogiou mãe por saber fazer as atividades básicas dos rebentos? Não, né? E se ela “vacilar” em alguma coisa?
Acredito que alguns dedos serão apontados mostrando os erros e não os acertos dessa mãe. Essa reflexão toda me veio quando assisti à “A Filha Perdida” (Disponível na Netflix), um filmaço do tipo “soco no estomago” que discute o papel de uma mulher que decidiu seguir seus sonhos pessoais em detrimento do papel pré-estabelecido da maternidade, e vai conviver com os julgamentos alheios (e próprio) durante toda a vida. Um sofrimento que pode custar-lhe a saúde mental.
Outro exemplo interessante sobre a diferença entre as jornadas de pai e mãe num filme é “Boyhood” (Disponível no Star Plus), que é basicamente um filme sobre a vida, maturidade e crescimento.
Aqui fica clara a diferença dos papéis na visão do diretor: O pai (Ethan Hawke, ótimo) passa a vida buscando se encontrar e amadurecendo ao longo tempo, tentando se definir como homem adulto e depois ter o que entregar aos filhos.
Já a mãe (Patrícia Arquette, atuação digna de Oscar, literalmente) primeiro resolve as necessidades básicas e emocionais dos filhos para depois ver o que vai fazer com a própria vida, e aqui vale a observação que ela precisou lutar muito para ter uma identidade além da maternidade e, ainda assim, quando chega a hora do “ninho vazio”, ela não está pronta.
Em “Cercas – Um limite entre nós” (Disponível no Prime Vídeo), Viola Davis (aquela mesma, que quando entra num ambiente todos se ajoelham para ela passar, tamanho o poder) interpreta uma mãe e esposa que segura como uma rocha todas os infortúnios que a vida lhe jogou, mas não como uma vítima, e sim uma guerreira, que abraça com verdade as escolhas, sacrifícios e sofrimentos subsequentes. Nesse filme, ela trava com Denzel Washington (que também dirige o filme) alguns dos diálogos mais fortes e intensos que já vi na tela.
Para completar os exemplos desse sofrimento todo, vale lembrar de “Olga”, “Zuzu Angel” (Disponíveis no Globoplay), “Que Horas Ela Volta?” (Netflix), “O Quarto de Jack” (Prime Vídeo) ... E já que o assunto é “sofrência”, não posso deixar de citar aquela que faz isso com maestria: Meryl Streep, que viveu esse calvário materno em dois momentos. “A Escolha de Sofia” (Disponível no Prime Vídeo), esse só de lembrar da cena da escolha, dá calafrios. E também em “As Pontes de Madison” (Disponível no HBO Max), onde a decisão entre ser feliz plenamente e ser mãe de família é colocada na sua frente.
Todos os filmes que citei aqui são produções excelentes, apesar da temática pesada e ingrata para as mães. Mas, para dizer que não falei de flores, nem tudo é sofrimento. Que tal terminar num tom mais leve? Trazendo a mãe de “Forrest Gump” (Disponível na Netflix e HBO MAX), amorosa e que prepara o filho especial para o mundo, fazendo ele enxergar nele mesmo toda a beleza que só ela consegue, trazendo para o filho, visto por quase todos como “estranho”, todas as oportunidades que o mundo pode oferecer.
Então, que na vida e na ficção, as mães sejam valorizadas e reconhecidas pelo “conjunto da obra”. Não somente por imensos sacrifícios e grandes dilemas, mas sim pelo amor de todo dia, pelo carinho, pelos exemplos... desde um olhar doce até um ombro amigo para compartilhar alegrias e tristezas. Feliz Dia das Mães.