Pais, mães e avós costumam ficar atentos aos marcos do desenvolvimento neuropsicomotor de bebês e crianças na primeira infância, tais como engatinhar, andar, falar e … desfraldar. Quando consideram que chegou a hora de trocar a fralda por cuecas ou calcinhas, um processo importante é iniciado.
Como não deve ser forçada nem imposta, essa transição precisa respeitar o tempo de cada criança.
Alguns sinais podem indicar que ela está preparada enquanto determinadas atitudes dos cuidadores podem ajudá-la nessa evolução.
O auxílio dos adultos durante todo o processo, que costuma ser iniciado a partir dos dois anos de idade, é fundamental, mas é preciso entender que a criança precisa estar preparada fisiológica e psicologicamente para esse momento tão importante.
Segundo o urologista geral e pediátrico Leonardo Calazans, alguns sinais que indicam se ela está pronta são o controle dos esfíncteres (estruturas responsáveis pelo controle da eliminação do xixi e do cocô) e o incômodo com a fralda suja.
“Fraldas limpas por um bom tempo podem indicar que a criança está conseguindo controlar os esfíncteres. Urinar ou defecar de uma só vez, e não de pouco em pouco, é um sinal positivo. Se a criança já avisa que fez xixi ou cocô, ou melhor ainda, que está fazendo ou com vontade de fazer, torna-se fácil perceber que o desfralde está acontecendo no momento certo”, afirmou o especialista, que acompanhou de perto este processo também como pai de dois filhos.
Como a família pode ajudar
Quando a criança vê o papai e a mamãe usando o vaso sanitário, a tendência é que ela imite essa ação. Além do exemplo, existem outras formas de estímulo. O ideal é começar com o desfralde diurno quando, em casa, ela pode ficar sem a fralda descartável e ser convidada pelos adultos cuidadores a, de tempos em tempos, ir ao banheiro.
A criança deve ser incentivada a avisar sobre sua vontade antes de urinar ou evacuar, mas este estímulo não pode ser exagerado nem ansioso.
“O processo deve ser feito com paciência de forma a não inibir nem constranger a criança quando ela não conseguir segurar xixi ou cocô na cueca ou calcinha, como o adulto espera que ela faça”, frisou Calazans, atual coordenador dos serviços de Urologia Pediátrica do Hospital Estadual da Criança (Feira de Santana) e diretor do núcleo de urologia do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica (IBCR). “Quando os pais forçam a barra, a criança pode reter a urina, uma das causas de infecção urinária, além de deixá-la desanimada”, completou.
Desfralde noturno - Recomenda-se consolidar minimamente o desfralde diurno antes de passar para o noturno. O xixi na cama, que geralmente acontece neste processo, não deve causar conflitos, mas deve ser encarado como parte natural do processo. Para evitar o problema, o consumo de líquido perto da hora de dormir deve ser evitado. Além disso, é importante que, antes de dormir, a criança esvazie a bexiga.
“Sabemos que trocar lençol e roupas, higienizar o colchão e colocá-lo em exposição solar com frequência podem desestimular a família e a criança, mas se ao invés de reprimir, a família conversa com ela, as chances de sucesso nas próximas tentativas aumenta”, recomenda Leonardo Calazans, coordenador do serviço de Urologia do Hospital Santo Amaro e integrante do corpo clínico dos Hospitais da Bahia, Aliança, Português e Santa Izabel, em Salvador.
Se após os cinco anos, a criança continua usando fralda, é importante levá-la a um urologista pediátrico para avaliação. A enurese noturna, que nada mais é do que o famoso xixi na cama após esta idade, é um dos principais obstáculos para o desfralde infantil. O problema está relacionado a fatores hereditários, dificuldade para acordar e poliúria (eliminação de grande volume de urina num dado período).
O tratamento da enurese geralmente é feito através da mudança de comportamentos, mas há casos em que o tratamento medicamentoso pode ser também indicado. “Além de incentivar a criança a dar pausas regulares em suas atividades habituais para ir ao banheiro, o adulto cuidador deve lembrá-la de beber água com frequência. Os dois estímulos são importantes para prevenir infecções e promover saúde”, finalizou Leonardo Calazans.