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Rússia inicia ataque à Ucrânia

O Ministério da Defesa russo garante ter destruído a capacidade de defesa antiaérea da Ucrânia

Milhares de pessoas tentam escapar de Kiev depois do ataque russo

A Rússia atacou a Ucrânia nesta quinta-feira, 24, com mais de 30 bombardeios contra alvos militares em Kiev, Kharkiv e outras cidades no centro e no leste depois de o presidente Vladimir Putin ter autorizado uma operação militar nos enclaves separatistas do leste do país, segundo o ministério da Defesa da Rússia.

Foram utilizados mísseis Caliber, sistemas de foguetes de lançamento múltiplo, aviação e artilharia.

Uma segunda onda de mísseis caiu sobre a Ucrânia, de acordo com um assessor próximo do presidente Volodmir Zelenski. Um correspondente da agência de notícias Reuters ouviu uma série de explosões em Kiev às 12h no país (cerca de 7h de Brasília). Um dirigente do Ministério do Interior da Ucrânia disse que centros de comando em diversas cidades, inclusive Kiev, foram alvos de ataques por mísseis. 

De acordo com dirigentes do governo da Ucrânia, a primeira onda de bombas começou pouco depois do anúncio feito pelo presidente Vladimir Putin de que seria iniciada uma operação militar. Uma testemunha disse à agência Reuters que há uma fumaça preta saindo do prédio da sede do serviço de inteligência do Ministério da Defesa. 

Foram registradas explosões ainda nas cidades portuárias de Kiev e Mariupol. No começo da manhã, no horário local, sirenes antiaéreas soaram nas cidades de Kiev e Lviv, numa cena rara na Europa desde o fim da 2ª Guerra.

Na cidade de Chuguiv, no leste da Ucrânia, uma cratera com cerca de quatro a cinco metros de largura, foi escavada por mísseis na terra entre dois prédios de apartamentos de cinco andares devastados. Vários outros prédios na rua ficaram seriamente danificados, com suas janelas quebradas e batentes de porta pendurados no ar gelado da manhã.


Mísseis Caliber, usados pela Rússia no ataque à Ucrânia

O Ministério da Defesa russo garante ter destruído a capacidade de defesa antiaérea da Ucrânia, bem como parte de seus jatos na operação e negou que seus militares estivessem realizando ataques contra cidades ucranianas. "Armas de alta precisão estão tornando inoperantes a infraestrutura militar do Exército ucraniano, sistemas de defesa aérea, pistas e jatos das forças aéreas", disse a pasta.

O assessor do ministro de Assuntos Internos, Anton Gerashchenko, disse que as defesas ucranianas derrubaram 5 caças russos e 3 helicópteros perto do aeroporto Hostomel durante os bombardeios, o que Moscou nega.

Segundo o comandante-chefe das forças armadas ucranianas, o general Valery Zaluzhni, a ordem do presidente Volodmir Zelenski era a de infligir o máximo de baixas aos militares russos que invadirem o país. Sirenes soaram em Kiev e Lviv para alertar a população dos ataques, e muitos se refugiaram em bunkers em estações de metrô.

O ministro da Defesa ucarniano Oleksii Reznikov afirmou que quem estiver preparado e apto para "segurar uma arma" pode se juntar às forças de defesa territorial. Além disso, a polícia disse que vai distribuir armas para veteranos. 

A Estônia enviou um carregamento de armas letais para socorrer Kiev. São sistemas de mísseis antitanque Javelin, disse o Ministério da Defesa da Estônia. "Este é um pequeno passo da Estônia no apoio à Ucrânia, mas é uma contribuição real e tangível para a defesa contra a agressão russa", disse o tenente-general Martin Herem, comandante das Forças de Defesa da Estônia. 


Sistema de mísseis antitanque, enviados pela Estônia

Autoridades ucranianas dizem que tropas russas desembarcaram em Odessa e na Crimeia enquanto outras estão cruzando a fronteira para Kharkiv. O serviço de emergência estatal da Ucrânia diz que ataques foram lançados contra 10 regiões ucranianas, principalmente no leste e sul do país. Pelo menos sete ataques aéreos "poderosos" no aeroporto Vasilkovsky nos arredores de Kiev, onde os caças-bombardeiros militares da Ucrânia são mantidos.

Em terra, na fronteira da Ucrânia com Belarus, tanques russos foram vistos entrando no território ucraniano, segundo a guarda fronteiriça ucraniana. A Rússia tem 30 mil homens no país vizinho e Kiev fica a cerca de 150 km da fronteira.

No leste, separatistas apoiados pela Rússia disseram que lançaram uma ofensiva na cidade de Shchastia, controlada pela Ucrânia, na Província de Luhansk, disse a agência de notícias russa Interfax.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, fez um novo pronunciamento à nação ainda nesta madrugada. "Nós somos fortes, estamos preparados para tudo e vamos vencer", declarou. Ele também disse que vai permanecer em sua residência o quanto for possível. Pouco depois do ataque, seu governo declarou lei marcial em todo o território ucraniano.


O presidente ucraniano Volodmir Zelenski

"A Rússia lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia e está atacando cidades com armas, disse o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, em um tuíte nesta quinta-feira. O chanceler disse que a Ucrânia precisa de armas e ajuda humanitária para responder à agressão russa.

"Putin acaba de lançar uma invasão em grande escala da Ucrânia", disse Kuleba, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin. "Esta é uma guerra de agressão. A Ucrânia se defenderá e vencerá O mundo pode e deve parar Putin. A hora de agir é agora."

O conselheiro do chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia, Mykhailo Podoliak, teme que tropas russas entrem em Kiev para derrubar o governo ucraniano.

Fuga de Kiev

Milhares de moradores de Kiev começaram a deixar a capital da Ucrânia no começo desta quinta-feira, 24, após a Rússia iniciar a invasão a várias partes do país. A capital começa a viver um caos. Há imagens de enormes congestionamentos se formando, especialmente nos corredores de acesso às saídas da cidade.

Há filas nos postos de combustíveis e vários deles já não têm mais gasolina para vender. Muitos moradores também estão percorrendo os supermercados, tentando comprar mantimentos. Há milhares de pessoas lotando estações de ônibus e trens do metrô, a maioria com bagagem nas mãos, tentando deixar a capital ucraniana.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, acusou Vladimir Putin de iniciar uma "invasão em grande escala" contra seu país. "Cidades ucranianas pacíficas estão sob ataque", tuitou. Contrariando as imagens captadas em solo ucraniano, Kuleba também afirmou que "ninguém está fugindo".

Pelo menos duas explosões foram ouvidas na capital. Um pouco depois, as sirenes para alertar para bombardeios ressoaram no centro da capital. Os moradores correram para as estações subterrâneas do trem em busca de abrigo.

O Ministério da Infraestrutura da Ucrânia anunciou o fechamento do espaço aéreo do país "por causa do alto risco de segurança", interrompendo o tráfego civil logo após a meia-noite. A Rússia afirma ter feito uma primeira ofensiva contra alvos militares em Kiev, Kharkiv e outras cidades no centro e no leste do país, enquanto autoridades ucranianas confirmam 8 mortes até o momento

O Ministério da Defesa russo garante ter destruído a capacidade de defesa antiaérea da Ucrânia, bem como parte de seus jatos na operação e negou que seus militares estivessem realizando ataques contra cidades ucranianas. "Armas de alta precisão estão tornando inoperantes a infraestrutura militar do Exército ucraniano, sistemas de defesa aérea, pistas e jatos das forças aéreas", disse a pasta.

Os ucranianos dizem ter derrubados cinco caças russos e um helicóptero durante os bombardeios, o que Moscou negou.

O presidente ucraniano Volodmir Zenlenski pediu calma e adotou lei marcial - quando regras militares substituem as leis civis comuns de um país.


Lei marcial foi imposta na capital Kiev

Ameaças de Putin

Em uma mensagem televisionada, Putin anunciou sua decisão e prometeu retaliação a quem interferir na operação russa na Ucrânia. Na mensagem, o líder russo, que justificou sua decisão por um pedido de ajuda dos separatistas pró-russos e pela política agressiva da Otan com Moscou, também pediu que os militares ucranianos "deponham as armas". "Qualquer um que tente interferir conosco, ou mais ainda, criar ameaças para nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e o levará a consequências como você nunca experimentou em sua história."

Putin classificou sua operação como um ataque aos "nazistas" na Ucrânia, assim como a rejeição da ordem mundial liderada pelos EUA. Segundo ele, a aspiração da Ucrânia de ingressar na Otan representa uma ameaça terrível para a Rússia. Ele evocou o bombardeio da Otan à Iugoslávia em 1999 e a invasão do Iraque pelos EUA em 2003 para deixar claro que via o Ocidente como moralmente falido. "Durante 30 anos, tentamos deliberada e pacientemente chegar a um acordo com os países da Otan sobre segurança igual e indivisível na Europa", disse Putin.

"Tomei a decisão de realizar uma operação militar especial", disse Putin. "Seu objetivo será defender as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev. Para isso, visaremos a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, assim como levar ao tribunal aqueles que cometeram vários crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação Russa. Nossos planos não incluem a ocupação do território ucraniano."

Biden promete resposta

Em resposta, o presidente americano, Joe Biden, disse que os EUA vão responder de forma unida e decisiva. Ele prometeu se pronunciar nesta quinta-feira sobre quais consequências a Rússia irá enfrentar. Nos últimos dias, Putin vinha dizendo que ainda não havia decidido se, de fato, lançaria uma operação militar na Ucrânia, depois de, na semana passada, reconhecer a independência dos enclaves separatistas de Donetsk e Luhansk.

O anúncio ocorreu no momento em que o Conselho de Segurança da ONU se reunia em Nova York para debater a crise, a pedido de Zelenski. Coincidentemente, a reunião está sendo presidida pelo embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya. O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo ao presidente russo. "Putin, impeça suas tropas de atacar a Ucrânia. Dê uma chance à paz. Muitas pessoas já morreram", disse.

Joe Biden disse que conversou na madrugada desta quinta-feira com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para informar sobre os passos que estão sendo tomados para reunir a comunidade internacional após a ação de Moscou.

"Ele (Zelensky) me pediu para solicitar aos líderes do mundo que se manifestassem claramente contra a agressão flagrante do presidente Putin e ficassem com o povo da Ucrânia", afirmou Biden em comunicado divulgado pela Casa Branca. "Amanhã (quinta-feira), me reunirei com os líderes do G-7, e os Estados Unidos e nossos aliados e parceiros imporão severas sanções à Rússia. Continuaremos a prestar apoio e assistência à Ucrânia e ao povo ucraniano."

O ataque russo foi condenado por outros líderes, como o presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e do Japão, Fumio Kishida. A China, por sua vez, evitou criticar Moscou.

"A questão da Ucrânia é complexa em seu contexto histórico. O que estamos vendo hoje é a mistura de fatores complexos", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying. "A China está acompanhando de perto os últimos acontecimentos. Nós ainda esperamos que as partes interessadas não fechem a porta à paz e, em vez disso, se empenhem em dialogar e evitar uma escalada da situação."

Espanha, França, Austrália e Itália criticaram o episódio Alemanha e Turquia alertaram seus cidadãos na Ucrânia para permanecerem em locais seguros.


Soldados ucranianos se dirigem à fronteira com a Rússia

Discussão na ONU

A decisão de Putin gerou repercussão imediata na ONU, cujo Conselho de Segurança se encontrava reunido no momento da invasão. O enviado da Rússia à ONU, Vasily Nebenzya, defendeu seu país, dizendo que Moscou não está sendo agressiva contra o povo ucraniano, mas contra a "junta" que ocupa o poder em Kiev. "Não há purgatório para criminosos de guerra, eles vão diretamente para o inferno", disse o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya, à Nebenzya.

O enviado da França condenou a Rússia por "escolher a guerra" e disse que o país deve ser responsabilizado no Conselho de Segurança. O enviado britânico classificou as ações russas de "sem motivos" e "injustificadas". O enviado alemão instou a Rússia a interromper a ação imediatamente. "No exato mesmo momento em que estamos buscando paz, Putin enviou uma mensagem de guerra", disse o enviado americano.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se manifestou. "Esse é o momento mais triste do meu mandato", afirmou. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou fortemente o "ataque imprudente" da Rússia, afirmando que ele coloca em risco incontáveis vidas civis. Ele também prometeu que a aliança fará o que for necessário para proteger e defender todos os aliados.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que apresentará aos líderes europeus ainda hoje um pacote de sanções "amplas e direcionadas" contra a Rússia pelo ataque à Ucrânia. Segundo von der Leyen, o conjunto de medidas atingirá setores estratégicos da economia russa, bloqueando acesso às principais tecnologias e mercados.

"Vamos enfraquecer a base econômica da Rússia e sua capacidade de modernização. Além disso, vamos congelar os ativos russos na União Europeia e impedir o acesso dos bancos russos ao mercado financeiro europeu", disse a presidente da Comissão Europeia.

Von der Leyen também declarou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, é responsável por trazer a guerra de volta à Europa, e que a União Europeia está ao lado da Ucrânia e do seu povo. A líder classificou os ataques a diversas regiões ucranianas como "um ato de agressão sem precedentes da liderança russa contra um país soberano e independente" e acrescentou que o episódio atinge a estabilidade na Europa e "toda a ordem internacional baseada em regras.

"Apelo à Rússia para que pare imediatamente com a violência e retire as suas tropas do território da Ucrânia. Não permitiremos que o presidente Putin destrua a arquitetura de segurança que deu paz e estabilidade à Europa nas últimas décadas", disse. "Não permitiremos que o presidente Putin substitua o Estado de direito pelo Estado da força e da crueldade. Ele não deve subestimar a determinação e a força de nossas democracias." 

Refugiados - Kiev vem há oito anos lutando contra os separatistas no leste do país, um conflito que já deixou mais de 14 mil mortos. Muitos temem que a crise possa culminar no pior conflito na Europa desde 1945, quando terminou a 2ª Guerra. A ofensiva russa pode desencadear uma nova crise de refugiados com até 5 milhões de pessoas deslocadas, alertou a embaixadora americana na ONU em Nova York. 

Bolsas em queda - As bolsas europeias operam em forte baixa desde a abertura dos negócios desta quinta-feira, reagindo aos últimos desdobramentos da crise entre Ucrânia e Rússia. Durante a madrugada, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o lançamento de uma operação militar no leste da Ucrânia. Além disso, há relatos de que explosões foram ouvidas na capital ucraniana, Kiev, e nas cidades de Kharkiv e Odessa.