Crianças, adolescentes e docentes estão retornando à rotina e convivência, fator que é determinante para a aprendizagem.
Embora pareça simples, um longo período de mudanças exigirá do cérebro destes estudantes uma motivação maior para retomar os patamares de desenvolvimento pré pandemia.
Segundo Livia Ciacci, neurocientista do Supera – Ginástica para o Cérebro, é através do espelhamento na convivência com adultos e outras crianças que os pequenos aprendem as regras sociais que envolvem empatia, respeito, dentre outras habilidades intra e interpessoais.
“E se elas não passaram por esse momento, precisarão passar ainda, o que vai exigir bastante paciência de pais e professores. Não podemos simplesmente acusar a criança de não ter se desenvolvido durante o período em casa, porque ela depende 100% da socialização para entender como adequar seus comportamentos ao meio e às pessoas”, alertou a especialista.
Dependendo de como foi a experiência em casa, o estudante poderá apresentar mais sensibilidade a estímulos do ambiente e demonstrar medo das coisas com mais frequência. O fato de o ambiente escolar estar diferente do que ela conhecia antes (máscaras, espaços controlados etc.) também pode aumentar a ansiedade e frustração.
Ainda segundo Livia Ciacci, é importante lembrar que neste período as crianças tiveram que lidar com o aprendizado via telas digitais. “As ferramentas digitais estimulam menos os sentidos e exigem mais atenção focada, o que facilita a distração e perda de interesse, fragmentando mais ainda os conteúdos passados pelos professores”, lembrou.
A importância da rotina para o cérebro
Mais do que ir para a escola e aprender algo novo, a ausência do ambiente escolar impactou diretamente a rotina dos estudantes e, consequentemente, sua capacidade de assimilar informações.
A rotina tem um papel importantíssimo, principalmente para crianças que estão entendendo como funciona a organização social. Dentre tantas descobertas dessa fase da vida, a rotina é como um porto seguro no meio das novidades.
“A criança saber o que vem depois do café da manhã, sentir o apoio do professor nas aulas, ter a hora do recreio, ter a hora do dever de casa etc. Tudo isso é necessário para a criação de hábitos e ganho de autoconfiança. O cérebro precisa se sentir capaz de executar as próximas tarefas para ser autoconfiante, e isso fica bastante complicado sem uma rotina certa”, alertou a neurocientista.
Diferentes realidades de aprendizagem
A disciplina é um ponto importante no processo de retomada, mas identificar os níveis de aprendizagem é fundamental para recuperar a confiança de crianças e jovens neste momento.
“Em uma mesma turma terão aquelas crianças que avançaram um pouco mais e aquelas que regrediram na aprendizagem. Lidar com isso exigirá um maior nível de personalização da atenção e um cuidado extra com a saúde mental e resiliência das crianças”, lembrou.
Além de incentivo aos estudantes, é possível aos pais tornarem este processo mais prazeroso. Confira algumas dicas:
1) Limite o tempo de uso das telas (seja celular ou TV) neste momento de retomada das aulas. Procure enriquecer a rotina das crianças com brincadeiras ao ar livre, já que o movimento e a interação reduzem a ansiedade.
2) Atividades artísticas e lúdicas são uma boa pedida para ativar as áreas de recompensa no cérebro que convertem emoções como medo e raiva em emoções mais positivas, como esperança e confiança.
3) Incluir os assuntos da escola nas conversas de casa pode aumentar a percepção de utilidade para a criança. Por exemplo, contar uma história que envolva algum tipo de linguagem ou conta matemática vai estimular que a criança recorde do assunto e participe da conversa, se sentindo mais confiante.