Empregos

Cai a contratação de mulheres no mundo para os cargos de liderança

Houve um recuo equivalente a 2 anos

Foto: Unsplash/Creative Commons
Em média, as mulheres em todo o mundo se candidataram a 11% menos empregos

De acordo com um levantamento global do LinkedIn, a maior rede social profissional do mundo, a igualdade de gênero ainda não é uma realidade para a maioria dos empregos de rápido crescimento, com muitos deles mostrando uma grave sub-representação de mulheres. 

A plataforma identificou os 99 empregos que estão apresentando alta na demanda em 20 economias ao redor do mundo, incluindo o Brasil, para analisar a presença feminina nessas funções. 

Os dados - publicados no Relatório Global de Gênero do Fórum Econômico Mundial em março deste ano - sugerem que os problemas de paridade de gênero vão piorar se não houver alguma ação efetiva.

O levantamento também mostrou uma queda significativa de mulheres sendo contratadas para cargos de liderança desde a pandemia, levando ao regresso de 1 a 2 anos em vários setores. 

Quatro áreas progrediram e expandiram a proporção de mulheres contratadas para cargos de gestão senior: software e serviços de TI, serviços financeiros, saúde e manufatura. No entanto, outras indústrias tiveram declínios notáveis, entre eles: recreação e viagens, varejo, educação e serviços profissionais.

Em média, as mulheres em todo o mundo se candidataram a 11% menos empregos no ano passado em comparação com os homens. De acordo com elas, a falta de conexões certas (networking) para serem notadas pelos times de recrutamento é o maior obstáculo no processo de conseguir uma nova oportunidade. Aparecem ainda fatores como falta de experiência e habilidades, além de competitividade do mercado. 

Funções que têm crescido rapidamente apresentam alta na contratação de novos talentos, no entanto, a representação feminina ao redor do mundo quase não mudou desde 2018.

A participação atual de mulheres em Computação em Nuvem, por exemplo, é de 14,2%, uma melhoria de 0,2 pontos percentuais desde 2018; mulheres em funções de dados e Inteligência Artificial (IA) representam 32,4%, queda de 0,1 pontos percentuais desde fevereiro de 2018.

Os dados também mostram uma maior disparidade de gênero em outras funções, como  Desenvolvedores Full Stack, engenheiros de dados e engenheiros de nuvem.

Disparidade de gênero no Brasil 

No ritmo relativo atual, a previsão publicada pelo Relatório Global de Gênero do Fórum Econômico Mundial (março/21) é de que o problema da disparidade de gênero só será resolvido em uma média de  52 anos na Europa Ocidental, 61 anos na América do Norte e quase 69 anos na região da América Latina e do Caribe.

Em todas as outras regiões, a pesquisa aponta que levará mais de 100 anos para fechar essa lacuna.

Somente na África Subsaariana são quase 122 anos e na Europa Oriental e Ásia Central, cerca de 134 anos. Passando dos 140 anos de resolução para a disparidade de gênero estão o Oriente Médio e Norte da África e, aos 165 anos, o Leste Asiático e o Pacífico. Por último, temos o Sul da Ásia chegando a quase 200 anos. 

O Brasil está na 93ª posição deste ranking que considera 156 países. Hoje, 61,9% das mulheres e 80,1% dos homens compõem a força de trabalho, sendo que elas representam 39,4% dos cargos de gestão no país. 

Algumas áreas estão mais avançadas do que outras. Ainda há poucas mulheres na política, por exemplo. Elas representam 15,2% do total de parlamentares e apenas 10,5% dos ministros do Brasil. Por outro lado, na área de saúde, a paridade de gênero foi alcançada em quase todos os níveis de ensino (98%). 

Oportunidades para mudar a realidade

De acordo com Ana Claudia Plihal, Executiva de Soluções de Talentos do LinkedIn, neste momento que os governos e empresas planejam os próximos passos para o pós-pandemia, a igualdade de gênero precisa ser considerada nas abordagens de recuperação econômica.

“Neste caso, estamos falando de garantir que as culturas e estruturas de negócios adotem práticas com foco na diversidade e que as organizações examinem como incorporar a equidade na busca e seleção de talentos; criando processos mais igualitários para a experiência, recompensa e desenvolvimento dos funcionários”, afirma. 

Dentre as iniciativas que podem ser adotadas, estão: 

-- Implementação de políticas para permitir maior flexibilidade no trabalho - para garantir que as mulheres não tenham que escolher entre a família e a carreira, oportunidades de trabalho mais flexíveis são essenciais. Dados do LinkedIn revelam que as mulheres têm 26% mais chances de se candidatar a empregos remotos do que os homens.

-- Consideração cuidadosa da linguagem dos anúncios de emprego e da marca empregadora - As palavras que as empresas usam para descrever tudo - desde descrições de cargos até a cultura da empresa - influenciam sua capacidade de atrair uma força de trabalho equilibrada por gênero.

Uma pesquisa do LinkedIn mostrou que 44% das mulheres se sentiriam desencorajadas a se candidatar a uma função se a palavra "agressiva" fosse incluída no anúncio.

Para incentivar mais mulheres a aplicarem para os cargos, as empresas devem estar cientes da linguagem masculina codificada e, em vez disso, usar uma linguagem aberta e inclusiva, como ‘de apoio’ e ‘colaborativa’.

Em março de 2021, em apoio ao Dia das Mulheres, o LinkedIn lançou duas pesquisas exclusivas sobre o cenário de contratação e do mercado de trabalho para as mulheres. Para conferir mais detalhes, acesse este link.

Metodologia - A pesquisa identificou 99 funções que estão crescendo consistentemente na demanda em 20 economias, agrupadas em oito grupos de empregos distintos com base em seu perfil de habilidades exclusivas: Marketing, Vendas, Pessoas e Cultura, Produção de Conteúdo, Desenvolvimento de Produto, Computação em Nuvem, Engenharia, Dados e Inteligência Artificial (AI).

As participações nas contratações por gênero são calculadas como o total de mulheres que adicionaram um novo empregador ao perfil no mesmo mês de início do novo emprego dividido pelo total de contratações no mesmo mês.

O gênero é relatado pelos próprios membros ou inferido a partir dos dados de perfil do LinkedIn.

A análise inclui dados de: Austrália, Argentina, Brasil, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Índia, Irlanda, Itália, México, Holanda, Cingapura, África do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos.