Helô Sampaio

Levanta a saia, morena, que há uma fogueira embaixo para ser pulada

Segure o juízo, meu lindinho, que tudo na vida passa


Foto: Pixabay/Creative Commons

Vumbora, meu povo, agilizar as coisas e correr pro mercado pra comprar uns trens gostosos pra preparar uma mesa farta com os deliciosos produtos juninos, que São João já entrou pela porta. E sem licor de jenipapo, canjica, milho verde, pamonha, mingau e bolo, ele sai e vai bater noutra freguesia.

O bom da festa, o que ele gosta, é a mesa cheia com os produtos á base do milho e do jenipapo, que deixa tudo atraente e cheiroso. São Joãozinho deve ficar lá de cima babando, quem sabe desejando dar uma descidinha aqui na Bahia para provar da canjiquinha e ‘virar’ um cálice com um licorzinho de jenipapo. He-he!

Festa boa é lá no interior, onde ainda rola muita comida, licores variados e, principalmente, muita alegria ao receber os amigos, muito prazer em dar um abraço apertado, e festejar este dia – que quase sempre nos leva a uma infância feliz, em volta de  lindas fogueiras e deliciosos comes e bebes.

Lá, em Ibicaraí, minha terrinha, as fogueiras eram acesas ao anoitecer. Aí, nós, as crianças, soltávamos os traques, as cobrinhas, as ‘chuvinhas’ lindas. Mais tarde, os adultos chegavam para soltar os fogos grandes que iluminavam o céu com belos ‘faixos’ de luz, enquanto nós, crianças, ficávamos olhando deslumbradas as ‘mágicas’, as luzes, a coreografia, os estrondos, a claridade e os desenhos que os fogos juninos propiciavam. Os ‘zoinhos’ nem piscavam.

Hoje, com esta pandemia infeliz, nem gente na rua tem. O São João se recolheu, o São Pedro já pendurou as chaves do céu e foi se consolar com Santo Antônio que estava choroso por não ter tido nem um licorzinho bebido em comemoração ao seu dia. As festas este ano estão sendo em casa, com a irmã reclamando que a cerveja está quente, o irmão pedindo tira-gosto a todo momento, a cunhada sem querer largar o copo para esquentar a feijoada e eu sentada, tomando vinho e apreciando a vida. Normal, tudo normal, he-he.

Mas a vida é bela e todos os momentos são preciosos, meu lindinho. Chega de reclamar do paradeiro, da falta de dinheiro, de não poder sair de casa, de ter que ficar olhando para as mesmas caras. Você tem sorte pois tem gente que não tem casa nem ninguém pra encher o saco. Aí, não dá pra mim, pois tenho pavor de solidão.

Quando Cema ou Mira estão ocupadas e não podem ficar trolando um papo, eu me penduro no telefone e ligo para Emília, no Ceará, prá Eni Lane ou Roberto no Rio de Janeiro, ou ainda pra Marisa em São Paulo ou Joaci e Linei no Mato Grosso do Sul. Aí é bom, porque não dou ‘porre’ a um amigo somente. Melhor coisa é ter amigos pelo Brasil afora. A gente não morre de tédio.

Meus irmãos estão aqui comigo. Vieram todos para a recuperação de Lula que, graças a Deus, está indo bem. Paulo já retornou ao trabalho com os seus pacientes em São Paulo. E nós, as irmãs, ficamos aqui curtindo casa, televisão, chuva, televisão, sol, telev... Ops, já falei televisão demais. Cruz credo, mas é só o que temos disponível neste momento crucial de isolamento – além das minhas inseparáveis palavras cruzadas. E ainda bem que a bendita tevê fica 24 horas por dia, senão ia ser um fuzuê dentro de casa, com tanta gente sem fazer nada ou fazendo confusão. T’esconjuro.

Segure o juízo, meu lindinho, que tudo na vida passa, o que é bom e o que não é, como é o caso desta maldita Covid. Infelizmente, vai tirar muitas vidas mas vai passar. Eu me lembro que, quando era criança, uma tal de varíola ou febre amarela, não sei bem, empestiou o país e tivemos que ficar ‘ilhados’ em casa, em Ibicaraí, pois minha mãe não queria que os filhotinhos adoecessem. Crianças em casa, sem poder correr pelas ruas e revirar a cidade - e não tinha televisão na época, só podia resultar em briga, em assaltos aos doces, bolos e biscoitos da casa, em ficar ‘atentando’ os filhos dos vizinhos, ou pirraçar as pessoas que passavam, fazendo caretas, sem entender porque elas davam risadas das nossas carinhas feias. Tudo valia.

Mas o tempo passou, a varíola passou, e estamos aqui, lindas, loiras e gostosésimas enfrentando e vencendo esta Covid, com a fé no grande Deus que nos protege, e na vacina. E por falar em linda e loira, vamos para os braços da nossa amadíssima loirésima, Elibia Portela, que preparou este bolo de fubá de milho para alegrar a nossa festa junina. Bota o chapéu de palha na cabeça, toca a sanfona de São João e vamos pra cozinha preparar esta delícia enquanto dançamos a quadrilha com os amigos.  

Bolo de Fubá de Milho de Elíbia

Ingredientes: 

-- 3 ovos (claras em neve)
-- 2 xícaras de chá de  açúcar refinado
-- 2 xícaras de chá de fubá fina de milho
-- 1 xícara de chá farinha de trigo
-- 1 xícara de chá de leite
-- 100 gr de manteiga
-- 1 colher (sobremesa) de fermento
-- 1 colher de sopa de queijo parmesão ralado.

Modo de Fazer:

1 - Bater a metade do açúcar com a manteiga e as gemas. Depois misturar todos os ingredientes, pouco a pouco.

2 - Por último, já fora da batedeira, acrescentar as claras batidas em neve.

3 - Assar em forma untada e polvilhada com farinha de trigo, por 40 minutos, aproximadamente.

Saborear cheirando o cangote e dançando a quadrilha do São João e do São Pedro com o amorzinho. Boas festas!