Política

Omar Aziz admite que CPI da Covid pode ouvir governadores

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também pode ser convocado

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Senador Omar Aziz (PSD-AM)

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), admitiu nesta segunda-feira (3), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, a possibilidade do colegiado convocar o ministro da Economia, Paulo Guedes, e governadores para prestar esclarecimentos sobre a condução da pandemia. Na semana passada, o senador havia descartado a convocação de Guedes. Ontem, mudou de tom: "se ele tiver de ir, irá".

Aziz voltou a chamar Guedes de "pitaqueiro" e a criticar recentes declarações do ministro sobre a China, como a de que o país asiático teria criado o novo coronavírus e, depois, desenvolvido uma vacina pouco eficaz. "Ele deveria cuidar da economia, que já não está bem. Estamos passando de uma pandemia para o casos social, pela fome, e a gente vê o ministro contando história como se fosse o todo poderoso", disparou, durante a entrevista. "É o grande puxa-saco dos americanos, mas que não consegue uma vacina por lá, e ataca o maior fornecedor de insumos da Coronavac."

Sobre os governadores, o presidente da CPI da Covid disse que os líderes estaduais podem ser ouvidos caso possam contribuir com as investigações, mas destacou que eventuais punições cabem às assembleias legislativas de cada unidade da federação.

Considerado "independente" ao Palácio do Planalto no colegiado que investiga a condução da pandemia no País, Aziz ainda disse, durante a entrevista, nunca ter visto "tanto ministro sair do governo e falar tão mal". Ele se referia a criticas à administração do presidente Jair Bolsonaro feitas por antigos componentes da Esplanada, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo.

Em publicação no Twitter, o ex-chanceler afirmou que o governo "perdeu alma e ideal". O ex-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal Fabio Wajngarten também deu declarações espinhosas sobre o Palácio do Planalto, dizendo que precisou interceder, embora sem sucesso, para a aquisição de vacinas contra a covid-19 da Pfizer.

Acareação

Azis considera a possibilidade de uma acareação, dentro do colegiado, entre o ex-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal Fabio Wajngarten o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e a Pfizer. 

Na semana passada, Wajngarten disse à revista Veja que travou "intenso duelo" com Pazuello para viabilizar a compra de vacinas contra a covid-19 da Pfizer, rejeitadas pelo governo federal em setembro de 2020. A farmacêutica ofereceu à administração do presidente Jair Bolsonaro doses que poderiam ser entregues ainda em dezembro do ano passado, antes, portanto, do início da vacinação nacional, mas o Ministério da Saúde não deu andamento às tratativas.

Aziz ainda admitiu, ainda, a possibilidade de ouvir, na CPI, médicos que defendem o uso de cloroquina no tratamento da covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada para a doença. "Todos os requerimentos serão analisados por mim. Se o pleno quiser chamar quem defende cloroquina, vou me curvar à maioria", disse o senador.

Impeachment

Omar Aziz avaliou que o presidente Jair Bolsonaro "foi negacionista" desde o primeiro momento da pandemia de covid-19, estimulando aglomerações e o uso de remédios sem eficácia comprava contra a doença. Ao mesmo tempo, Aziz evitou atribuir culpa direta, neste momento, da gravidade da pandemia no País ao chefe do Palácio do Planalto. "Ainda é muito precipitado falar em punições a alguém, muito menos falar em impeachment. Seria uma irresponsabilidade", declarou o senador na entrevista, destacando que as investigações do colegiado ainda nem começaram

Aziz reafirmou que a CPI da Covid "não vai dar em pizza" e que haverá encaminhamento de punições, "de quem quer que seja", caso os senadores da comissão julguem necessário. "Vamos investigar tudo. Espero que possamos concluir os trabalhos em 90 dias", disse, garantindo que não deixará haver "politização" das sessões do colegiado.

Embora próximo ao governo, o presidente da CPI da Covid é considerado do grupo dos "independentes" do órgãos e é crítico à condução da pandemia pelo Planalto. Durante a entrevista na noite desta segunda, Aziz fez apontamentos à gestão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que rompeu com Bolsonaro. O ex-ministro será ouvido na CPI nesta terça-feira.

"Não conseguíamos falar com ele, estava na televisão 24 horas por dia", disparou. "Os médicos cubanos fizeram falta na pandemia. Não tem médico a torto e a direito no Brasil", acrescentou. O programa Mais Médicos, vitrine do governo Dilma Rousseff (PT), foi encerrado por Mandetta e Bolsonaro antes da descoberta do novo coronavírus.

Omar Aziz criticou a declaração do ministro da Justiça, Anderson Gomes, de que vai requisitar à Polícia Federal informações sobre o repasse de verbas federais a Estados e municípios. "É uma falta de assunto. O ministro da Justiça precisa trabalhar mais em outras áreas e deixar questão política", afirmou Aziz. "Ministros do governo poderiam contribuir mais para soluções na saúde e na economia".

A fala de Gomes, feita à revista Veja na semana passada, foi interpretada como uma ameaça à comissão de inquérito. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), quer convocar o ministro da Justiça ao colegiado para explicar a declaração.

Aziz também criticou a falta de barreiras sanitárias no País para conter a contaminação pelo novo coronavírus. Por outro lado, falou em mudança de comportamento do governo após a instalação da comissão que pretende investigar a atuação do governo durante a pandemia. "Você sai da soberba e, depois da CPI, vai para a humildade", declarou o senador, citando o apelo do ministro da Saúde, Marcelo Quiroga, à Organização Mundial da Saúde (OMS) por mais vacinas. "Antes, isso não acontecia".