Educação

USP mostra a desigualdade racial na educação pública de São Paulo

Muitas cidades deixaram de seguir as diretrizes do Plano Nacional de Educação

Os municípios paulistas apresentaram melhora no aprendizado dos seus alunos entre 2007 e 2017, mas com dificuldade em reduzir as desigualdades étnico-raciais no desempenho escolar, sobretudo para os alunos pretos.

Essa é a conclusão do Boletim Desigualdade Escolar, publicação realizada com apoio do programa USP Municípios e coordenada pelos professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP Luciano Nakabashi e Amaury Gremaud.

O grupo de pesquisa analisou dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)/Prova Brasil.

De acordo com os dados, alguns municípios e regiões do Estado permitiram o aumento da desigualdade no desempenho educacional entre os alunos negros e não negros, em contramão à diretriz do Plano Nacional de Educação (PNE) que determina a redução das desigualdades educacionais.

“A escola pode ser o primeiro lugar em que as crianças entram em contato com o racismo estrutural e com a discriminação racial, temos que o ambiente escolar tem papel crucial na redução das desigualdades socioeconômicas e dos preconceitos da sociedade”, explicam os professores.

Uma pesquisa com dados do Saeb/Prova Brasil de 2005 a 2013 verificou que a população negra apresentou pior desempenho educacional e maior distância dessa situação ideal. Ao analisar os dados dos 645 municípios paulistas, 246 (38%) apresentaram sua população negra com desempenho pior do que a não negra no 5º ano do ensino fundamental. Apenas 12 (2%) tiveram a população negra com desempenho melhor.

A situação piorou no 9º ano do fundamental: em 328 municípios (51%) a população negra obteve desempenho educacional médio menor do que as demais.

As regiões de Tupã, Botucatu, São Joaquim da Barra, Cruzeiro, Ribeirão Preto e Lins foram as que apresentaram as maiores reduções dos hiatos desfavoráveis para a população negra no 5º ano do ensino fundamental público e também foram as menos desiguais em 2017.

Dados também indicam que os alunos pretos apresentaram taxa de reprovação (13,7%) duas vezes maior do que os seus pares brancos no 3º ano do ensino médio. O mesmo cenário aparece nos dados de taxa de abandono escolar. O abandono acontece majoritariamente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, sendo a população preta, mais uma vez, a mais presente na situação.

“Considerando que as taxas de abandono e repetência são altas no final da trajetória escolar e que as taxas dos alunos pretos são maiores em relação às taxas de seus pares, uma menor parcela da população preta chega ao 3º ano do ensino médio, o que agrava as desigualdades sociais”, comentam os professores.