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Verão de 2020 é o mais quente da história e calor de agosto é recorde

Todos os cinco verões mais quentes aconteceram desde 2015

Foto: Departamento contra Incêndios de São Francisco
Forte impacto da fumaça dos incêndios florestais na Califórnia na atmosfera

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, informou que o Hemisfério Norte teve o seu verão mais quente este ano, desde que começaram os registros da temperatura. Segundo a agência da ONU, o mês passado também foi o agosto mês quente. Em nível global, o mês ficou 0,94º C acima da média do século 20. 

A OMM diz que, de junho a agosto, as temperaturas ficaram 1.17º C grau acima da média. 

Todos os cinco verões mais quentes aconteceram desde 2015. A estação de 2020 supera os recordes anteriores, verificados em 2016 e 2019. 

Falando a jornalistas em Genebra, a porta-voz da OMM, Clare Nullis, disse que “agosto de 2020 foi o 44º agosto consecutivo e o 428º mês consecutivo com temperaturas acima da média do século XX.” 

Segundo a agência, todos os 10 meses de agosto mais quentes já registrados ocorreram desde 1998. 

As temperaturas colaborarams para os incêndios arrasadores que continuam afetando a costa oeste dos Estados Unidos. 

A temporada de incêndios nesta região bateu um recorde em sua escala, com cerca de 16 mil bombeiros envolvidos no esforço para proteger as pessoas e cidades apenas na Califórnia. 

Clare Nullis disse que “os estados da Califórnia, Oregon e Washington foram os mais atingidos, com bairros inteiros arrasados, forçando a evacuação de centenas e milhares de pessoas e causando tragicamente vítimas”. 

Para a porta-voz, “o calor contribuiu para uma temporada de incêndios muito, muito destrutiva.” 

Dos 41.599 incêndios nos Estados Unidos este ano, mais de 36 mil foram causados por atividades humanas

Além de mortes e destruição, os incêndios afetaram a qualidade do ar para milhões de pessoas e tornaram o céu laranja. Imagens de satélite mostram nuvens de fumaça subindo sobre o Pacífico Ocidental e provavelmente viajando mais 2 mil quilômetros.  

No nordeste da Califórnia, as autoridades declararam uma situação de alerta ou “bandeira vermelha” durante a maior parte desta semana. Segundo a OMM, este é o nível de ameaça mais perigoso, caracterizado por uma combinação de ventos fortes e condições propícias para fogos. 

Dos 41.599 incêndios nos Estados Unidos este ano, mais de 36 mil foram causados por atividades humanas. No total, mais de 2,5 milhões de acres de florestas e terrenos foram queimados. 

A Califórnia foi o estado com a maioria dos incêndios, com cerca de 7 mil causados por humanos. 

A porta-voz também alertou para um número extraordinário de ciclones no atlântico. 

Segundo o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, pelo menos cinco ciclones tropicais estão se formando na bacia do Atlântico, igualando o recorde de número de ciclones ao mesmo tempo nesta região. 

A temporada de furacões no Atlântico é tão ativa que deve esgotar a lista regular de nomes de tempestades. Segundo a porta-voz, “se isso acontecer, o alfabeto grego será usado apenas pela segunda vez na história.” 

As concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera estão em níveis recordes; as emissões que tiveram declínio temporário devido à pandemia estão caminhando para níveis pré-COVID-19, enquanto as temperaturas globais continuam atingindo novos picos, de acordo com um novo relatório da ONU.

O documento “United in Science 2020“, lançado na quarta-feira (9), destaca os impactos crescentes e irreversíveis das mudanças climáticas em geleiras, oceanos, natureza, economias e seus custos para as pessoas em todo o mundo; manifestam-se cada vez com mais frequência por meio de desastres, como ondas de calor recordes, incêndios florestais, secas e inundações.

Falando no lançamento do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que “não há tempo a perder” se o mundo pretende abrandar a tendência dos impactos devastadores das alterações climáticas e limitar o aumento das temperaturas a 1,5 grau Celsius.

“Quer estejamos enfrentando uma pandemia ou a crise climática, é claro que precisamos de ciência, solidariedade e soluções decisivas”, disse Guterres.

“Temos uma escolha: continuar como sempre, levando a mais calamidades; ou podemos usar a recuperação da COVID-19 para fornecer uma oportunidade real de colocar o mundo em um caminho sustentável”, acrescentou.

O secretário-geral delineou seis ações relacionadas ao clima para moldar a recuperação da COVD-19, a fim de garantir um futuro sustentável para as próximas gerações.

As seis ações incluem: gerar novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde; tornar os resgates públicos condicionantes de empregos verdes e crescimento sustentável; migrar da economia cinza para a economia verde, tornando as sociedades e as pessoas mais resilientes; canalizar investimentos de fundos públicos para setores e projetos sustentáveis que ajudem o meio ambiente e o clima; levar em consideração os riscos e oportunidades do clima no sistema financeiro, bem como na formulação de políticas públicas e infraestrutura; e trabalharmos juntos como uma comunidade internacional.

“Enquanto trabalhamos para enfrentar a pandemia de COVID-19 e a crise climática, exorto os líderes a prestarem atenção aos fatos deste relatório, unirem-se por trás da ciência e tomarem medidas urgentes no clima”, acrescentou Guterres, instando os governos a prepararem planos climáticos nacionais ambiciosos, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), antes da COP26.

“É assim que construiremos um futuro mais seguro e sustentável.”

A mudança climática continua 

Em uma de suas principais descobertas, o relatório afirma que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) “não mostraram sinais de terem chegado ao pico” e continuaram a atingir novos recordes.

Estações de referência na rede WMO Global Atmosphere Watch relataram concentrações de CO2 acima de 410 partes por milhão (ppm) durante o primeiro semestre de 2020, com Mauna Loa (Havaí) e Cape Grim (Tasmânia) em 414,38 ppm e 410,04 ppm, respectivamente, em julho 2020, acima dos 411,74 ppm e 407,83 ppm no mesmo mês do ano passado.

“As concentrações de gases de efeito estufa — que já estão em seus níveis mais altos em 3 milhões de anos — continuaram a aumentar”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), no prefácio do relatório.

Enquanto isso, grandes áreas da Sibéria viram uma onda de calor prolongada e notável durante o primeiro semestre de 2020, o que teria sido muito improvável sem a mudança climática antropogênica. E agora 2016-2020 deve ser o período de cinco anos mais quente já registrado, ele continuou.

“Embora muitos aspectos de nossas vidas tenham sido interrompidos em 2020, a mudança climática continuou inabalável”, acrescentou Taalas.

De acordo com o relatório, as emissões de CO2 em 2020 cairão entre 4% e 7% em 2020 devido às políticas de distanciamento social impostas pela pandemia de COVID-19. O declínio exato dependerá da trajetória contínua da pandemia e das respostas dos governos para enfrentá-la.

Em abril de 2020, no auge dos lockdowns relacionados à COVID-19, as emissões globais diárias de CO2 caíram 17% em comparação com o ano anterior, uma queda sem precedentes. No entanto, no início de junho, as emissões haviam retornado a um patamar 5% inferior aos níveis de 2019.

O relatório observa que, embora a lacuna de emissões — a diferença entre o que precisamos fazer e o que estamos realmente fazendo para enfrentar as mudanças climáticas — seja ampla, ela ainda pode ser superada com ações urgentes e concertadas de todos os países e setores.

Sobre o estado do clima global, o relatório indica que a temperatura média global para 2016-2020 deve ser a mais quente já registrada, cerca de 1,1 grau Celsius acima de 1850-1900 (período de referência para a mudança de temperatura desde os tempos pré-industriais) e 0,24 grau Celsius mais quente do que a temperatura média global para 2011-2015.

Impacto da COVID-19 

O relatório também documenta como a pandemia de COVID-19 impediu a capacidade de monitorar as mudanças no clima por meio do sistema de observação global, o que por sua vez afetou a qualidade das previsões e outros serviços relacionados ao tempo, clima e oceano.

Observações baseadas em aeronaves tiveram grandes reduções, medições manuais em estações meteorológicas e de rios foram gravemente afetadas e quase todos os navios de pesquisa oceanográfica estão nos portos, devido ao impacto direto ou secundário da pandemia.

Os impactos no monitoramento das mudanças climáticas são de longo prazo, de acordo com o relatório. Eles provavelmente impedirão ou restringirão campanhas de medição do balanço de massa das geleiras ou da espessura do pergelissolo (tipo de solo encontrado na região do Ártico), geralmente conduzidas no final do período de degelo.

O relatório United in Science 2020, o segundo da série, é coordenado pela Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM), com contribuições do Global Carbon Project, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do UK Met Office.

O relatório reúne as últimas atualizações relacionadas à ciência do clima de um grupo de organizações parceiras globais importantes. Apresenta os mais recentes dados científicos e descobertas relacionadas às mudanças climáticas para informar a política e a ação global.