Hugo Brito

Capas dos 10 discos que resumem minha formação musical

O desafio que um grande amigo com o qual divido o palco

Sei que ninguém aguenta mais falar em pandemia, isolamento, lives, etc, etc... Mas, justamente por causa da pandemia algumas coisas foram possíveis como, por exemplo, o desafio que um grande amigo com o qual divido o palco na “The Broadcasters”, o guitarra base de nossa banda, Alberto de Carvalho ou como carinhosamente chamamos “Beto Duca”, lançou: resumir em 10 capas de discos a minha formação musical.

Na realidade Beto lançou o desafio para o nosso baixista, Lula Santiago, que repassou para mim.

Confesso que estou curtindo tanto essa viagem que resolvi dar aqui hoje o spoiler para quem segue a nossa banda no instagram  @thebroadcastersoficial, onde vamos postar uma capa por dia.

Mas quem lê a minha coluna semanal tem muita moral né? Vamos à viagem então?

0

Criei o item zero para colocar quatro bandas que não seria justo colocar na listagem das 10. Fiz isso, e peço desculpas pela deturpação do desafio aos amigos que sei que entenderão, porque não há um disco e sim uma filosofia quando falamos de Legião, Iron Maiden, Pink Floyd e Beatles.

A poesia e a musicalidade presente nas músicas desses grupos e de seus componentes em carreira solo foram fios condutores dessa construção musical que vou mostrar a seguir e, por isso, com o número zero entendam que as músicas de todos os discos deles estiveram presentes enquanto ouvia todos os outros que vou listar.

1 - The Cure – Standing on a Beach

- Sou super fã de Robert Smith, da forma como ele e o Cure se apresentam (ainda não vi olho no olho, mas verei !!) e da carga que a sonoridade e as letras desse estilo mais “Dark” trazem.

Esse disco tem uma história danada para mim. Veja que na capa tem um adesivo da rádio Transamérica. Na minha adolescência era ela que trazia as novidades da música. A 96 FM também era rocker mas a 100,1 tinha algo mais, que descobri depois conversando um dia com José Hage, programador de lá na época, que revelou que muito do se ouvia na rádio nem disco no Brasil tinha. O pessoal ia trazendo de viagens em fitas.

Aliás, preciso aqui fazer um destaque e homenagem a Haje por ter sido, na origem, um dos construtores da minha cultura musical, já que escolhia as músicas que eu e meus amigos de escola ouvíamos. Lembrem que não existia internet, CD nem música online. Ou a gente ouvia no rádio e na TV ou comprava o disco, quando achava.

Muitas músicas tenho gravadas na minha há cabeça com a vinheta da rádio em que rodavam, porque só tinha a música gravada em fita, do ar, na hora que tocava. Tem música que lembro com até com a locução de quando gravei (rsrs).

2 - Janis Joplin

Aqui um disco resumo que gosto muito. A força dessa mulher cantando, a emoção das interpretações dela são inspiradoras e, até hoje, me arrepio ouvindo como ela canta “Summertime”, da ópera Porgy and Bess (1935), de George Gershwin. Outra que já ouvi um milhão de vezes é “Trust Me” (confesso que parei aqui e fui colocar essa para tocar, do vinil).

Nossa! Intérprete assim não tem igual e nem sei se vamos ter de novo.

3 - Zé Ramalho

Nosso Bob Dylan e, como tenho quantidade de capas limitada, Dylan aqui será representado por Zé Ramalho. Esse disco está aqui por ser uma coletânea de quando completou 20 anos de carreira, em 1997. Ele foi produzido por Robertinho do Recife, cuja influência também homenageio aqui através de Zé.

4 - David Bowie

Foi nesse disco que o cara do Ziggy Stardust, personagem psicodélico e andrógeno criado por esse camaleão em um de seus momentos da carreira, me capturou. Conheci as músicas dele de trás para frente, a partir desse disco e depois daí em diante. Nesse (confesso, coloquei pra tocar também – rsrs) destaco “God only knows” e “Tonight” em dueto com outra que me marcou, Tina Turner. Bowie despensa comentários. Tá brilhando lá no céu, tenha certeza. Procure uma estrela que fica mudando de tamanho e cor e, quem sabe, até de localização, que será ele.

5 - Morrisey

– Esse, desde o “The Smiths” me garantiu sempre boas risadas. Eu explico. O jeito como, em melodias super românticas, ele fala de ódio, morte, acidentes, com aquele jeito de cantar só dele, é espetacular !! (rsrs) No disco “The queen is dead” tem um trecho de “There’s a light that never goes out” que sempre me faz sorrir quando ouço. É quando ele se declara para quem ama dizendo “... and if a double decker bus, crashes into us... to die by your side is such a heavenly way to die.” (rsrs), o que traduzido fica mais ou menos “Se um ônibus de dois andares nos esmagar, morrer ao seu lado é uma forma paradisíaca de morrer”. (rsrs). Simplesmente demais!!! (rsrs).

6 - Genesis

Rapaz, aqui é uma pedrada. Sonzeira, no popular. O que os caras ousaram não tá no gibi (expressão velha, mas cabe pelo tempo do disco né?). Nesse especificamente tem uma música que amo, “Land of confusion”, onde até o clip foi, com perdão da palavra rebuscada, disruptivo, com os membros da banda em forma de bonecos, acompanhado do presidente americano à época e de sua mulher – Ronald e Nancy Regan.

Phil Collins foi um dos caras que me inspirou a estudar bateria o que, como diz o meu professor Eddie Cameron, a gente estuda em uma encarnação para tocar na outra (rsrs). Acho que levarei umas três, mas vamos lá. Phil deixou a bateria e foi para o microfone do Genesis quando o vocalista Peter Gabriel, que aliás já já passará por aqui, saiu. 

7 - Talking Heads

Olha ele aí. Esse disco é demais e, seguramente, me influenciou muito musicalmente. A faixa mais famosa é “Wild Wild Life” mas para mim “People Like Us” é a melhor. Peter Gabriel também na carreira solo marcou muito essa minha construção de gosto musical. A música e o clip de “Sledgehammer” são um marco e, sem poupar adjetivos e exclamações mesmo, espetaculares!!!

8 - Cazuza e Barão Vermelho

A passagem do cometa Cazuza pelo nosso planeta seguramente foi uma grande influência musical. Outro dia, também na pandemia, vi o filme da vida dele com Daniel de Oliveira perfeito na interpretação e pude ver ali o que aconteceu com tantos outros gênios que vivem e impactam a humanidade tão intensamente que, simplesmente, passam. Nesse disco tem “Eu queria ter uma bomba”, uma pérola, mas não tem uma música que, comento sempre na banda, não tem uma vez que eu cante e não me arrepie – “O tempo não para”. Viva Cazuza.

9

Já está terminando pessoal. Creiam, como diz o amigo “Reverendo T”. Essa banda está aqui pois toda mensagem que a gente ouve em uma música nos conecta de diversas formas, e uma delas é o aspecto político. A banda australiana “Midnight Oil” tem uma carga grande na forma como enxergo politicamente e ecologicamente o mundo. Nas letras e clipes a defesa da ecologia e das populações originais, através dos Aborígenes australianos, me marcaram demais. A atuação de Peter Garrett no palco e a forma enérgica de cantar também são fortes nessa minha formação musical. E o cara ainda provou que não era só da boca para fora e entrou na política, em 2004, eleito para uma cadeira no Congresso da Austrália.

10 - The Offspring – Americana

Fechando a viagem das capas propostas por meus amigos Beto e Lula, vem essa da “The Offspring”, que traz a famosa “The kid’s aren’t alright”, que também tem um clip que arrebenta. Através da “The Offspring” marco também a influência que tiveram na minha formação musical as bandas Punk como NOFX, Ramones, Sex Pistols e a baiana 14º andar, já  pedindo perdão ao amigo Jerri Marlon pelo rótulo.  

Bem pessoal, hoje aluguei demais a atenção de vocês, admito, mas a viagem vale apena e, por isso, para quem aguentou até esse último parágrafo lanço o mesmo desafio. Pense nas 10 capas de discos que fizeram parte da construção do seu gosto musical. Para os mais jovens que não têm os discos propriamente ditos valem os clips ou músicas. Cuidem-se amigos e até a semana que vem !