Helô Sampaio

Faça um bolo de coalhada e arribe a saia para festejar o São João em casa

Vestido quadriculado, laço de fita no cabelo, lábios pintados, o forró ‘comendo’ no centro e eu requebrando os quadris, dançando xote, xaxado e baião sozinha, na minha sala. Mas feliz, com o pensamento a mil, lembrando das grandes festas, das muitas farras, das ‘zoeiras’ que já aprontei nos São João desta Bahia. Principalmente quando descia para Cachoeira, para a pensão de Nieta com Ivete, Mi, Othinho, Luis e mais uma galera. A gente ‘fechava’ o pedaço. Chegava, arriava as malas, saía para curtir tudo da cidade, correr todos os bares, agitar a moçada, paquerar, fazer tudo que tinha direito. Vidão, véio.

Quando queria variar, a gente pegava uma canoinha daquelas e ia pra São Felix ver se a cerveja lá também tava gelada. E sentávamos nos barzinhos que davam vista pra Cachoeira. Pra beber olhando pra aquela cidade maravilhosa, que a gente ama de paixão até hoje. Tem coisa melhor, neguinho? Volto aí já, já, e com Mi, Ivete e Othinho, viu, Alzira e Fory? Não pensem que se livraram de nós, não. Depois da pandemia, já combinei com Ivete, vamos descontar os dias parados viajando para rever os amigos no interior, e filar a boia gostosa. Podem preparar a maniçoba, que a gente vai ‘pintar’ por aí. Já vou chegar de garfo em punho.

Mas o melhor era emendar o São João com o fim de semana – anterior ou posterior. Eu já programava minha vida no jornal A Tarde para poder curtir esses dias preciosos quando, além de Cachoeira, visitávamos São Felix e Maragogipe e todos os sitiozinhos da redondeza onde houvesse sinal de forró.

Sanfona tocou, a gente dava uma paradinha, e perguntava: ‘São João passou por aqui?’. Aí, saltava, tomava um licorzinho com um pedacinho de canjica ou de milho verde, e seguia a estrada.

A melhor festa do interior ainda é o São João, sem dúvida. E Cachoeira dava show de bola, com grandes atrações, gente bonita e muita alegria. Espero que esteja animada até hoje. Este ano, com esta maldita pandemia, não vai dar pra fazer festa, mas, ‘paroano’, estaremos aí, viu, Alzira e Fory? Preparem os aposentos que eu, Ivete e a galera já estamos fazendo as malas, he-he. 

Ibicaraí também tinha um São João gostoso. Eu ia para a casa de Inha, Dodó e Iris pra comer o milho e tomar o licor. Não esqueço o dia em que levei Ana Cláudia, minha sobrinha ainda pequenina, com uns 5 ou 6 aninhos, fiquei conversando na sala com Inha e ela brincando no corredor, mas sempre vindo ver a titia. De repente, ela começou a dar risadas, correndo mais rápido e ficando na pontinha dos pés, toda feliz. Ué, o que ela está vendo? Fingi que não estava olhando para ela quando a vi chegar ao meu lado, pegar o meu copo e beber um tico do licor. Gostou do sabor adocicado do licor e veio provar de novo. Ficou numa felicidade que dava gosto. Acho que foi a única vez que ela provou uma bebida. Não sei por que, quando cresceu abominou bebida. Ainda bem que, mesmo pequenininha, provou o licor de jenipapo de Inha, o melhor da cidade.

Mas eu, como sou moça direita, pudica e fina, vou providenciar um vinho tinto seco para brindar no São João com os parentes e amigos, mesmo à distancia. Ah! Meu lindinho, e logo depois do São João, dia 26, é o meu aniversário.

Eu estava programada para comemorar com o meu querido Irmão Gabriel lá no Abrigo São Gabriel para Idosos de Deus, que fica na rua da Boa Viagem, 161 – Boa Viagem, (fone 71 3314 8276 ou 71 99999-8783), em Salvador, onde ele acolhe mais de 60 idosos, muitos dos quais foram abandonados nas ruas.

Conheço Irmão Gabriel há muitos anos, desde quando ele começou este trabalho e eu fui fazer matéria na época. Brinco com ele dizendo que sou solteira mas ainda tenho esperança de casar com um santo, no caso, ele. E que sou a sua eterna namorada, da qual as idosas têm ciúmes. Ele dá muitas risadas. É uma figura encantadora.

Mas esse ‘lero’ todo é para dizer que este ano eu quero pedir que você me dê um presente, meu lindinho. Se você me quer bem, peço que me faça este agrado: pegue roupas de cama ou fraldas geriátricas , e leve para ajudar meu Irmão Gabriel a agasalhar seus idosos que estão passando por muitas dificuldades.

Com esta quarentena, as pessoas não estão saindo de casa, portanto não estão podendo contribuir com a instituição. Se for difícil para ir lá, pode depositar qualquer valor numa destas contas, que o Irmão Gabriel saberá com usar para amparar seus idosos. Ficaremos todos felizes e muito gratos e, com certeza, Deus o abençoará. O CNPJ do Abrigo é 03.961.354/001-90. Escolha o banco e anote as contas aí.  

-- Bradesco – agância 3553 – conta corrente: 49235-3
-- Banco do Brasil – agância 0904-0 – conta corrente: 110000-9.

Mas no próximo ano, vamos comemorar as minhas ‘vinte e umas primaveras’ lá no Abrigo, com meus queridos idosos conversadores e maravilhosos contando suas histórias. O bolo já vai ser encomendado. E você está convidado.

Por falar em bolo, achei interessante e diferente essa receita de bolo de coalhada da minha querida amiga Elíbia  Portela e estou mandando pra você. Experimente e me convide para provar pois eu ainda não fiz. Xero, lindinha, e feliz São João.

Bolo de Coalhada de Elíbia (diet ou sem glúten)

Ingredientes
-- 
3 ovos
-- 1pote (200ml) de coalhada desnatada
-- 120ml de óleo de girassol
-- 1xícara (chá) de adoçante stevia forno e fogão (ou a mesma medida de açúcar: 240ml)
-- 1xícara (chá) de farinha preparada para bolo sem glúten (ou a mesma medida de farinha de trigo (240ml)
-- 2 colheres (chá) de fermento em p
-- 1pitada de sal e suco de meio limão.

Modo de preparar:

1 - Ligue o forno a 180º; unte e enfarinhe uma forma redonda com furo no centro com bordas altas (20cm de diâmetro)

2 - Quebre os ovos numa vasilha, peneirando as gemas e deixado-as escorrer para extrair a pele sem esfregar

3 - Bata as claras e gemas juntas, em ponto de omelete, com o batedor de ovos; juntar a coalhada e bater mais um pouco; junte o óleo, batendo mais um pouco;

4 - Adicione o adoçante ou açúcar, mexer bem com o batedor de ovos, juntar o suco do limão e mexer

5 - Em outra vasilha maior, misture a farinha com o sal e fermento e despeje sobre os ingredientes líquidos; misture, agora com colher de pau, sem bater, até homogeneizar a massa

6 - Despeje na forma preparada e levar ao forno por aproximadamente 30 minutos, fazendo o teste do palito: saindo limpo, está pronto.

7 - Coloque para esfriar sobre uma grelha, para ventilar o fundo.

Elíbia diz que a massa fica leve e muito gostosa. Já liguei pra ela avisando que na próxima vez que ela fizer, quero estar junto para ver se é gostosa mesmo, né, meu amorzinho? Precisa nossa apreciação.

Vamos cair no forró, mesmo só com o pessoal da casa, e animar que São João tá chegando, moçada. “A fogueira tá queimando,/ em homenagem a São João...”.