Olá eu sou Doris Pinheiro e este é o podcast Curta de Casa, que depois de fazer na edição passada uma homenagem a Santo Antônio, nesta edição homenageia São João e São Pedro. E assim a gente celebra os santos joaninos.
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E eu começo falando deste São João, santo que incendeia de alegria o Nordeste brasileiro. O São João Batista, que nasceu antes de Jesus, era primo dele, foi o profeta que anunciou a chegada do salvador e o batizou no Rio Jordão. Porque tem o João Evangelista, que foi um dos 12 apóstolos. Não vamos atrapalhar... Os dois são legais, mas cada um tem sua história.
E a de São João, segundo a Igreja Católica, começa com seu nascimento em 24 de junho, em Aim Karim, uma cidade de Israel localizada a 6 quilômetros de Jerusalém.
A data do seu nascimento na verdade foi – junto com as datas de celebração de Santo Antônio e São Pedro – uma forma de incorporar as comemorações pagãs europeias ao calendário cristão. E estas celebrações aconteciam no final de junho, o início do verão na Europa, época das colheitas, da fartura e da fertilidade. Essa estratégia a Igreja Católica usou por séculos e séculos.
Bom, mas João era filho de Zacarias, um sacerdote, e de Isabel, prima de Maria Mãe de Jesus. Santa Isabel já era idosa e nunca tinha engravidado quando o anjo Gabriel apareceu para Zacarias durante seu trabalho e anunciou que Isabel ficaria grávida, e que este filho deveria ser nomeado João.
Zacarias ficou completamente perplexo e só acreditou quando, pouco tempo depois, Isabel apareceu grávida do jeito que o Anjo havia profetizado. Por isso, o nascimento da criança foi considerado um milagre divino que consagrou João Batista desde o ventre materno. Isso tudo aconteceu ao mesmo tempo em que o mesmo anjo apareceu a Maria e disse que ela conceberia Jesus Cristo.
Eu, particularmente, nunca entendi como São João acabou virando um santo tão festeiro e de quebra São João do Carneirinho, que tem aquela imagem linda e doce de um garoto segurando um carneirinho. E eu explico porque...
São João, que teve uma participação importantíssima no Novo Testamento, foi uma das pessoas mais próximas a Jesus, mas durante parte da sua vida adulta ele passou um tempo no deserto, vivendo uma vida de sacrifícios, orações e pregações.. Diz-se que comia gafanhotos e mel para sobreviver. Passou a ser conhecido como um profeta, um homem enviado por Deus e essa fama fazia com que multidões o procurassem. E a estas multidões ele anunciava a vinda do Messias, e batizava a todos nas águas do Rio Jordão.
Quando João encontra Jesus caminhando em sua direção para ser batizado, ele diz a famosa frase “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” Olha aí de onde vem a ligação com o carneirinho...
Em seus sermões, São João Batista criticava o rei local, Herodes Antipas. Denunciava a vida adúltera dele – Herodes tinha se casado com a cunhada Herodíades. Ainda por cima era um rei péssimo, desregrado.
O rei ficou deslumbrado quando a filha de Herodíades, Salomé, dançou para ele em uma festa. Ficou tão doidão por ela que prometeu que lhe daria tudo o que fosse pedido. Salomé pediu então a cabeça de São João Batista em uma bandeja. São João Batista foi morto e sua cabeça entregue em uma bandeja a Salomé (que deve estar ardendo no inferno até hoje). João batista tornou-se, então, o primeiro mártir da Igreja e o último dos profetas.
É todos e tudo têm uma história né? E é sempre tão bom saber mais... Por isso eu convidei o radialista, escritor, pesquisador, uma sumidade em termos de música brasileira, Perfilino Neto, para falar para a gente o que é esse tal de forró. Ouça
Clique no Play para ouvir de Perfilino Neto o que é esse tal de forró (a partir dos 4 minutos 2 segundos)
Ficou de coração doendo porque este ano não vai ter forrobodó na rua? Queria ver os shows, dançar ao som dos grandes artistas do Nordeste?
Pois eu vou agora diminuir um pouquinho sua dor, porque eu convidei Adelmário Coelho, um dos artistas mais gentis que eu entrevistei até hoje, para dar uma palavrinha para você.
Clique no Play para ouvir o forrozeiro Adelmário Coelho (a partir dos 7 minutos 55 segundos)
Ouça
40 minutos de forró, com Adelmario Coelho
Mas vamos voltar a falar de São João. Sabe onde ele é padroeiro? Em Niterói, Itaboraí e Açu (Brasil), Turim (Itália) e em Terra Nova e Labrador (Canadá). Mas sabe onde ele tem uma super, mega festa também? Na cidade de Porto, em Portugal.
No site 360meridianos.com eu encontrei uma descrição super bacana sobre a festa de Porto, dedicada a São João.
Pelo texto da jornalista Luiza Antunes eu fiquei sabendo que a festa na cidade do Porto, que acontece de 23 para 24 de junho, é gigantesca, que a cidade inteira se mobiliza, que vira a noite na farra com muita música, comida (tem deliciosas sardinhas assadas na brasa em todos os cantos) e umas tradições bem interessantes.
Há registros da festa desde o século 13. Hoje todos vão às ruas com martelos de plástico e saem bulindo com os outros dando marteladinhas na cabeça. Antigamente, explica Luiza Antunes, em vez dos martelos de plástico, eram usadas grandes hastes de alho-poró (os portugueses chamam de alho porro). E eram apenas os rapazes que batiam com o vegetal na cabeça das moças, como uma forma de iniciar a paquera (ou incomodá-las mesmo). A tradição dos martelos só começou nos anos 1970.
E o tal alho porro, que tem um formato fálico, representa a fertilidade masculina. Já os manjericos, mudas de manjericão, são a resposta aos rapazes. A planta, que é uma moita de folhinhas pequeninas e cheiro que lembra o manjericão, era o presente que as moças davam para os rapazes em que estavam interessadas, com um recadinho carinhoso. O formato, como você pode imaginar, também tem conotação sexual, lembrando os pelos pubianos da mulher, revela Luiza.
E nas ruas, especialmente nos bairros de Fontainhas, Miragaia e Massarelos, tem a exposição das cascatas que são uma espécie de presépio, os bailaricos, uma dança de quadrilha, onde se dança ao som da música pimba, que a jornalista descreve como uma mistura de música “brega com o sertanejo raiz, com letras com muito duplo sentido”. Nos céus muitos balões, quando o governo permite.
O ápice da celebração acontece à meia-noite, na Ribeira, com uma super queima de fogos de artifício, lançados de barcas que ficam no meio do Rio Douro, sincronizada com música. Depois dos fogos, as pessoas seguem pelas ruas, comendo e bebendo e ao nascer do sol, tomam o primeiro banho de mar do ano. Muito legal né...
Pois quem viu de perto a festa na cidade do Porto foi a pesquisadora, cantora, compositora, a viçosa Nairzinha, que fala aqui de outra tradição folclórica do São João, que a gente ouve falar, mas nunca sabe direito o que significa : a capelinha de melão.
Clique no Play para ouvir Nairzinha explicar o que é a "capelinha de melão" (a partir dos 12 minutos 9 segundos)
Mas vocês já devem estar estranhando porque eu ainda não falei das comidas típicas, não é? Pois é para agora mesmo. A mesa fica uma riqueza!
Com o milho plantado no dia de São José, 19 de março, se faz tanta coisa boa. Como esse bolo de milho que minha talentosa colega Janaina Santos ensina a fazer.
Clique no Play para ouvir a receita de bolo de milho, com Janaína Santos (a partir dos 13 minutos 55 segundos)
Receita de Bolo de Milho
Ingredientes
-- 1 lata de leite condensado
-- 1 lata de milho verde
-- 1 vidro de leite de coco
-- 4 ovos inteiros
-- 100 ml de óleo de soja ou milho
-- 1/2 xícara de açúcar
-- 10 colheres de sopa de flocos de milho
-- 1 colher de sopa de fermento
-- 50 Gr de coco ralado
Bater tudo no liquidificador, exceto o coco
Modo de fazer
1 - Despeje em uma vasilha e misture o coco
2 - Coloque em uma forma untada com manteiga e farinha de trigo
3 - Leve ao forno à 200 graus por mais ou menos 20 a 25 minutos. para ter melhor resultado, além de uso ingredientes de boas marcas, e coloco 25gr de coco úmido e adoçado e 25gr de coco hidratado em tiras maiores.
Hummm Janaina, deu água na boca, saudade da infância... Mas outro bolo que não pode faltar de jeito nenhum é o de aipim. Gladys Abenhusen, da Pimenta Malagueta ensina um bem gostoso e fácil. Depois de ver a receita até eu vou me aventurar a fazer.
Clique no Play para ouvir a receita de bolo de aipim, trazida por Gladys Abenhusen, da Pimenta Malagueta (a partir dos 15 minutos 25 segundos)
Bolo de Aipim
Ingredientes
-- 1 quilo de massa de aipim
-- 200gr de açúcar
-- 500gr de manteiga (derretida)
-- 50gr de coco ralado
-- 1 gema
-- 1 e ½ xícara de leite de coco
-- 1 colher de chá de sal
Modo de fazer
1 - Coloque o aipim ralado ou passado no liquidificador numa vasilha, com todos os ingredientes
2 - Misture bem até formar um creme
3 - Leve ao forno em forma ou assadeira untada com manteiga e vá regando com uma mistura de leite de coco, açúcar e sal
O formo deve estar a uma temperatura de 200 graus e o tempo de cozimento deve ser de 40 minutos.
Janaína e Gladys estão aceitando encomendas para o São João e os contatos delas estão logo abaixo.
-- Janaína Santos - 71 99345-8696
-- Pimenta Malagueta de Glady Abenhusen – 71 99969-5103 e 98668-5012
E eu convidei o maestro Fred Dantas para encher de música e paixão nossos podcast de hoje. E ele não fez outra coisa.
Clique no Play para ouvir o maestro Fred Dantas (a partir dos 16 minutos 51 segundos)
E voltamos a falar de música então eu chamo para a festa Zelito Miranda, grande forrozeiro baiano, um guerreiro por quem eu tenho muita admiração.
Clique no Play para ouvir o forrozeiro Zelito Miranda (a partir dos 19 minutos 50 segundos)
Ouça
25 minutos de forró com Zelito Miranda
Mas a nossa celebração hoje também é a São Pedro. Então vamos saber da história dele, que acabou metido nesse forrobodó das festas joaninas...
São Pedro foi um dos doze apóstolos de Jesus, além de o primeiro bispo de Roma e o primeiro papa. Seu nome de batismo era Simão, que nasceu num pequeno vilarejo próximo às margens do lago de Genesaré, chamado Betsaida, no norte de Israel. Quando adulto, casou-se e passou a morar em Cafarnaum.
Era pescador e tinha um barco, que era dividido com seu irmão André. Os dois pescavam no Mar da Galileia. André foi o responsável por apresentar o então Simão a Jesus. Nos evangelhos, fala-se que Jesus teria curado a sogra de Simão e a partir daí o relacionamento entre os dois teria crescido e se fortalecido.
Quando conheceu Simão, Jesus lhe disse “não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens”. Foi quando Jesus também lhe disse que a partir daquele momento ele seria chamado de Pedro, que significa “pedra”, a base de algo. “Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha igreja”. A partir disso, o discípulo passa a pregar e reunir multidões.
São Pedro tinha o dom da palavra e da cura, tanto que todos queriam tocar seu manto para que fossem curados. Tal característica fez com que sua fama crescesse, bem como o número de devotos.
Quando passou por Roma pregando o Evangelho, foi preso e condenado à morte. Então, pediu aos romanos que fosse crucificado de cabeça para baixo, por não acreditar que era digno de morrer como Jesus. O discípulo teve seu pedido aceito e foi morto na área que atualmente é o Vaticano. Seus restos mortais estão na Igreja de São Pedro em Roma.
São Pedro é padroeiro de Olinda/PE, Guarapari/ES e do estado do Rio Grande do Sul. No exterior, é das cidades de Évora, em Portugal, e de Roma, na Itália.
E para celebrar São Pedro eu separei uma receita de uma coisa que eu adoro: paçoca. Se aquela que a gente compra nos mercados já é gostozinha imagine uma artesanal feita por quem entende do negócio ? Quem ensina é a Tia Nate Buffet (@tia_nate_buffet).
Clique no Play para ouvir Tia Nate ensinar uma receita de paçoca (a partir dos 23 minutos 48 segundos)
Paçoca
-- 120 gr de farinha de milho
-- 180gr de açúcar refinado
-- 280 de amendoim torrado e sem pele
-- 1 colher de chá de sal
-- 2 colheres de sopa de leite
-- 2 colheres de sopa de leite condensado
Modo de fazer
1 - Bata no liquidificador o amendoim, a farinha, o açúcar e o sal
2 - Coloque tudo numa tigela e em seguida incorpora todos os ingredientes
Você vai obter uma farinha, uma farofa meio oleosa que dá para modelar.
Vixe já estou ouvindo o povo gritando : e o licor? E o licor? Tem licor sim, duas receitas. Marcella Lelys, de A Licoreira (@licoreira), chega com a receita do licor de maracujá com chocolate branco. Arrasou né... Segundo ela, que herdou o amor pelas coisas das comidas e bebidas, da avó e da mãe, a ideia da Licoreira é dar uma roupagem nova ao tradicional com alto nível de sabor. Vamos ouvir essa jovem empreendedora.
Clique no Play para ouvir Marcella Lelys (a partir dos 25 minutos 21 segundos)
Receita licor Gourmet de Maracujá com Chocolate Branco
-- 1 lata de leite condensado
-- 1 lata de creme de leite com soro
-- 1/2 Tablete de chocolate Branco
-- 400 ml de Suco de Maracujá
-- 400 ml de cachaça de boa qualidade ou vodca
-- 1 colher de café de antimorfo
Modo de Preparo
1 - No liquidificador bata o suco com o leite condensado por 2min e acrescente o creme de leite e bata por mais 2 minutos
2 - Acrescente o chocolate derretido e bata por mais 2 minutos
3 - Depois coooque a cachaça e bata e o antimorfo por 2 minutos
E está pronto para degustar essa felicidade em forma de bebida.
As festas joaninas têm tudo a ver com tradição familiar não é mesmo ? Em Itiruçu, cidade do Sudoeste do nosso estado tem uma família que produz licores também de muita qualidade. É a Licores Kammello que garante que o pessoal não passe frio no frio inverno do município. Quem conta a história é Emily Di Giantomasso Souza, filha de Diana Di Giantomasso Souza, que é a empresária à frente desse negócio gostoso.
Clique no Play para ouvir Emily Di Giantomasso Souza (a partir dos 28 minutos 15 segundos)
E agora vamos à receita do Licor de Passa, que segundo Emily (@licoreskammello), é o mais cobiçado...
Clique no Play para ouvir a receita de licor de passas (a partir dos 29 minutos 34 segundos)
Licor de Passas
Modo de fazer
1 - Misture o álcool com a água para redução do teor alcoólico 50% de cada
2 - Faça uma calda com 3 kg de açúcar com 3 litros de água em ponto de fio
3 - Misture os dois e à parte queime 1 kg de açúcar em ponto caramelo e adicione a essa mistura para dar cor
4 - Acrescente as passas
5 - Deixe envelhecer em vasilhames escuros.
Quanto mais velho mais saboroso!
O cantor, compositor e multi-instrumentista baiano Bruno Bezerra também tem as tradições das festas de junho no sangue e um defensor ferrenho do forró de raiz. Vamos ouvi-lo.
Clique no Play para ouvir o cantor e compositor Bruno Bezerra (a partir dos 30 minutos 25 segundos)
Veja
Bruno Bezerra - Cabrueira
E voltamos a falar de música, ela que embala nossos corações, que ajuda o nosso lindo, querido, especial Nordeste brasileiro a valsar, a dançar coladinho, a ser feliz...
E para encerrar este Curta de Casa eu chamo Targino Gondim que já se declarou “peba”, meio pernambucano, meio baiano, para saudar você ouvinte e comemorar com a gente a vida!
Clique no Play para ouvir o forrozeiro Targino Gondim (a partir dos 31 minutos 40 segundos)
O mais recente projeto de Targino Gondim é o “Sem Limites”, onde ele canta com grandes nomes como Saulo, Ivete Sangalo, Zeca Baleiro e Carlinhos Brown.
Ouça
Targino Gondim
Este é o podcast Curta de Casa e eu sou Doris Pinheiro, honrando e celebrando os santos de junho e os forrozeiros da minha terra, verdadeiros guerreiros que levam para todos alegria, beleza, a representação da nossa linda, variada, forte, autêntica cultura nordestina.