Helô Sampaio

A noite em que 2 homens fugiram de 120 mulheres de camisola

Você acredita que eu nem pirei, não arranquei os cabelos, não saí nua na rua (o povo ia correr apavorado), nem fiz coisa nenhuma com essa reclusão? Pois acredite! Eu estou até achando interessante, pois nunca mais tinha ficado tanto tempo sem ficar rodando pelas ruas, sem ver esta linda cidade (a não ser quando estive internada nos hospitais nas tantas cirurgias que já fiz).

Mas vamos deixar as coisas ruins de lado. Estou achando maravilhoso passar o dia assim, bestando, podendo tomar sol no quintal, ouvir os passarinhos na varanda da frente, ou levar um tempão na televisão vendo novelas, programas, filmes e coisas que tais. Nunca pude fazer isso antes, pois saía pela manhã e só voltava à noite.

Helô Sampaio
Helô e Loly

E agora, que eu ganhei uma filhota linda, presente de Selma Macedo, Loly, uma Shih Tzu de meio quilo de fofura e 40 dias de vida, as horas passam mais doces e amorosas, a quarentena ficou cheia de ternura, a pandemia foi pras cucuias, e levou o corona de carona. Fico com Loly no colo, vendo tevê e pensando em como Deus é maravilhoso me premiando com a profissão que sonhei, por uma vida intensa de aventuras, uma família maravilhosa, amigos carinhosos e por viver numa cidade encantadora.

Quer mais, neguinho? Tintim. Vamos brindar com uma taça de vinho? É, meu fio, parei de beber mas, de vez em quando, saboreio uma tacinha de vinho antes do almoço. Trazida por Jaci, minha auxiliar doméstica, que me trata bem, viu, neguinha?

Falar em neguinha, com essa preocupação de pedalar e tomar sol todo dia (quando não chove) para ajudar na saúde, eu estou uma negona linda e gostosa, viu, fifo? Quando eu sair na rua, vai ter uma ‘gataria’ bonita aos meus pés, deslumbrados com a morenaça. Tô queimada como nos bons tempos que ia para a barraca de Juvená domingo de manhã e saía depois de curtir o pôr-do-sol, balançando feliz, com a ‘loura’ me deixando ‘prá lá de Bagdá’.

E não tenho nem uma vírgula de arrependimento hoje. Graças a Deus, fiz o que quis e pude fazer, sem me envergonhar de nada. Faria tudo de novo. E você, Juvená?

Fizemos a faculdade no mesmo tempo. Juvenal fazia Psicologia e eu, Jornalismo. Nós nos conhecemos no Restaurante Universitário, fizemos amizade, viramos irmãos. Juvenal até inventou de fazer matérias eletivas em Jornalismo, contanto que fosse no final da tarde, porque daí, íamos para o restaurante jantar, depois jogávamos pingue-pongue até às 10 horas da noite, horário que os amigos masculinos tinham que sair da Casa Universitária.

Íamos ‘bater ponto’ no Avalanche, barzinho recém inaugurado, que virou ‘point’ da galera pois era colado na Casa, onde eu morava. Éramos 120 mulheres, vindas do interior, cada uma com a cultura da sua região, cursando em todas as áreas da UFBA. Imaginem só a loucura que era conviver nesta Torre de Babel.

Lembro de uma noite que dois vagabundos resolveram entrar na Casa Universitária para roubar. Acho que eles nem sonhavam que aquela era uma casa de estudantes. Uma mansão bonita no Canela... Deviam achar que era casa de algum ricaço. Quando pularam dentro da Casa, uma colega chegou na sala onde estudávamos e disse simplesmente: “olha, entraram dois caras pelo meu quarto. Devem ser ladrões”. Velho! Levantamos já gritando e correndo para o quarto. Os caras devem ter ficado apavorados quando viram tantas mulheres, pois sumiram no espaço, talvez com medo da gritaria.

Poucos minutos depois, chegaram alguns frequentadores do Avalanche que vieram ver o que acontecia com o mulherio e, logo depois, Polícia Federal (éramos área federal, não é chique?). Eles quase enlouqueceram com o mulherio, pois falávamos todas ao mesmo tempo. E estávamos de camisola, pijaminha, calcinha e blusa, enfim com as roupas de dormir. Um panavoeiro.

Depois que a polícia saiu, para acalmarmos, eu e algumas amigas colocamos uma roupinha por cima e fomos para o Avalanche, para diminuir o choque, o trauma do assalto com uma ‘lourinha’ gelada. E também porque todos do Avalanche queriam saber os detalhes do assalto. Éramos os astros do momento. Foi uma noite memorável!

Morei na Casa quatro anos que valeram quarenta. E quando eu era a representante da Casa, inventei de levar o mulherio para conhecer um pouco do Brasil. Levava cinco homens, colegas da universidade para, achávamos, nos proteger. E tocar berimbau para animar o pedaço. Dentre eles, Juvenal.

A primeira excursão foi para Aracaju; no outro ano, fomos até Fortaleza, parando em todas as capitais na ida e voltando pelo interior. Imaginem vocês o que é a noticia de que chegou um ônibus cheio de mulheres universitárias da Bahia. Os caras faziam fila com os carros para conhecer a gente. Ofereciam carona para nos mostrar a cidade ou convidavam para tomar uma. Quando os meninos começavam a tocar, a gente ia dançar. O sucesso era imenso. Até dinheiro a gente arrecadava para completar o rango, pois era todo mundo ‘quebrado’, só tinha para o essencial. Tempo bom.

Mas o tempo agora é bom também. Basta você chegar na sua janela e ter olhos para ver os lindos desenhos das nuvens, como são bonitas as estrelas e a lua, quando é noite de lua, ou, quem sabe, ficar revivendo seus momentos bons como eu faço. E dando trabalho aos amigos como faço com a minha querida Elíbia Portela, quando fico ‘atentando’ e pedindo uma receita diferente para você.

Elíbia se formou em professora em Jacobina, depois veio para Salvador, onde até fez estágio como taquígrafa no jornal A Tarde. Filha de culinarista, foi nessa época que ela criou a sua receita especial do pão delicia, pois fazia os lanches diários para as colegas do pensionato, para ajudar a pagar a estadia.

Se você quiser aprender a fazer o verdadeiro pão delícia e diminuir a solidão da quarentena, Elíbia vai fazer um curso on line, a partir do dia 8 de junho, ás 16 horas. O telefone dela é 71 99953 4487, ou no Instagram: elibia_portela. Mas como é o mês de junho, o ingrediente da receita dela hoje é o delicioso aipim. Experimente este pudim e me diga se minha amiga não faz milagre com os ingredientes.  

Pudim de Aipim de Elíbia Portela

Ingredientes:

-- 400gr de aipim descascado, lavado e cortado em cubinhos
-- 250ml de leite de vaca
-- 200ml de leite de coco
-- 1 lata de leite condensado
-- 4 ovos
-- 50g de manteiga
1 pitadinha de sal

Modo de preparar

1 - Bater todos os ingredientes no liquidificador e levar ao forno para assar em uma forma caramelizada, usando banho-maria por 50 minutos;

2 - Desenformar ainda morno e servir com muito amor. Todo mundo vai adorar, garante Elíbia.

Beijins.