Depois de passar um tempão curtindo a minha região cacaueira, especialmente Ilhéus – com o quibe da Gabriela, a praia da Avenida, a Catedral de São Sebastião; Itabuna – com o sempre delicioso sorvete do Danúbio Azul; e Ibicaraí – com os saborosos bolos de Lali, me vejo agora trancada dentro de casa sem nem sair no portão há um mês.
Um mês, meu lindinho, sem nem ir na rua ver o senhor que vende o meu biscoitinho de goma, sem passar no Bradesco para ‘atentar’ meus gerentes Reinaldo e Adriana, sem ir ao depósito para pegar a minha bebida preferida (que é soda limonada, seu perdido, e não cerveja como esta sua mente impura já estava pensando) mas, principalmente sem rodar por esta cidade encantadora, sem apreciar esta beira de mar linda que ornamenta Salvador, que lhe serve como uma auréola maravilhosa.
Achei que ia endoidar quando vi que não ia poder botar o pé na rua. Logo eu que tenho uma carretilha nos pés. Com a quarentena, a carretilha se aposentou, eu ‘quetei o facho’ dentro de casa e só então percebi quanto ela é acolhedora e confortável. Cheia de orgulho lembrei que fui eu que a construí trinta anos atrás. Mas dificilmente, sem estar doente, havia passado dias e dias aqui dentro, batendo a cara na parede. Sabe que nem está doendo muito?
Já li todas as revistas, jornais antigos e atuais, recortes de artigos e gibis; já atualizei e quase zerei o meu estoque de palavras cruzadas (que é respeitável. Sou viciada. Imaginem que eu fiz assinatura da revista Caras por causa das palavras cruzadas, que são excelentes). Antes, quando eu trabalhava feito uma louca, eu recortava todos os dias as palavras cruzadas de A Tarde e do Estadão e as guardava para fazer depois. Juntei um tantão. Mas com o ‘corona’, já está um ‘tico’ de nada. Estou ‘economizando’ para não acabar.
‘Caçando’ o que fazer, fui mexer nas gavetas quando me deparei com um monte de fotos de uma criatura sensual, provocante, maravilhosa e sorridente. E quem é a gostosona? He-he! A bonitinha aqui. Que era ‘um pecado ambulante’, como se dizia na época. Até eu me espanto com alguns períodos em que estive muito boazuda, acredite, lindão. Sua mulher iria lhe dar uma colherada de pau na cabeça quando eu passasse na rua toda gostosa e você me olhasse, se babando todo.
Tá pensando o quê, bofe, que eu não fui um filézinho de primeira? Fui. Mas era só para o bico de quem eu queria, fio, não era pra qualquer um, não. Eu acho que até hoje eu ainda dou um belo malassado. Tá bom, um bom bife. Tá, tá, língua ferina, pode ser um bife pra comida do cachorro. Eu deixo. Mas reze pra você também chegar aos setentinha gostosa assim, viu, minha florzinha de maracujá invejosa, reze.
Fico na sala espichada na cadeira vendo tevê e, nos comerciais, olho meus quadros na parede, que são meu orgulho. Me lembro de todos os momentos em que adquiri cada um deles. Sou fissurada em telas, pinturas, pintores, em trabalhos bem feitos. Adoro. E tenho também muitas caricaturas, feitas pelos amigos. Amo tudinho. Mas agora, aquietei, e não mais me animo a adquirir novos trabalhos pois as paredes já estão lindas. Mas quando posso, vou para exposições, vejo tudo, olho, comento, elogio, critico. Amo a Arte. É quando o ser humano atinge o clímax, chega perto do divino, reproduz a Natureza e os sentimentos com as cores da alma, do coração. Privilégio de poucos.
E como não somos divinos, somos meros pecadores comilões, vamos aproveitar este período de reclusão e, depois de um almoço delicioso, feito com a criatividade do tempo ocioso, vamos seguir sugestão da nossa loura linda, Elíbia Portela, que recomenda adoçar a vida com esta compota em vez de ficar reclamando que não pode ir ao boteco tomar uma. Aventais a postos, pregue um sorriso nesta cara e rumemos para a cozinha. Vamos preparar esta compota para a nossa queridinha.
Compota de banana de Elíbia
Ingredientes
-- Um quilo de banana da prata ou d'água, maduras
-- 500g de açúcar granulado (cristal)
-- 2 litros de água.
Modo de fazer:
1) Levar ao fogo a água e as cascas de duas bananas, deixando que cozinhem até o líquido reduzir pela metade
2) Retirar do fogo e excluir as cascas, passando a água por peneira, retornando para a panela
3) Juntar o açúcar e deixar que ferva para fazer uma calda rala
4) À parte, descascar o restante das bananas, cortar em rodelas e colocar dentro da calda
5) Abaixar a chama do fogão e, com a panela destampada, deixar que cozinhe por 30 minutos. Deixar esfriar completamente e levar novamente ao fogo. Cozinhar em três etapas de 30 minutos, cada (dá um pouco de trabalho mas a gostosura compensa)
6) Desligar o fogo e aguardar que esfrie
7) Servir acompanhado de creme de leite ou queijo branco, preparando o corpo para os abraços calorosos de agradecimento pela delícia. Xero.