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Festa da Conceição da Praia começou com Tomé de Souza

A data é feriado municipal e representa uma das celebrações religiosas mais antigas do Brasil

Foto: LEIAMAISba
A festa na Igreja da Conceição da Praia
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O Dia de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador, nesta segunda-feira (8 de dezembro) teve missas desde a madrugada, procissões nas ruas do Comércio e celebrações culturais na Basílica Santuário e paróquias espalhadas pela cidade. A devoção — iniciada em 1549 — une fé católica e tradição popular, reafirmando a identidade histórica e religosa da capital baiana.

Na manhã desta segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, Salvador -- capital da Bahia -- celebra Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da cidade e do estado.

A programação, marcada por missas desde as primeiras horas, procissões religiosas pelas ruas do bairro Comércio, e manifestações culturais, atrai milhares de fiéis e turistas.

A data é feriado municipal e representa uma das celebrações religiosas mais antigas do Brasil -- com origem no século XVI. 

A devoção a Nossa Senhora da Conceição da Praia remonta a 1549, com a fundação de Salvador, quando o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, estabeleceu a primitiva capela em homenagem à santa. 

Desde então, a celebração se transformou em tradição secular.

A igreja atual -- Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia -- ergue-se no bairro do Comércio, às proximidades do Mercado Modelo e do Elevador Lacerda.

Sua arquitetura -- construída com pedras trazidas de Portugal -- remonta ao período colonial e carrega forte valor histórico e simbólico para a cidade. 

A festa une devoção católica à tradição popular: além das cerimônias religiosas, congrega manifestações culturais, música, gastronomia e expressões do sincretismo religioso presente na Bahia -- por exemplo, muitos devotos de religiões afro-brasileiras associam a santa à orixá Oxum, reconhecendo nela a simbologia da fertilidade e das águas doces. 

Programação

A festa deste 8 de dezembro teve início já nas primeiras horas da madrugada, com a tradicional “alvorada”, seguida de diversas missas, abertura oficial da data como feriado municipal e início dos cultos religiosos. 

O ponto alto da festa aconteceu às 8h, com a Solene Missa Campal realizada em frente à Basílica Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Praia, presidida pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha. 

Em sua homilia, Dom Sergio destacou a importância da devoção mariana na vida espiritual dos católicos, lembrando que a Festa da Conceição não é apenas uma homenagem à Mãe de Jesus, mas também um chamado à preparação interior para o Natal. Ele reforçou que a figura de Maria inspira esperança, fé, fraternidade e o compromisso com o amor ao próximo, valores essenciais especialmente neste período de reflexão que antecede as celebrações natalinas.

Em sua homilia, Dom Sergio destacou a importância da devoção mariana na vida espiritual dos católicos,
Foto: Betto Jr. | Secom PMS

Após a missa, a tradicional procissão levou às ruas do Comércio as imagens de Nossa Senhora da Conceição da Praia, Deus Menino, Santa Bárbara, Senhor do Bonfim, Santa Dulce dos Pobres e São José, acompanhadas por cânticos, orações e manifestações de fé de milhares de fiéis.

O cortejo percorreu vias históricas do bairro e retornou à basílica para a bênção do Santíssimo Sacramento, encerrando o rito solene da manhã. A programação segue ao longo do dia, com missas às 12h30, 14h e 15h30 -- esta última conhecida como “Missa da Amizade”.

Além da igreja-matriz, paróquias dedicadas à santa nos bairros periféricos de Salvador -- como Itapuã, Valéria, Periperi e outros -- também celebraram com novenas, missas e procissões em horários distintos, integrando a festa à toda cidade. 

Fora dos portões da Basílica, a festa se transforma em um ponto de encontro entre fé e cultura popular. Barracas com comidas típicas, bebidas, música e batuques animaram a festa, reunindo moradores locais, visitantes e turistas. 

A Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia integra o calendário oficial das festas populares de Salvador e é a segunda grande celebração do ciclo, que foi aberto no último dia 4 de dezembro com a tradicional Festa de Santa Bárbara.

A programação segue com uma série de eventos religiosos e culturais que movimentam a cidade até o Carnaval, fortalecendo a identidade, a fé e as tradições do povo baiano.

As próximas datas do calendário incluem: no dia 25 de dezembro, a apresentação de Frei Gilson na Boca do Rio como parte das celebrações do Natal, seguida pelo show de Roberto Carlos no dia 26, também na Boca do Rio. De 27 a 31 de dezembro, acontece o Festival da Virada Salvador, precedendo a Festa de Bom Jesus dos Navegantes nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro.

Em 15 de janeiro, ocorre a Lavagem do Bonfim; no dia 25, a Festa de São Lázaro; e em 2 de fevereiro, a Festa de Iemanjá.

Em fevereiro, a programação pré-carnavalesca inclui o Furdunço no dia 7, o Fuzuê no dia 8, o Pipoco no dia 10 e o Habeas Corpus no dia 11. O Carnaval tem início oficial em 12 de fevereiro, e o ciclo se encerra tradicionalmente com o Arrastão no dia 18.

Em Itabuna, segundo o portal de notícias Expressão Única, as comemorações ganham destaque especial nos bairros da Conceição e Ferradas, onde a comunidade católica mantém viva uma tradição de oração, procissões e celebrações litúrgicas.

Desde as primeiras horas do dia, fiéis participam de missas, novenas e momentos de louvor em homenagem à padroeira, considerada símbolo de pureza, esperança e proteção espiritual.

As homenagens também se estendem às cidades de Barro Preto e Uruçuca, onde a devoção à Nossa Senhora da Conceição mobiliza comunidades inteiras. Igrejas ornamentadas, cânticos religiosos e a presença de famílias inteiras reforçam a força da tradição católica na região.

Igreja guarda relíquia arquitetônica e histórica 

Foto: LEIAMAISba

Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia

Localizada no bairro do Comércio, em Salvador (BA), a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia é um dos monumentos religiosos mais emblemáticos do Brasil. Sua construção, iniciada no século XVIII, carrega séculos de história, fé e simbolismo. A igreja é dedicada à padroeira da Bahia e sua imponência atrai não apenas devotos, mas também estudiosos da arte e da arquitetura colonial.

A atual estrutura da igreja começou a ser construída em 1739, substituindo uma capela primitiva datada de 1549, erguida com a chegada de Tomé de Sousa.

O novo templo foi inteiramente projetado em estilo barroco português, sendo um dos raros exemplos de construção pré-fabricada em cantaria do mundo. Os blocos de pedra lioz -- uma rocha calcária típica da região de Lisboa -- foram talhados em Portugal, numerados e transportados de navio até Salvador, onde foram remontados como um gigantesco quebra-cabeça.

A obra foi concluída apenas em 1849, mais de 100 anos após o início da construção, o que permitiu a inserção de elementos neoclássicos em seu interior. Com isso, a igreja apresenta uma harmoniosa combinação de barroco no exterior e neoclassicismo no interior.

Fachada imponente e detalhes internos

A fachada da Basílica impressiona por sua simetria e grandeza. Conta com duas torres laterais com sineiras e colunas com capitéis decorados. O frontão é encimado por uma cruz e por imagens sacras esculpidas em pedra, com destaque para a imagem de Nossa Senhora da Conceição.

No interior, o teto é decorado com afrescos e molduras neoclássicas, com destaque para o altar-mor em mármore, que abriga a imagem da padroeira. Os vitrais e as pinturas seguem o estilo do século XIX, e o espaço ainda conserva a acústica ideal para concertos sacros e corais.

Elevada à categoria de Basílica em 1946 pelo Papa Pio XII, a igreja é também Santuário Mariano, atraindo romarias e celebrações religiosas o ano inteiro, especialmente no dia 8 de dezembro, quando é comemorada a festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia.

Além da importância religiosa, o templo representa um marco da engenharia colonial e da influência portuguesa na formação cultural do Brasil. O seu acervo artístico, arquitetônico e histórico é protegido por órgãos de preservação patrimonial e é motivo de orgulho para os soteropolitanos.

Onde fica a igreja

Endereço: Rua da Conceição da Praia, s/n -- bairro Comércio. A igreja está situada no sopé da montanha que liga a cidade Alta à Baixa, próxima ao Elevador Lacerda e ao Mercado Modelo. 

Transporte público -- ônibus ou metrô

Ônibus - Diversas linhas passam nas proximidades da igreja --0 entre elas as linhas 1034, 1130, 1203 e 1568.

Metrô - A linha de metrô mais próxima leva você até a Estação da Lapa, na região central; depois, é necessário continuar a pé ou pegar ônibus/táxi até a igreja. 

A partir do Elevador Lacerda 

Se você estiver pela parte alta da cidade (Centro Histórico, Pelourinho, Terreiro de Jesus etc.), pegue o Elevador Lacerda até a Cidade Baixa.

Ao sair do elevador no nível inferior, siga à esquerda -- a igreja fica bem próxima. 

A caminhada desde o Elevador Lacerda até a Basílica costuma ser tranquila e rápida, com belas vistas do entorno histórico e da Baía.

Outras opções

De táxi ou aplicativo de transporte (carro de aplicativo): comum e conveniente -- especialmente se você está fora do centro histórico ou com bagagem.

Se estiver em um hotel fora do centro, vale combinar metrô/ônibus + caminhada ou transporte direto.

Dia de Oxum

Em 8 de dezembro, fiéis das religiões afro-brasileiras celebram o Dia de Oxum, orixá feminino associado às águas doces, à fertilidade, ao ouro e ao amor. A data coincide com o dia dedicado a Nossa Senhora da Conceição no catolicismo, evidenciando o sincretismo religioso presente nas tradições afro-brasileiras, especialmente no Candomblé e na Umbanda.

Oxum é uma das mais importantes divindades do panteão iorubá, origem das religiões afro-brasileiras. Representa os rios, cachoeiras e todas as águas doces do mundo. Também está ligada à maternidade, sensualidade, vaidade, riqueza, beleza, intuição e proteção das mulheres, sendo cultuada como uma orixá poderosa, sensível e cuidadora.

A saudação principal para Oxum é "Ora yê yê ô!", que significa "Olha por nós, mãezinha!". Outras variações incluem "Aiê iêu" e "Òré yeye ofiderìman!" para qualidades específicas como Oxum Opará, sempre celebrando sua doçura e poder. 

No sincretismo com o catolicismo -- estratégia histórica usada para proteger as religiões africanas da perseguição durante o período escravocrata -- Oxum é associada à Nossa Senhora da Conceição, ambas representadas como figuras femininas ligadas à pureza e ao poder da criação.

Em terreiros de Candomblé e centros de Umbanda, o dia é marcado por oferecimentos, danças, cantos e comidas votivas, como o amalá (comida de orixá) e flores, especialmente rosas amarelas, cor que representa Oxum. Também são comuns oferendas deixadas às margens de rios ou cachoeiras.