
A crença de que as mudanças climáticas são causadas principalmente por atividades humanas está em declínio em diversos países, segundo dados recentes divulgados por institutos internacionais de pesquisa de opinião pública.
O fenômeno, observado com maior intensidade nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália, se intensificou nos últimos cinco anos, apontando para uma mudança importante na percepção coletiva sobre o aquecimento global.
De acordo com uma pesquisa global conduzida pelo Pew Research Center, entre 2021 e 2025, a porcentagem de pessoas que afirmam que o ser humano é o principal responsável pelas mudanças climáticas caiu entre 5% e 15% em países como Alemanha, Canadá, Reino Unido e Japão. Nos Estados Unidos, a queda foi ainda mais acentuada: de 60% para 49%. No Brasil, embora a maioria ainda reconheça o papel humano na crise climática, também houve uma leve retração na percepção, com variação de 4% no mesmo período.
Especialistas apontam que o crescimento do ceticismo climático está ligado à intensificação da polarização política, à desinformação disseminada em redes sociais e à crescente desconfiança em relação a organismos científicos e multilaterais. "Estamos vendo um movimento preocupante em que o debate científico é relativizado em função de alinhamentos ideológicos", afirma Sarah Perkins-Kirkpatrick, climatologista da Universidade de New South Wales, na Austrália.
Além disso, grupos conservadores e libertários têm exercido forte influência na opinião pública, promovendo narrativas que questionam a legitimidade dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), órgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU). Essas campanhas frequentemente enfatizam incertezas nos modelos climáticos e defendem que as variações de temperatura são parte de ciclos naturais da Terra.
O levantamento do Pew Research também identificou diferenças significativas de percepção conforme a faixa etária, o nível de escolaridade, a renda e a filiação partidária. Pessoas mais jovens, com maior nível de instrução e alinhadas à centro-esquerda tendem a acreditar com mais firmeza no papel humano na crise climática. Já os mais velhos, com menor escolaridade e inclinados à direita, demonstram mais ceticismo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 23% dos eleitores do Partido Republicano afirmam que a atividade humana é a principal causa da mudança climática, contra 78% dos democratas, segundo dados da Gallup. A mesma divisão é visível em países como Austrália e Reino Unido, onde partidos conservadores frequentemente apresentam discursos mais cautelosos ou críticos em relação às políticas climáticas.
Consequências para as políticas públicas e metas climáticas
Essa mudança de percepção pode comprometer o avanço de políticas ambientais, como a transição energética e o cumprimento das metas do Acordo de Paris. "Se a população deixa de acreditar na origem humana do problema, há menos pressão sobre os governos para adotar medidas concretas", avalia Roberto Schaeffer, professor de economia de energia da UFRJ.
Organizações ambientais alertam que essa erosão da confiança no consenso científico pode atrasar investimentos em energias renováveis, reduzir o apoio a impostos sobre carbono e enfraquecer iniciativas de mitigação e adaptação nos países mais vulneráveis.
Especialistas em educação e comunicação científica defendem o fortalecimento de programas educativos e campanhas públicas que expliquem, de forma acessível e transparente, o que dizem os estudos sobre o clima. "A ciência precisa sair dos laboratórios e ocupar o espaço público", afirma Cristina Amorim, jornalista especializada em meio ambiente. "É necessário mostrar como as decisões políticas e econômicas estão ligadas aos impactos climáticos do cotidiano".
Iniciativas como painéis interativos, podcasts, vídeos curtos em redes sociais e parcerias com influenciadores digitais têm sido utilizadas por organizações como o WWF e o Greenpeace para enfrentar a desinformação.
Evolução histórica do ceticismo climático
O ceticismo em relação às mudanças climáticas não é novo. Desde os anos 1990, grandes empresas do setor de combustíveis fósseis financiaram campanhas para semear dúvidas sobre os impactos ambientais do carbono, como mostram documentos revelados pelo jornal The Guardian em 2015. A diferença atual é a velocidade e a escala com que essas mensagens circulam, potencializadas por algoritmos de plataformas como Facebook, YouTube e X (antigo Twitter).
Segundo um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, mais de 25% do conteúdo climático veiculado em redes sociais entre 2023 e 2024 continha informações falsas ou distorcidas sobre as causas do aquecimento global.
Apesar da tendência de queda atual, pesquisadores acreditam que a percepção pública é volátil e pode se alterar diante de eventos climáticos extremos ou crises ambientais localizadas. Ondas de calor mais intensas, incêndios florestais frequentes, elevação do nível do mar e escassez hídrica são fatores que podem reforçar a urgência do debate.
"Percepções mudam quando os impactos se tornam pessoais", afirma Anthony Leiserowitz, diretor do Yale Program on Climate Change Communication. "O desafio é manter o tema no centro das atenções antes que seja tarde demais".

