Helô Sampaio

Faça um quibe do Vesúvio (aquele que Gabriela preparava em Ilhéus)


No Vesúvio, em Ilhéus

Depois de um mês de ‘férias’ na minha região cacaueira, chego a Salvador no auge do fuzuê do ‘coronavírus’. Crendeuspai! Que loucura! Ainda não tinha vivido uma ‘praga’ com uma neurose coletiva que nem essa. Com medo da doença, não saio de casa pra nada, nem para descontar pecado. Ô loco, meu!

Minha amiga Cris Caetano, que é enfermeira, veio ver se eu precisava de alguma coisa. Mal chegou aqui em casa me jogou um beijo a dois metros de distância, trouxe álcool gel pra mim, limpou a casa toda, e levou um tempo fazendo um sermão, me alertando para ter todo cuidado porque eu sou ‘pessoa de risco’. Com setentinha o risco é dobrado, eu sei. 

Agora, esse negócio de cumprimentar batendo os pés ou tossir no cotovelo, eu acho uma aberração. Escuta aqui, véio, não é melhor acenar pra pessoa ao chegar ou, se tossir, usar um guardanapo de papel descartável? Todo mundo sabe das precauções que temos que ter. Então vamos jogar beijinho, fazer coraçãozinho de longe, demonstrar o nosso amor por gestos que todo mundo entende. Bater sapatos ou cotovelos... bata-me um abacate. Com manga verde, de preferência. O importante é manter a distância das pessoas, cuidar da higiene, se preservar, que a tal da doença não é brincadeira, não. Bobeou, ela derruba a gente, mata mesmo, véio.

Voltando para o meu interior, fico realizada quando vou para Ilhéus, cidade em que vivi dos dez aos vinte anos de idade, estudando no IME – Instituto Municipal de Educação. E muitas colegas permanecem amigas irmãs até hoje, (não é, Julia Araujo e Sônia Rosa?). Toda vez que chego, Julinha me leva pra Ilhéus para revermos ‘nossa terra’ e as amigas que ainda estão por lá. Cada vez menos amigas. Coisas da vida!

Ou pego Ana, minha irmã, e vamos matar saudade da cidade. Rodamos pelos lugares mais lindos – o Cristo, Pontal, Alto da Conquista, o Convento – mas principalmente pela Avenida Soares Lopes, onde morei muitos anos com meus primos Roberto e Fernando e os tios Edelvira e Fernando Zaidan. Todos os dias, logo depois da janta, eu ia para a Soares Lopes com minha amiga Edna Mendonça, para ficar passeando da Catedral – que ainda estava em obras de conclusão – até o Cine Santa Clara.

De vez em quando, sentávamos em frente à praça Ruy Barbosa ou da praça Castro Alves, para atualizarmos as fofocas e esperarmos os amigos – Jurandir, Nestor – que sempre vinham para a Avenida, pois na época era o programa mais interessante para a noite. (Estou falando dos anos sessenta, velho. Como eu disse, vivi lá dez aninhos importantes da minha vida. Foi quando rolou os namoricos e o primeiro beijo – que foi no cine Santa Clara. Depois veio o resto. ‘Xá’ pra lá).


Com Ana, no Vesúvio

Hoje, quando chego em Ilhéus, corro a cidade mas ‘armo a barraca’ no Vesúvio, o restaurante da Gabriela Cravo e Canela, que tem o busto de Jorge Amado e a maravilhosa Catedral de São Sebastião bem na frente, lembrando que a arte e a literatura elevam o nosso espírito. Sento sempre nas mesinhas da varanda para poder ficar olhando o mar, a Catedral e o grande escritor, enquanto saboreio os deliciosos, os saborosos quibes da Gabriela que continuam fazendo sucesso. Alterno o quibe com o charutinho árabe e as pastas. Faço uma farra gastronômica pois tudo lá é delicioso e bem feito, desde os meus tempos.

Eu fui colega de Bidulinha, o filho de dona Lurdinha (que era gente muito boa e que diziam ser a Gabriela). Éramos muito amigos. Ele era ‘o capeta’ no pingue-pong. Jogávamos no grêmio do IME e ele ganhava todas. Íamos sempre ao Vesúvio comemorar as vitórias na escola. Ainda bem que hoje os turistas têm o Vesúvio como ponto de visitação e degustação. Ah! Nas quartas-feiras o cardápio do restaurante é todo de comida áraba. De primeira qualidade. Quando estou lá, vou com Ana para Ilhéus só para saborear os petiscos do Vesúvio. Ela aproveita que eu não estou bebendo (e fico responsável por dirigir), e toma uns chopinhos acompanhando os tiragostos. Eu fico nos sucos deliciosos mas desconto nos quibes. Amo viajar para a minha terrinha. Não, mente impura, não é só pelas comidas, não. É amor pela terra mesmo.

 Pedi a Dill Guimarães, o chefe de Cozinha do Vesúvio para dividir a delícia do quibe da Gabriela com os meus leitores. E ele quebrou o segredo do sucesso da casa e me enviou a receita. Dei pulinhos de alegria. Vem, meu benzinho, vamos preparar esta maravilha para surpreender o nosso amorzinho. A recompensa virá rápida, com certeza. Aventais a postos, rumemos para a cozinha.

Kibe centenário Vesúvio

Ingredientes
-- 500g de trigo para quibe
-- 1 litro de água fervente
-- 500g de carne moída
-- 1 cebola grande
-- 4 dentes de alho
-- 2 ramos de hortelã, todos picados finamente
-- 2 colheres (café) de pimenta síria
-- Sal e um condimento a seu gosto.

Modo de preparar:

1) Colocar a farinha de trigo para o quibe de molho por aproximadamente três horas; depois escorrer e espremer;

2) Juntar a carne moída, a cebola picada, o sal, a pimenta e o hortelã, misturando tudo com as mãos até ficar uma massa com liga;

3) Modelar os quibes a seu gosto e fritar em óleo quente, na temperatura de 170° C por cinco minutos.

Saborear com o bem querer esta delícia centenária da Gabriela que faz sucesso até hoje.