Helô Sampaio

Lembranças de Ibicaraí (e um pavê de Cachacinha para completar)


Alegria no sítio de Cachacinha e Maria, em Ibicaraí

Estou de volta ao interior, a minha terra natal, Ibicaraí, onde reencontro meus velhos amigos e conterrâneos, e também revendo Itabuna e Ilhéus, cidades que fazem parte da minha infância e adolescência, pois fui fazer o curso ginasial em Ilhéus. Na maioria das sextas-feiras, minha mãe vinha a Ilhéus para ver a filhotinha amada. Mas toda vez que ela entrava no carro para voltar a Ibicaraí, tinha que aguentar a minha sessão ‘chororô’ (e muito chororô), pois eu nunca me acostumava ficar sem ela, a minha mamãe amadíssima.

Logo que chego, vou ver a família, o povo novo que nasceu, os sobrinhos. Depois vou na casa dos amigos que ainda moram lá. Outra alegria, quando os encontro. Alegria que não é muito completa porque eu parei de ‘virar o copo’ mas a galera no interior fica a cada dia mais competente na mesa do bar. Bebem com uma classe... que me deixa com inveja. E não saem ‘balançando’. Espero ter sido competente assim nos meus bons tempos de ‘halterocopismo’.

Mas, falar em amigos, tive uma ótima surpresa outro dia: o amigo Henrique Barros convidou a mim e a Ana, minha irmã, para irmos ao Centro Espírita Bezerra de Menezes, aqui em Itabuna. Antes do início da sessão fui cumprimentar a coordenadora, quando descobrimos que somos amigas de infância. Ela é Marlene Matos, nascida em Ibicaraí, onde vivemos até a adolescência. Foi uma alegria só, pois tem mais de 50 anos que não nos vemos. E ela continua muito ativa e energética, uma pessoa que lidera, que emite simpatia. Amei o encontro e o culto, que me deixou em paz com o mundo.

Mas a surpresa não parou aí. Na saída, uma senhora simpática se aproximou de mim, pegou em meu rosto e perguntou: ‘Não está lembrando de mim?’. Não, eu não estava. Aí, ela falou: ‘Sou Raimunda, aluna do Centro Educacional’. Surpresa, eu a reconheci e dei um abraço bem apertado. ‘Ah! É Raimunda, aquela ‘pintona’ do ginásio, que me deixava de cabelos brancos aos 20 anos, não é?’.

A menina era uma carrapeta, que aprontava, fazia estripulias, mas que eu defendia, como a todos os ‘pintões’, quando Léa Galrão, a diretora do Centro, queria dar uma punição (mais para educar). Eu era a secretária, e braço direito de Léa. E sempre intercedia para diminuir o castigo: ‘Em vez de suspender o resto das aulas, Léa, não seria melhor deixar ela aqui na Secretaria, durante o recreio, já que ela não gosta de ficar quieta?’. Léa sorria e concordava. E Raimunda passava o intervalo quietinha, me olhando de cara fechada. Mas no próximo intervalo, vinham novas ‘pintanças’ dela ou das outras turmas. Eram todos uns ‘pinga-fogo’. Foi um tempo bom na minha vida!

Outra alegria em Ibicaraí é ir ao sítio de Maria e Cachacinha, todos dois meus ex-alunos. Maria era colega de Ana e estudava pela manhã; e Cachacinha à noite. Até que o dia se encontrou com a noite, casaram, tem filhotes maravilhosos (Ordival, o mais velho, até casou com a minha sobrinha Flavinha). Todo ano chego lá nesta época natalina para ver o presépio que a cada ano Maria faz mais lindo e maior. Antes de ir, marco o almoço, pois gosto de ver o presépio com calma, he-he, olhando todos os detalhes. Não é porque Cachacinha é o capeta no fogão e faz um rango delicioso, não, mente impura. É pela devoção natalina, he-he.

E a receita hoje é o pavê que ele prepara e que eu amo. Eu já dei esta receita um tempo atrás, mas Ana achou melhor repetir para quem não anotou porque é simples mas delicioso. Então bonitinhos, aventais a postos, vamos executar o pavê com que Cachacinha conquistou o coração de Maria. E você vai conquistar o da sua amadinha.

Pavê de Cachacinha de Ibicaraí

Ingredientes iniciais:
-- 4 ovos – passar as gemas na peneira e reservar as claras
-- 2 latas (ou caixas) de leite condensado Nestlé ( mesma medida de leite de vaca)

1) Misturar tudo e levar ao fogo mexendo sem parar – para que não grude no fundo – até ferver. Retirar do fogo e colocar num pirex com tampa, para que não endureça muito.

2) Misturar duas latas de leite de vaca fervido com aproximadamente 4 colheres (sopa) de Nescau (até que fique bem ‘moreno’), e uma colher (sopa) de Maisena; levar ao fogo para engrossar. Quando ferver, retirar do fogo e cobrir todo o pirex com biscoito champagne ou de maisena, se preferir.

3) Bater as 4 claras em neve, reservadas, e misturar com uma lata de creme de leite. Finalizar colocando por cima do pavê. Enfeitar com passa ou ameixa sem caroço. Levar para a geladeira até servir aos convidados especiais, fingindo que não os vê lambendo os dedos.

Beijins e Feliz Natal, meu amores lindo. Que Papai Noel traga saúde, paz, amor, felicidade e alegria. Amo ôceis tudim!