Helô Sampaio

Como fazer uma torta portuguesa

Uma ótima opção para depois de uma visita à Cidade Baixa, em Salvador

Depois da canonização da nossa santinha Dulce dos Pobres por Francisco, meu papinha amado, eu passei a me sentir um pouco estranha. Gente, não é todo mundo que tem o privilégio de beijar e abraçar uma santa. Santa mesmo, de verdade. E eu tive. Irmã Dulce era uma doçura de pessoa, muito tímida apesar da firmeza de caráter, ativa, era uma lindura de pessoa.

Toda vez que ela aparecia no jornal A Tarde, eu acho que ela ‘rezava’ para que eu não a visse pois na hora que ela apontava no corredor, eu pulava da prancheta e corria para recebê-la, abraçá-la e beijá-la: Minha irmãzinha linda veio nos visitar. E tome-lhe beijo. Ela ficava com os olhos baixos, morrendo de vergonha, com a redação toda rindo com o meu espalhafato. E ela, sorrindo timidamente, só dizia: ‘Obrigada, Helo, he-he, obrigada’. Aí, eu a levava ao gabinete do Dr. Jorge Calmon. Mas na saída, outro pulo para o beijão de despedida e para acompanhá-la até o carro depois de mais abraços. Eu amava Irmã Dulce, a minha santinha amadinha.

Como minhas irmãs estão passando uns dias aqui comigo, saímos para matar saudade da nossa bela cidade. E passamos lá por Irmã Dulce, mas nem deu para entrarmos pois estava muito cheio de gente. Voltaremos lá outro dia. Fomos então para o Bonfim, pedir a bênção ao ‘Pai Velho’, e depois ficamos rodando pela área – Mont Serrat, Boa Viagem – curtindo as belezas da nossa capital, que continua deslumbrante.

Depois de muito rodar pelos lugares lindos da Cidade Baixa, fomos almoçar no restaurante Por do Sol (o garçom, Vando, é uma simpatia), onde a beleza do mar, do céu e do sol nos faz companhia tornando o momento lindo, inesquecível. É quase perfeito sentar numa mesa, saborear uma boa comida apreciando um marzão lindo ao lado, mostrando toda sua beleza. Amei!

Levei-as depois para conhecer Irmão Gabriel, que faz trabalho comunitário onde os  idosos carentes são acolhidos e tratados com dignidade. Conheço Irmão Gabriel há muitos anos, desde quando ele era frei do Mosteiro de São Bento (na Avenida Sete). E todos os dias, quando saía, se deparava com vários idosos que dormiam na porta do Mosteiro, abrigados pela nave central da igreja. Até que um dia, não aguentando ver tanto sofrimento, ele pegou os cinco idosos que faziam pouso mais constantes por lá, alugou uma casinha na Massaranduba – que eu cheguei a conhecer – e levou os velhinhos pra lá, trazendo sua mãe para cuidar deles.


O abraço de Irmão Gabriel

Hoje, o Abrigo São Gabriel para Idosos de Deus acolhe 65 velhinhos num casarão da Boa Viagem (Rua da Boa Viagem, 161) e precisa contar com todo nosso apoio para continuar neste trabalho de dar qualidade de vida a quem não tem condições. Ele já retirou vários idosos da rua, outros são abandonados pela família que até os deixa lá mas não voltam mais nem pra visitar, enfim, irmão Gabriel deve ter recebido de Deus a missão aliviar a dor dos mais necessitados.

Mas ele precisa do nosso apoio nessa missão. Quem puder ajudar (com roupas, alimentos, ou algum dinheiro), pode ligar para ele (71 99999 8837 ou 33148287) ou se informar pelo email abrigosaogabriel@hotmail.com. Tenha certeza de que estará amparando pessoas necessitadas que voltaram a viver com dignidade e respeito. Amo Irmão Gabriel por este trabalho, esta dedicação aos idosos desamparados.

Mas eu estava contando estas aventuras a minha vizinha Miriam Medina, já marcando para leva-la para conhecer o Abrigo São Gabriel, quando ela me surpreendeu com o embrulhinho que trazia na mão. Era um presente para mim: tortas portuguesas, receita da sua família praticada por várias gerações. E fez questão de contar toda história da torta. Vejam que lindo.

“Tudo iniciou na década de 50. O Brasil começava um novo caminho para a modernidade, com muitos avanços e uma nova capital sendo erguida. Ótimo argumento para uma pequena família portuguesa, vinda do além-mar para se instalar nas terras patrícias. E trazendo na bagagem muitos sonhos e esperança de um futuro mais promissor. Com ela, vieram muitas histórias, paninhos, e uma mesa farta pois, para um bom português, a mesa tem que ser farta de iguarias lusitanas, mas também de lembranças da santa terrinha. Já dizia minha avó Adelaide ‘quem conversa à mesa, não envelhece’. Ela dizia também que comia ‘muitas batatas no lugar de carne, para poder sobrar mais alguns trocados’ e que ‘a vida é dura, mas não posso me queixar, pois esta terra me deu um lugar’. E ela amava este lugar.

Dentre as muitas iguarias que ela sabia fazer, havia uma em especial que ela passou para minha mãe, que passou para mim (muitas vezes, ao entrar em casa, eu sentia o aroma no ar, mas toda casa portuguesa sempre tem um delicioso cheiro de quitutes no ar) e já sabia do que se tratava. Eram "Tortas Portuguesas, pá" que minha mãe estava fritando na banha do porco, banha essa que sempre tinha na geladeira envolvendo o "chouriço" defumado. Posso até sentir esse aroma novamente. Sim, as tortas aqui são salgadas, e não doces. Experimente essa deliciosa comidinha rápida, fácil e muito prática. Aventais a postos.

Tortas portuguesas da Vó Adelaide, pá!

Ingredientes
-- 
2 xícaras de salsa bem picada
-- 2 xícaras de cebolinha bem picada
-- 2 xícaras de calabresa bem picada, ou a gosto
-- 10 ovos para poder render 
-- 2 colheres de sopa de farinha de trigo
-- Sal a gosto

Modo de preparar:

1) Bater os ovos e juntar o restante;

2) Fritar numa frigideira pequena com pouco óleo. (na quantidade de mais ou menos meia xícara para fazer pequenas tortas que fica mais gostoso);

3) Virar para dourar nos dois lados e depois colocar em cima de papel toalha para absorver o óleo.

Miriam adianta: “aqui em casa comemos com pão. Tem que ser com pão, né?!, Pois se trata de uma casa portuguesa, com certeza. Ora pois”.

Concordo e gostei muito de saborear esta delícia. Prova também, lindinho!