Alberto Oliveira

Um partido que prefere nadar nos erros a buscar a segurança da praia

E quando alguém acerta, recebe críticas

Imagine alguém sendo arrastado por uma corrente de retorno e que, em vez de se agarrar à boia salva-vidas prefere xingar quem está lhe mostrando como chegar à segurança da praia.

Pois esse é um retrato esculpido em Carrara do PT, o Partido dos Trabalhadores.

Derrotado nas urnas por um candidato que em sua atuação como deputado federal nunca foi além de declarações fora do tom, o PT prefere continuar atolado até os colarinhos nos próprios erros do que a) admitir os equívocos (os muitíssimos equívocos) e, b) mudar de tática, de "modus operandi", de discurso, do que seja, em busca da reconquista dos eleitores e, portanto, do poder.

Fechado sobre si mesmo, prefere repetir à exaustão palavras de ordem desgastadas, fazer discursos para seu público interno, em lugar de conquistar novos corações e mentes.

Nas eleições passadas, errou feio ao desprezar Ciro Gomes; errou feio ao transformar Fernando Haddad em dublê e ventríloquo de Lula; errou feio ao esconder as cores do partido, camuflando-se em um verde e amarelo que mais lembrava seu adversário; errou feio ao insistir em uma candidatura impossível: a do ex-presidente Lula, encarcerado em Curitiba, prisão mantida por todas as instâncias da Justiça, tenham sido corretos ou não os procedimentos jurídicos que o levaram à cadeia.

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É nesse ponto que surge o discurso lúcido do governador da Bahia, Rui Costa, em entrevista à Veja. "O PT precisa mudar", disse.

Reeleito para o segundo mandato com 75% dos votos, Rui Costa é a maior liderança do partido, hoje, no Norte e Nordeste, e vem ampliando seu cacife eleitoral, o que pode viabilizar uma candidatura à Presidência do País, em 2022.

Para ele, "o certo era ter apoiado o Ciro Gomes lá atrás". Admite que o Partido dos Trabalhadores se desconectou da sociedade brasileira (ora, basta ver as recentes manifestações de rua organizadas ou apoiadas pelo partido e como é visivelmente minguante a participação de pessoas fora da militância).

E mais disse o dirigente baiano: "Não dá para um partido do tamanho do PT, ou simbolicamente forte, como PDT e PSB, ficar só na negativa." 

E que faz a Comissão Executiva Nacional do PT, um partido com a água chegando ao nariz? Reflete, conscientiza-se dos erros cometidos, prepara a mudança de postura? Não. Critica quem lhe mostra o caminho da praia, reforça os enganos cometidos, aprofunda o discurso de palanque, defende o indefensável: o governo ditatorial da Venezuela, que joga tanques sobre seu povo, nas ruas.

O PT considera "Lula livre" central na defesa da democracia. Ora, Lula preso nunca foi uma ameaça à democracia. Pode-se argumentar que sua prisão é uma injustiça, uma "aberração gigantesca", como ressaltou o governador Rui Costa na entrevista à Veja. Mas daí a considerar que o regime democrático encontra-se ameaçado enquanto Lula continuar nas dependências da Polícia Federal em Curitiba é um equívoco tão grande quanto a Executiva do PT concluir que deve continuar debatendo-se nos erros em vez de seguir na direção apontada pelo governador da Bahia.