Ele é considerado ápice do prazer. O ponto alto de uma relação sexual. Pode causar arrepios pelo corpo, um leve choque elétrico ou provocar um leve calor. O orgasmo é tido como a “linha de chegada” do sexo.
Hoje, 31 de julho, é celebrado o ‘Dia Mundial do Orgasmo’. A data surgiu em 1999, por iniciativa de algumas sexshops britânicas, com o objetivo de aumentar as vendas de brinquedos sexuais (vibradores) e iniciar o debate sobre as dificuldades que algumas pessoas sentem em atingir o ápice sexual.
O corpo da mulher envia sinais de que o clímax chegou ou está para chegar: a respiração fica ofegante, há ondas de calor pelo corpo todo; o útero incha, dobrando de tamanho; os batimentos cardíacos aumentam de maneira constante e a lubrificação se torna maior, facilitando a penetração.
Quando a excitação atinge o seu apogeu, o clitóris fica extremamente sensível, adquirindo uma coloração avermelhada por causa da maior irrigação sanguínea na região. As contrações dos músculos pélvicos indicam que o gozo chegou, desencadeando uma explosão de prazer. A mulher sente leveza e uma pequena ‘moleza’ no corpo. Segundos depois, há uma sensação de bem-estar e aos poucos, há o relaxamento da musculatura pélvica.
Masturbação auxilia no orgasmo
Para atingir o orgasmo, a mulher precisa se permitir a ter prazer e a masturbação pode auxiliar nesse processo. O ato de se masturbar é considerado um tabu, pois ainda carrega estigmas. A masturbação é vista como um comportamento desordenado, segundo o Catecismo da Igreja Católica (CIC). Muitas mulheres não a praticam por receio e algumas a consideram como algo sem importância na vida sexual.
Na opinião da médica ginecologista, sexóloga e psicoterapeuta Alcione Bastos, a mulher tem que se livrar de pensamentos arraigados e limitantes sobre a masturbação.
“Os homens sempre se masturbaram, todos sabem disso. As mulheres começaram a praticar a masturbação muito depois. Elas ainda não valorizam esta prática de se tocarem por temerem os estigmas que a masturbação supostamente carrega. A mulher tem que incorporar este hábito no seu dia a dia, ter um tempo para ela mesma, sozinha. Se ela não se toca, não se masturba, fica complicado atingir o clímax sexual. Ela tem que se entregar a isso. A masturbação é a melhor forma de a mulher treinar como ela gosta de ser estimulada até chegar ao orgasmo. Ela experimenta sensações de prazer através dela. Com a auto excitação, a mulher fica mais empoderada, mais solta, menos tensa na hora da transa”.
Para Paula Milena, sexóloga, fisioetrapeuta pélvica e palestrante, as mulheres não se masturbam por falta de incentivo e por receberem uma educação machista.
“A grande maioria delas não se masturba por terem recebido uma educação machista, que ainda insiste em afirmar que uma mulher que pratica a masturbação é vista como impura e suja. Isso impede que a mulher tenha esse treino, que adquira o autoconhecimento sobre o seu próprio corpo. Uma das inúmeras formas dela praticar a masturbação pode ser utilizando os vibradores, eles podem ser utilizados como treino para potencializar a vagina a trabalhar a força da musculatura pélvica. Eles também servem de incremento na hora do sexo. Ela pode utilizá-los para obter mais prazer."
Maioria das mulheres não consegue "chegar lá"
As mulheres, em sua grande maioria, não conseguem atingir o orgasmo. Um estudo publicado no periódico Archives of Sexual Behavior, em janeiro de 2018, revela que as mulheres heterossexuais são o grupo que chega menos vezes ao orgasmo: somente 65% das vezes em que mantêm relações.
Em 2017, o Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (Prosex) revelou que 55,6% das mulheres brasileiras têm dificuldade de ter orgasmo em uma relação sexual. Entre as várias causas apontadas, 67% responderam que têm dificuldade para se excitar e 59,7% sentem dor na relação.
Para a psicoterapeuta Alcione Bastos, a dificuldade que elas têm em chegar ao orgasmo se dá porque a mulher descobriu tardiamente o prazer sexual e por possuir expectativas muito altas em relação ao sexo.
“Com o advento da pílula [anticoncepcional], a mulher descobriu que poderia ter sexo sem comprometer a sua fertilidade, o sexo poderia ser praticado para ter prazer. Ela aprende a se liberar sexualmente, tendo a possibilidade de ter orgasmos prazerosos. Nessa medida, elas têm expectativas mais altas com relação à vida sexual delas. No entanto, essa expectativa que elas têm, nem sempre é correspondida. Se o homem não acompanha este empoderamento feminino, essa liberação da mulher de querer gozar no ato sexual, independente de ter a obrigação de somente proporcionar prazer ao homem, ela ficará eternamente insatisfeita e ficará buscando algo melhor, o tempo inteiro, alimentando essa insatisfação e dificultando a chegada do orgasmo. O parceiro precisa perceber que o sexo também deve satisfazer a mulher”, explica a especialista, salientando que as mulheres não podem ter receio de se permitir atingir ao orgasmo.
“A mulher não pode ter medo de cruzar esta linha, de gozar, ela tem que se entregar para que haja uma liberação nos centros cerebrais de uma quantidade muito grande de hormônios e neurotransmissores que vão causar os espasmos e as contrações que ela vai sentir em qualquer parte do corpo, no ápice do clímax sexual. O orgasmo é um evento cerebral e a mulher precisa se deixar sentir esta explosão de prazer”.
Para Paula Milena, a falta de habilidade da mulher em falar sobre sexo é mais um empecilho para chegar lá.
“Os homens são estimulados de forma excessiva a trabalhar a sua libido, o seu prazer. A mulher, não. Essa limitação também impede a mulher de gozar. Isso faz com que ela sempre fique esperando algo do seu parceiro, que nunca chega. Essa falta de parceria sexual faz com que os homens acabem não preenchendo a sua parceira. Isso desconcentra a mulher e desestabiliza, fazendo com que ela não se sinta tão completa na hora do sexo, consequentemente, será difícil chegar ao orgasmo”.
Dor durante o sexo
A dor na hora da transa é um problema que afeta algumas mulheres, prejudicando a vida sexual, trazendo descontentamento e podendo acarretar distúrbios psicológicos.
O vaginismo causa incômodo. Ele costuma resultar do medo de que a relação sexual seja dolorosa, é uma disfunção sexual do período da excitação da mulher. O problema impede a penetração no canal vaginal.
“ A mulher não consegue ser penetrada, pois o problema causa muitas dores. É um estreitamento involuntário do diâmetro da vagina, um bloqueio psicológico que a mulher sente no corpo como se algo impedisse completamente a abertura do canal vaginal para qualquer tipo de penetração, seja pelo pênis, por um espéculo vaginal, pelo dedo, por um vibrador ou até mesmo por um absorvente interno”, explica a médica ginecologista.
De acordo com a especialista, existem diferentes graus de vaginismo: o grau primário é quando a mulher nunca se permitiu uma penetração, ocorrendo na primeira tentativa de sexo. O grau secundário é quando a mulher teve uma situação traumática ou passou por períodos de estresse. A mulher pode desenvolver uma hesitação fóbica da tentativa de penetração. As mulheres com vaginismo não toleram a penetração completa ou mesmo parcial. O diagnóstico passa por uma avaliação clínica ginecológica e por exame pélvico.
Já a dispareunia é a dor sentida ao se tentar a relação sexual durante ou na tentativa de coito. A dor pode ser superficial, sentida na área em torno da abertura vaginal ou a dor pode ser pode ser profunda dentro da pelve quando o pênis ou um vibrador é introduzido. Os músculos pélvicos ficam tensos, aumentando a dor. O problema também pode ser resultado de secura vaginal, com lubrificação insuficiente ou distúrbios dos órgãos genitais.
O diagnóstico baseia-se na descrição da mulher sobre o problema, incluindo quando e onde a dor é sentida, e nos resultados de um exame físico.
Por fim, a vulvodínia, é dor na vulva (conjunto de órgãos da genitália feminina que são visíveis: o púbis, grandes lábios, pequenos lábios vestíbulo vulvar, clitóris, óstio da uretra, introito vaginal e períneo), com duração mínima de 3 meses. A condição pode causar dor pélvica crônica, queimação, irritação e vermelhidão. Tarefas simples como colocar um absorvente interno, vestir uma calça jeans ou andar de bicicleta, causam dor e ardência.
O problema não tem causa clara identificável, podendo surgir de repente ou lentamente, com o passar do tempo. O primeiro registro na literatura médica sobre esta condição, data do ano de 1880, e é descrito como ‘hipersensibilidade da vulva’.
Há dois tipos de vulvodínia:
A vulvodínia geral: encontrada em diferentes áreas da vulva. A dor pode ser constante ou pode ir e vir.
A vulvodínia localizada: a dor em uma área específica da vulva. É associada com uma sensação de ardor, provocado pelo toque ou pressão, como na penetração ou a mulher permanecer muito tempo sentada. Este tipo de vulvodínia causa um desconforto no sexo, tornado a sua prática insuportável.
Alguns fatores podem ajudar a desenvolver a doença como sensibilidade à dor, fatores genéticos, disfunções no assoalho pélvico, candidíase de repetição, alterações hormonais e até questões psicológicas
O diagnóstico é feito pelo ginecologista, que irá realizar exames de observação e toque, para identificar os pontos de sensibilidade ou dor.