Jolivaldo Freitas

Do amor ao ódio ou muito pelo contrário

Em todos os tempos o futebol brasileiro teve personagens importantes e geniais e em todas as vezes eles demonstraram comportamento, digamos, diferenciado, mas é a primeira vez que um ídolo causa tanta esquizofrenia ou dubiez de sentimento para o admirador. Pelé foi genial em campo, mas levou uma vida para reconhecer sua filha Sandra Regina, gerada fora do casamento; e se gerou um certo mal-estar entre suas fãs, em nada mudou a sua imagem de rei do futebol.

Garrincha é tido até hoje como o segundo maior gênio do futebol brasileiro. Fora do campo era protegido, pois mesmo sendo um ébrio e vivendo do apoio moral e financeiro da cantora Elza Soares, foi ela que levou a pecha de destruidoras de lar quando se encantou pelo dono da bola. Atingiu o caráter de gênio de pernas tortas que fazia mais “palhaçada” que Neymar à beira do campo.

Temos outros casos de jogadores que se doparam, se drogaram, beberam, cheiraram e nada disso deixou sua torcida irada ou frustrada. Neymar é o primeiro caso no futebol brasileiro em que é anjo e demônio ao mesmo tempo. Não é por se tratar de uma carreira feita na era da internet que sua imagem é vilipendiada. Sereia a mesma coisa em outros tempos. A torcida brasileira reconhece seu talento, sua genialidade com a bola nos pés, mas se irrita com o que convencionou-se chamar de cai, cai ou encenação. Um ator.

A Copa da Rússia serviu para colocar mais fervura no dendê. O técnico do México disse que Neymar é um péssimo exemplo para as crianças. Aí vem Lukakus, atacante da Bélgica e diz que Neymar é mágico. “Neymar não é ator”, enfatizou. E garante que o rapaz foi realmente atacado pelos adversários, que chegaram para arrebentar por não saberem o que fazer com ele e o que vai acontecer no momento seguinte que ele pega a bola.

Mas Neymar irritou o mundo todo, isso até o jornal O Globo disse. Daí, do nada, vem uma das mais conceituadas revistas norte-americanas a The Atlantic que se abespinha com os críticos e sai em sua defesa. Diz com todos os verbos, pronomes e adjetivos que Neymar é um gênio chato que fez valer assistir à Copa do Mundo. E esse foi o título da reportagem e não uma oração perdida num parágrafo qualquer. Foi um verdadeiro manifesto em defesas do jogador brasileiro. A revista critica, sim, a hipocrisia da Inglaterra e dos Estados Unidos que incensam o fair-play, mas não o têm em nenhum quando em campo, numa situação estressante.

Neymar sempre levou os brasileiros à esquizofrenia, do amor ao ódio e vice-versa ou sabe-se lá. Acho que temos é de protege-lo. Como sempre se fez com Pelé e de Garrincha. Para a revista The Atlantic nosso Neymar está certo e o mundo é que está errado.