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"Não há saída que não seja na política", diz Lídice

Confira entrevista exclusiva à Tribuna

Para a senadora Lídice da Mata (PSB), é preciso mudar as regras do jogo político para que o Brasil saia da crise. “Acho que a saída nesse momento é devolver para o povo o destino da nação, através da eleição direta. Convocarmos o povo para decidir sobre o seu destino”, analista em entrevista à Tribuna, acrescentando fortes críticas ao presidente Michel Temer (PMDB), que, segundo ela, não tem condições de permanecer no poder. “A última pesquisa já mostra o presidente com aprovação de apenas 5,5%, é muito pouco para um Presidente da República e, principalmente, para quem pretende conduzir uma reforma impopular.

Sempre fui muito crítica da ideia de que a impopularidade do presidente poderia lhe dar condição para fazer as reformas mais impopulares que já houve no Brasil desde a redemocratização. E nem na Ditadura Militar o governo ousou mexer tanto na legislação trabalhista e previdenciária como o atual presidente.

Eu não acho que seja de bom gosto político, perdendo-se popularidade, insistir no caminho de impor à população a sua opinião”, prossegue. Citada na Operação Lava Jato, a parlamentar afirma que é preciso separar doação legal de propina. “É chegada a hora de mudar a forma de fazer política e é chega a hora de mudar as leis também.

Se combater a real corrupção e separar o que não é corrupção de corrupção. Porque quando a gente mistura tudo, no fundo, estamos protegendo quem faz a corrupção”, afirma. Ainda na entrevista, a socialista fala sobre o governo Rui Costa e sobre as eleições de 2018.

Tribuna - Senadora, como a senhora está vendo esse momento tenso da política no país?
Lídice da Mata -
Olha, os meus olhos são olhos de preocupação. Eu vivi de forma muito próxima e direta que o Brasil passa por uma crise econômica. A crise política é gravíssima porque ela parece não ter fim. Quando a gente pensa que ela vai acabando, emenda uma outra crise. Então isso é muito ruim, porque gera no povo uma sensação de angústia, de algo que não se acaba.

Tribuna - A OAB defendeu o pedido de impeachment e novas eleições. Como a senhora vê a situação do presidente e até quando ele se mantém no poder?
Lídice -
Até quando é muito difícil de responder. Toda a crise está com a decisão do presidente em não renunciar, cria uma situação mais complicada ainda, porque ele vai esticando a crise. Ao esticar a crise, vai esticando também a sua capacidade de responder a ela. Ele vai ficando mais fraco na resposta. Vai perdendo credibilidade na opinião pública. A última pesquisa já mostra o presidente com aprovação de apenas 5,5%, é muito pouco para um Presidente da República e, principalmente, para quem pretende conduzir uma reforma impopular. Sempre fui muito crítica da ideia de que a impopularidade do presidente poderia lhe dar condição para fazer as reformas mais impopulares que já houve no Brasil desde a redemocratização. E nem na Ditadura Militar o governo ousou mexer tanto na legislação trabalhista e previdenciária como o atual presidente. Eu não acho que seja de bom gosto político, perdendo-se popularidade, insistir no caminho de impor à população a sua opinião. Porque a democracia se baseia justamente no apoio popular, justamente na representação da sociedade. Como é que alguém que está com uma popularidade tão frágil pode impor à nação uma pauta tão perversa em um tempo tão pequeno? Acho que o caminho exige que nós possamos suspender esse processo de debate. O presidente não tem mais condição de manter essa pauta.

Tribuna - O que causa mais perplexidade na visão da senhora, sobretudo nas gravações que vieram à tona nas últimas semanas?
Lídice -
As gravações causam perplexidade por tudo. Porque acho absolutamente chocante que, até o próprio Supremo decida gravar um presidente da República daquela maneira. Eu sou oposição ao presidente Temer, mas me chama muito a atenção a fragilidade do cargo, de como ele se coloca nesse momento, de como alguém pode decidir gravar um presidente da República e colocá-lo numa armadilha. E a segunda perplexidade é a forma como o presidente se coloca nessa armadilha, como ele responde a essa armadilha, como ele se coloca íntimo daquele ambiente com aquela pessoa [Joesley Batista], com o discurso que teve. Onde ele acha que não disse nada ao dizer que o seu interlocutor afirmou que está “bem” com alguém que está preso e ele diz ‘permaneça assim’ - e acha que isso não tem nenhum problema. Então, acho tudo muito ruim.

Tribuna - Qual a saída para o caos instalado hoje no país? Uma saída política ou jurídica?
Lídice -
Obviamente não há saída num processo democrático que não seja política. É preciso unir as duas coisas, mas não há saída fora da política. Acho que a saída nesse momento é devolver para o povo o destino da nação, através da eleição direta. Convocarmos o povo para decidir sobre o seu destino.

Tribuna - As últimas delações igualam Dilma, Lula, Temer e Aécio?
Lídice -
Não sei se igualam. Acho muito ruim essa discussão. Elas apenas revelam que o ambiente político no Brasil esgotou um ciclo, o ciclo de financiamento privado, de certa metodologia na organização da política e que é preciso modificá-lo. Para mudar esse ciclo é preciso estabelecer novas regras. 


Tribuna - A senhora acha justo que quem revela passagens tão escabrosas da política do país possa sair da história livre sem uma tornozeleira sequer?
Lídice -
Isso é um absurdo. Se há algo que hoje tem a repulsa e o repúdio da opinião pública brasileira é justamente esse acordo realizado. Onde os delatores, que no Brasil viraram quase sinônimos de heróis, possam ter o protagonismo que tiveram nessa situação toda e ainda saindo ganhando dinheiro com a crise que criaram. Isso é absolutamente inaceitável.

Tribuna - Como a senhora avalia os últimos acontecimentos da Operação Lava Jato, sobretudo em cima do presidente Lula? Arrefeceu nos últimos dias?
Lídice -
Não acho que tenha arrefecido. Acho que a outra operação da JBS tomou um protagonismo maior. Foram tão chocantes, tão impactantes as denúncias, que elas tomaram um impacto maior na imprensa e na opinião pública. Agora, o processo contra Lula continua. A Justiça agora afirmou que não conseguiu nenhuma prova de participação ilícita de Lula na Petrobras. Isso não foi divulgado como se deveria. Então nós estamos vivendo esse tipo de situação no Brasil também: algumas notícias dão mais Ibope e são promovidas por parte da imprensa e outras são ignoradas. Independente da defesa de qualquer pessoa, é importante você garantir o direito democrático de acesso à informação. Nós estamos vendo excessos claros. Quando você pega um jornalista como Reinaldo Azevedo [ex-blogueiro da revista “Veja”] e simplesmente divulga uma conversa privada que não tinha nada a ver com a investigação, divulga para expor e ameaçar as pessoas, isso é abuso de poder.

Tribuna - As delações da Odebrecht e da JBS colocam Executivo e Legislativo na berlinda?
Lídice -
Eu acho que coloca o sistema político brasileiro na berlinda. Obviamente o Executivo e Legislativo, todos. E até a sociedade brasileira, o Poder Judiciário brasileiro, todos. Porque era esse o sistema que conduzia o processo eleitoral no Brasil. O Supremo decidiu suspender o financiamento empresarial de campanha após uma vigência de quase 20 anos. Então, o processo não está bom. As regras não estão boas. Acho que o povo tem que retomar o seu destino, com eleições diretas já, e principalmente, com a decisão de exigir mudanças. Exigir a Reforma Política e a mudança nos instrumentos de eleição no Brasil.

Tribuna - Qual é a expectativa da senhora para o julgamento da chapa Dilma-Temer?
Lídice -
Falar sobre expectativa é muito difícil, porque cria chutes. Posso dizer que acho que pode ser cassado. Não sei nem como responder. Acho meio estranho. Não quero colocar o destino do Brasil em uma decisão como essa de cassação de chapa de eleição. Acho que a política e o Congresso Nacional têm que tomar para si as decisões. É no campo da política que temos que resolver a crise no Brasil. Nisso eu concordo com o presidente [do Supremo Tribunal Eleitoral] Gilmar Mendes: o TSE não foi feito para resolver crise, ele foi feito para analisar processos eleitorais, a legislação eleitoral. A crise é outra. Ninguém está falando na saída de Temer porque ele foi vice de Dilma numa chapa e que, portanto, não há responsabilidade direta no processo eleitoral. Isso não é verdade. Ninguém acha isso no Brasil e os fatos demonstram que não é isso.

Tribuna - O que difere na opinião da era de Collor e a era atual? A ganância só aumentou...
Lídice -
Tudo. Não há comparação. Aquele foi outro momento, exigia uma unanimidade da opinião pública sobre aquele episódio. Existiam registros sobre [a ligação do ex-presidente] a Elba [Collor foi acusado de comprar uma perua modelo Fiat Elba com cheque fantasma de PC Farias]. Foi uma prova de que algo já se encaminhava no Brasil de forma muito clara e com participação esquisita de forças políticas. Ele foi inocentado anos depois, mas naquele momento os fatos que se apresentavam ao povo brasileiro não deixavam dúvidas. Era um presidente que se elegeu sozinho, sem partido, sem um programa político e com a ajuda dos meios de comunicação. Não tinha uma estrutura que o defendesse. Impôs uma pauta neoliberal que chocou a economia. A situação de Dilma é outra, totalmente diferente, e a de Temer é mais diferente ainda. A presidente representava mais do que ela própria, representava uma experiência de projeto político iniciado por Lula, com forte apoio popular. Está provado, um ano depois do acontecido, que o presidente Lula bate mais de 45% [de popularidade].

Tribuna - A ganância aumentou ou socializou-se o crime no país?
Lídice -
Acho que a questão não está relacionada com isso. O que está errado é o sistema político. É a prática política em que as empresas financiavam o sistema eleitoral. E isso abre um campo imenso para que os mais diversos interesses se misturem com o interesse político. Então, não é um problema individual de alguém que é mais ganancioso do que o outro. Se nós fizermos uma avaliação por aí, então vamos tomar medidas para resolvê-la também diferente: basta tirar uma pessoa e pronto. Não é aí que se localiza o problema. Se localiza no fato de nós termos uma relação espúria no Brasil entre o poder político e os financiadores deste poder. 

Tribuna - A senhora acredita que há diferença entre doação de campanha para obter vantagens futuras e propina?
Lídice -
Primeiro, não entendo propina como algo que não seja troca de favores. Ou seja, alguém dá a alguém para obter algo. Isso é bastante diferente de doação de campanha, na minha opinião. Seja legal ou ilegal, porque ainda há uma diferença entre a doação legal e ilegal. Essa história de chamar toda e qualquer contribuição de propina é algo absolutamente inusitado na política brasileira e em qualquer lugar do mundo, diga-se de passagem. 

Tribuna - A senhora inclusive foi citada em delações da Odebrecht e a já se defendeu sobre isso. O que a senhora fala para a população?
Lídice -
Eu falo que há uma investigação em curso e eu tenho muita tranquilidade de provar que isso não aconteceu. Agora, o mais irresponsável disso tudo é você botar não apenas a mim, mas diversos outros políticos baianos e brasileiros que receberam diretamente e legalmente contribuições como se fosse propina. Ouvi também a manifestação da JBS quando o delator diz que deu não sei quanto de propina. Isso é um absurdo. É óbvio que há uma indução, infelizmente esse processo está se tornando uma coisa parcial, seletiva e destrutiva da política brasileira. 

Tribuna - É chegada a hora de mudar a forma de fazer política no país?
Lídice -
É chegada a hora de mudar a forma de fazer política e é chegada a hora de mudar as leis também. Se combater a real corrupção e separar o que não é corrupção de corrupção. Porque quando a gente mistura tudo, no fundo, estamos protegendo quem faz a corrupção. 

Tribuna - Trazendo um pouco o assunto para a Bahia, como a senhora avalia o governo Rui Costa? Ele vai chegar fortalecido na próxima eleição?
Lídice -
Não tenho dúvidas. Rui está muito bem. Não digo isso apenas pelas pesquisas. Ele está bem em Salvador e está bem no interior do estado. Chegará muito fortalecido no período eleitoral.  Estamos em uma grave crise econômica nos estados brasileiros e, apesar de todas essas dificuldades, de uma certa má vontade do governo federal para resolver os problemas que dizem respeito ao Nordeste. A Bahia se destaca neste cenário com uma administração séria que tomou as providências fiscais devidas para conter os gastos e garantir investimentos sustentáveis na educação e saúde. E manter um programa de infraestrutura, como é o caso da mobilidade urbana de Salvador, de maneira correta e que traz benefícios para a população do estado. É muito difícil você ouvir em Brasília notícias do Sul e Sudeste sobre investimentos e sobre o pagamento de salários. Na Bahia se paga os salários em dia, se diminui custos da máquina do estado e se mantém investimento. Isso é uma coisa absolutamente fora do comum nas circunstâncias em que os estados vivem.

Tribuna - A senhora terá espaço na chapa do governador Rui Costa para a reeleição?
Lídice -
Isso é uma luta política, uma definição política. É claro que lutarei até o fim para garantir o meu espaço. 

Tribuna - A senhora acredita que o prefeito ACM Neto terá fôlego para sustentar uma candidatura política e uma ameaça aos planos do atual governador?
Lídice -
Olha, se vai ter fôlego financeiro e político, isso eles que têm que avaliar. Agora, não tenho dúvidas de que o governador tem condições de enfrentar qualquer candidato. Se a eleição fosse hoje, Rui sairia plenamente vitorioso e em 2018 sairá melhor ainda.

Tribuna - Qual a mensagem que a senhora deixa para a população do estado?
Lídice -
Deixo a convicção de que estamos sendo bem governados, com seriedade, com compromisso em manter o investimento na Bahia, mantendo uma agenda de proteção com a educação, ao primeiro emprego e à saúde que se interioriza mesmo com todas essas dificuldades. E deixo a confiança de que votar em Rui é reafirmar uma agenda de compromisso com o desenvolvimento da Bahia.

Colaboraram: Henrique Brinco e Guilherme Reis