DESATIVADO / Entrevistas / Política

"Candidatura de Lula seria surreal", diz Álvaro Dias

Confira entrevista exclusiva à Tribuna

O senador Álvaro Dias (PV-PR) minimizou as declarações do ex-presidente Lula no depoimento ao juiz Sérgio Moro, e tachou de “surreal” uma eventual candidatura do petista em 2018. “Seria surreal uma candidatura do ex-presidente Lula em razão dos fatos já conhecidos. É evidente que há uma escassez de nomes, mas eu não creio que seja uma candidatura com possibilidade de vitória, como alguns imaginam, em razão de pesquisas que são lidas, mas não são interpretadas”, disse em entrevista exclusiva à Tribuna.

O verdista também avaliou que a reforma da Previdência deve ser aprovada, embora haja grande rejeição por parte da população. “Ele (Temer) confessa que o governo não teve competência necessária para convencer a população de que esta reforma é um benefício para os pobres. Mas de qualquer maneira, o governo tem muita força no Congresso e tem a possibilidade de aprovar”, prossegue o parlamentar. Álvaro Dias fala também sobre a Operação Lava Jato, e analisa o crescimento de candidatos e partidos desvinculados de “partidos tradicionais”, o que daria, por exemplo, força a uma possível candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) a presidente da República.

Tribuna da Bahia – Como o senhor avalia os últimos acontecimentos da Operação Lava Jato e o depoimento do ex-presidente Lula?
Álvaro Dias –
Eu creio que esse calvário ainda tenha um tempo de duração que proporcionará ao país algum sofrimento, mas que seguramente vai se constituir no marco de um novo rumo para a nação. Esses últimos acontecimentos estão desvendando os mistérios da corrupção no país, chegando ao epicentro de toda a organização criminosa, e certamente trará resultados importantes para o futuro do país.

Tribuna – Como o senhor vê a informação de aliados do PT de que há excessos na condução da Operação Lava Jato?
Dias –
Os excessos são inevitáveis em qualquer operação, especialmente quando se atinge lideranças políticas de expressão, personalidades de alta popularidade, de grande notoriedade política, grandes empresários. Então, há sempre a suposição de estar havendo alguns exageros. Eles são inevitáveis. Mas o que mais importa ao país é que se está fazendo uma limpeza necessária. Esse escândalo monumental de corrupção retirou do povo brasileiro bilhões de reais. Obviamente os prejuízos de natureza econômica e social são incalculáveis. Há que se apoiar as instituições que estão aprofundando as investigações para a necessária responsabilização civil e criminal. Se há algum excesso, é a exceção. A regra tem sido o comportamento de independência dessas instituições que estão recuperando credibilidade junto à sociedade.

Tribuna – A delação da Odebrecht e da OAS coloca Legislativo e Executivo na berlinda?
Dias – S
im. Entendi que as delações premiadas trazem verdades absolutas, meias verdades e algumas mentiras descaradas. É preciso que a autoridade judiciária distinga o que é real do que é ficção. 

 
Tribuna – As últimas delações colocam o presidente Temer e o ex-presidente Lula na mesma esteira. Ficará difícil para eles se defenderem?
Dias –
Sempre é difícil. Não vejo facilidade na defesa de quem quer que seja quando há o envolvimento. Em relação ao ex-presidente Lula, as citações são reiteradas. Vejo que ocorre agora com os marqueteiros, que mais uma vez trazem com muita força a presença do ex-presidente neste sofisticado esquema de corrupção. Em relação ao presidente Temer, há citações, mas elas são menos relevantes, embora toda delação tenha seu conteúdo de verdade. Como eu disse antes, pode ter verdades, mas também pode ter mentiras. Por isso que não se deve condenar sem o julgamento. Não se deve instituir um tribunal de exceção. Há que se permitir que as oportunidades de defesa se apresentem. Por isso que o processo é lento. A população gostaria de ver as coisas acontecendo rapidamente, mas sem dúvida há um envolvimento que tem que ser esclarecido. É o que se pretende. O Ministério Público está aí para isso, a Polícia Federal e a Justiça Federal. 

Tribuna – Pelo que o senhor viu no depoimento de Lula, teve algum momento em que a situação dele se complicou diante do juiz Sérgio Moro?
Dias -
Não dou muita importância ao que disse o ex-presidente, porque nós conhecemos o perfil dele, a sua história. Ele está habituado a tergiversar, a escamotear a verdade dos fatos. Então, é natural que isso ocorra também nesse depoimento, ele está acostumado a transferir responsabilidade. Ele é um expert no ato de transferir responsabilidade. Por isso eu sempre entendi que o depoimento é a oportunidade da legítima defesa, obviamente, mas o que prepondera mesmo são os indícios e as provas materiais. Certamente foram recolhidas para a sentença final do juiz. É isso que a meu ver vai preponderar.

Tribuna - O senhor acredita que as declarações do ex-ministro Antônio Palocci de ele que vai revelar nomes e detalhes dos esquemas envolvendo o PT têm combustível para queimar a Lava Jato ainda por mais um ano?
Dias -
É imprevisível a duração da Operação Lava Jato. As investigações em relação a delações, especialmente da Odebrecht, essas delações estão ainda por iniciar, sequer foram iniciadas. Há um volume de trabalho incrível. Eu não tenho uma avaliação de tempo. Eu imagino que teremos ainda muito tempo pela frente.

Tribuna - O PT sempre pregou a moralidade e a defesa dos mais pobres. O senhor acredita que o partido se perdeu em meio aos luxos e facilidades do poder?
Dias -
Eu acho que poder inebria, e obviamente a ambição pelo poder cega. Quando nós tivemos o advento do mensalão, o que se concluiu foi que se realizou um sofisticado e complexo esquema de corrupção em nome de um projeto de poder de longo prazo. E as facilidades advindas com a impunidade prevalecendo fez com que muitas pessoas se utilizassem desse cenário para o enriquecimento ilícito. Eu creio que aí há a soma do projeto de poder de longo prazo com o apetite incomensurável pelo enriquecimento ilícito das pessoas.

Tribuna - O governo Temer tem algumas medidas amargas para aprovar, entre elas as reformas da Previdência e trabalhista. O Planalto terá fogo para conseguir aprová-las?
Dias -
Eu creio que nesse campo o Planalto tem atuado com mais competência do que antes. As articulações do presidente Temer – e essas articulações políticas ocorrem com ele à frente – têm sido bem-sucedidas no Congresso. O governo consegue manter uma ampla base de apoio, o que favorece a aprovação de matérias polêmicas. Tem sido assim. A reforma da Previdência é mais delicada, porque atinge direitos adquiridos. Enquanto a reforma trabalhista é realizada por uma lei ordinária que não subtrai direitos constitucionais. A reforma da Previdência já proporciona a discussão sobre subtração de direitos adquiridos, o que a torna mais impopular. O próprio presidente Temer confessou que a frustração dele é não conseguir convencer a população de que a reforma da Previdência tem por objetivo beneficiar os pobres, e contraria o interesse dos privilegiados. Por isso os privilegiados são os que reagem contra a reforma da Previdência. Isso é uma afirmação dele. Então ele confessa que o governo não teve competência necessária para convencer a população de que esta reforma é um benefício para os pobres. Mas de qualquer maneira, o governo tem muita força no Congresso e tem a possibilidade de aprovar.

Tribuna - O governo confia no fisiologismo que continua pulsando dentro do Congresso?
Dias -
Sem dúvida. É o chamado balcão de negócios, o toma lá dá cá que tem prevalecido. É isso que particularmente eu condeno, é a manutenção desse sistema promíscuo de governança. Eu não acredito num futuro de desenvolvimento econômico acelerado enquanto nós mantivermos esse sistema de governança de promiscuidade.

Tribuna - Qual a expectativa do senhor para o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral?
Dias -
Há aí um enorme desejo de salvaguardar o mandato do presidente Temer, até em nome supostamente do interesse nacional, já que a sua cassação demandaria uma eleição indireta com consequências imprevisíveis. Esta realidade certamente trabalha a favor da preservação do mandato do presidente Temer. Em primeiro lugar, adota-se medidas protelatórias e ganha-se tempo. E ao final, certamente nós teremos um julgamento que não proporcionará esse trauma da substituição do atual presidente. 

Tribuna - Como o senhor avalia o governo até agora?
Dias -
Temos que reconhecer o esforço enorme por reformas, já que o Brasil é uma nação à espera de reformas. Esse esforço se nota. O que eu condeno é a manutenção do sistema. É um governo de continuação. Não é um governo de ruptura. Não houve ruptura com o sistema instalado, essa usina de escândalos. Portanto, esse aspecto tem que ser condenado. Há um esforço na área econômica que já proporciona alguns resultados positivos, principalmente em relação à queda da inflação, mas não houve ainda a alternativa criativa para uma melhor administração da dívida pública, o que eu considero o maior gargalo. Já que essa dívida é gigantesca, consome neste ano 52% da receita somente para pagamento de juros e encargos da dívida. Eu creio que o que está sufocando outros setores, asfixiando, por exemplo, a área social, notadamente os setores de saúde, educação e segurança. É a fragilização do poder público no que diz respeito a investimentos em setores essenciais. 

Tribuna - O prazo está apertado para fazer mudanças ou reforma política que tenham validade já para 2018. Qual é a reforma política ideal? O que vai ser possível valer de regra para a próxima eleição?
Dias - Eu imagino que para a próxima eleição o ideal seria trabalhar apenas para completar a tramitação das propostas que instituem cláusula de desempenho, porque diz respeito à criação de partidos verdadeiros. Não creio que o atual Congresso tenha autoridade política desejada para uma reforma de profundidade, que ofereça ao país um novo modelo político, compatível com as exigências nacionais. Por isso eu imagino que nós temos que dar tempo agora para o processo eleitoral. As mudanças devem ser superficiais, se ocorrerem, para que um novo Congresso eleito em 2018 possa depois trabalhar uma reforma mais competente. Deve-se começar exatamente pela concretização ou pela valorização, eu diria pela construção de partidos verdadeiros, porque hoje temos siglas para registro de candidaturas. 

Tribuna - Qual o cenário que o senhor vislumbra para a eleição do próximo ano? O senhor será candidato?
Dias -
Eu creio que os partidos tradicionais serão condenados, serão rejeitados nessa próxima eleição. Evidentemente em função do envolvimento na Operação Lava Jato. São partidos hoje vistos com desdém pela população. Se antes a população condenava mais candidatos, certamente nesta eleição ela estará condenando também os partidos políticos tradicionais. Há um espaço para o surgimento de novas propostas, para a construção de um novo modelo partidário. Esse espaço está visivelmente aberto. 

Tribuna - O PT vai ter fôlego para lançar Lula em 2018 ou serão obrigados a pensar um nome alternativo como Ciro Gomes? 
Dias -
Seria surreal uma candidatura do ex-presidente Lula em razão dos fatos já conhecidos. É evidente que há uma escassez de nomes, mas eu não creio que seja uma candidatura com possibilidade de vitória, como alguns imaginam, em razão de pesquisas que são lidas, mas não são interpretadas. Porque na verdade, qualquer pesquisa hoje está muito distante do momento eleitoral, e elas devem ser interpretadas, sobretudo sob a ótica da rejeição dos candidatos, e não da intenção de voto. Porque hoje não há na verdade para a população candidaturas escolhidas. 


Tribuna - O senhor acredita que tem espaço e há risco de a gente ter candidaturas de pessoas como Bolsonaro ou outros políticos com posturas mais radicais? Ou país está amadurecido o suficiente para tentar escolher melhor na próxima eleição?
Dias -
Eu creio que sim, que há espaço para essas candidaturas radicais em razão da esquizofrenia política que se vive hoje no Brasil, especialmente quando se estabelece esse confronto entre esquerda e direita, que é um confronto pouco inteligente. Mas há um espaço também ao centro que favorecerá candidaturas mais responsáveis e propositivas, e que incorporem esse sentimento. Tem que fazer uma leitura correta, que há um país em movimento à espera de reformas, e que exige uma mudança de comportamento como prioridade. Desejam mudança na cultura política, do comportamento político como prioridade. 

Tribuna - Saiu recentemente uma pesquisa feita pelo PT em São Paulo que levou a Fundação Perseu Abramo a procurar a Teotônio Vilela, que é a fundação do PSDB, e a fazer uma análise coletiva sobre o que a população estava colocando como prioridade para a política e a rejeição dos políticos atuais. Qual a visão do senhor sobre isso, sobretudo a esse repúdio do cidadão à política em nível nacional?
Dias -
Essa leitura se faz também na Europa. Na Europa surgiram recentemente partidos que defendem causas, que não possuem vínculo fisiológico, nem de esquerda nem de direita. Um exemplo é a eleição da França. O presidente eleito, Macron, era do Partido Socialista. Poderia ter sido candidato pelo partido socialista, mas percebeu que a população não ouviria aquele discurso. Por isso ele criou um partido exatamente caminhando pelo centro, na direção do futuro, e teve sucesso. Surgiu o Podemos na Espanha, surgiu o Cinco Estrelas na Itália... São partidos que fogem do modelo atual, que fogem da mesmice dos partidos tradicionais. São os chamados partidos de movimento. Esse espaço existe no Brasil. Se na França, um país mais evoluído politicamente do que o nosso, ocorre essa rejeição a partidos tradicionais, imagine no Brasil, onde esses escândalos estão fulminando os partidos tradicionais. Há um espaço enorme para essa característica de partido de movimento.

Tribuna - Que mensagem o senhor deixa para os baianos e para os partidos da Bahia?
Dias -
Estamos vivendo um momento de revolta, de indignação e de descrença generalizada. Mas não podemos jogar a toalha. Temos que acreditar. Se há essa indignação e essa revolta latentes, há também um movimento de mudança concreto, que nos permite reabilitar nossas esperanças. Esse movimento de mudanças já chegou a instituições como Polícia Federal, Ministério Público, e a Justiça, e deve chegar à política, porque se os políticos não mudarem, serão atropelados pela sociedade. A mensagem é acreditar, porque há um movimento de mudança no país. 

Colaboração: Guilherme Reis e Romulo Faro