Candidato a governador da Bahia em 2014, Rogério Tadeu da Luz (PRTB) está novamente no páreo, desta vez rumo à prefeitura de Salvador. Nesta entrevista, o trabalhista expõe uma visão crítica sobre a cidade, cujos maiores problemas estariam nas áreas de saúde e educação - sobretudo no quesito creches e pré-escola.
“Se não cuidarmos das nossas crianças, futuramente elas podem estar pegando em um revólver, aí já vai ser tarde demais”, pondera, elegendo o problema como uma das causas para o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Salvador. Da Luz também comenta as dificuldades enfrentadas pelo partido para manter uma campanha, sobretudo após as mudanças ocorridas na legislação que passaram a vigorar em 2016.
“Fizeram uma reforma eleitoral a toque de caixa privilegiando os partidos maiores, os que estavam envolvidos com empreiteiras, Petrolão, Mensalão. E você vê que quem fazia caixa 2 e fazia o financiamento que não era o correto foi beneficiado com mais tempo”, dispara. Confira entrevista:
Tribuna da Bahia - O senhor disputa eleição a cada dois anos. O que o leva a insistir tanto, quando poderia sair candidato a vereador, por exemplo, com uma provável eleição?
Rogério Tadeu da Luz - Quero dizer uma coisa: nasci no dia 12 de fevereiro, no mesmo dia de Abraham Lincoln, que perdeu onze eleições mas virou presidente dos Estados Unidos. Então, a questão não é perder ou ganhar, porque a cada eleição ganhamos mais experiência e o carisma com o povo. E tem a questão de estrutura, porque não pegamos dinheiro de empreiteira, de Petrolão, Mensalão, então fica difícil competir com candidatos que têm coragem de fazer boca de urna, que é crime. Competimos várias vezes com esse tipo de pessoa que deveria ser banida da vida pública.
Tribuna -Salvador evoluiu ou involuiu nesses últimos quatro anos?
Da Luz - No meu quesito, que é o que o povo mais precisa, 100% de creche para todas as crianças, não avançou, porque ainda temos mais de cem mil crianças fora das creches. E se não cuidarmos das crianças, não adianta cuidar de praça, porque a vida das crianças e das famílias é mais importante que qualquer coisa. Em relação à questão educacional e da saúde, reformando algumas UPAs e PSFs, somos obrigados a ter médicos, equipamentos, exames, um PSF ou UPA abertos 24 horas, porque a doença não escolhe hora para acontecer. E se não estiver aberto, o paciente precisa se deslocar para um hospital, às vezes a uma distância longa, e acaba por sobrecarregar o fluxo de pessoas doentes nos hospitais. Então, é importante, para saber se uma administração é boa ou não, analisar o Índice de Desenvolvimento Humano de uma cidade, e entre as capitais, Salvador tem um dos menores. No que diz respeito ao ser humano, Salvador não avançou nada.
Tribuna - Quem fez mais nesse período pela cidade: o governo do Estado ou a prefeitura?
Da Luz - No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano, não se vê nem um nem outro se destacando, fazendo um trabalho intensivo. Quando falo em cuidar dessa área, é cuidar realmente, colocar como prioridade número zero e só pensar naquilo 24 horas por dia. Saúde e educação, saúde e educação, saúde e educação. Porque se não tiver comprometimento, a população vai poder ter empregos melhores, se não tem educação, qualificação. Como a população vai crescer e se desenvolver se não tem uma alimentação adequada, uma saúde adequada? Uma coisa acaba prejudicando a outra. Então, não se colocaram ainda, inclusive a nível de Brasil, a prioridade número zero para a educação para que ela esteja à frente de tudo. Mas temos cidade aí pelo Brasil afora que estão entre as 10, 20 a nível de IDH. Salvador estava depois de 400. E das capitais um dos piores. Pernambuco conseguiu melhorar nesse quesito, diminuiu a criminalidade, e a Bahia não avançou, muito menos Salvador.
Tribuna - Alguma proposta apresentada pelo senhor já foi aproveitada por seus adversários?
Da Luz - Em 2002, por exemplo, fiz um projeto para que as escolas particulares disponibilizassem 30% de suas vagas para pessoas que não tivessem condições de pagar. Porque a escola particular é uma entidade sem fins lucrativos, e por isso seria obrigada a disponibilizar essas vagas, sem ser 10% dados de forma aleatória, às vezes para o filho de um político ou de um empresário. Faziam um lobby com essas vagas. Então, batemos que deveriam ter 30% dessas vagas, e lá na frente fizeram o Prouni, mas a minha ideia não servia apenas para faculdades e universidades, mas para todos os níveis. Os melhores alunos do Ensino Fundamental poderiam fazer o Ensino Médio em uma escola particular, os do Ensino Fundamental I poderiam fazer o Ensino Fundamental II em uma escola particular. Uma coisa que o presidente nacional vem defendendo, o aerotrem, o monotrilho, em São Paulo hoje não se constrói mais metrô, só monotrilho. O metrô, por ter um sistema muito caro, demanda muito recurso e tempo, já foi abandonado como modal preferencial em São Paulo. Antes, falavam que isso era loucura, mas acabou acontecendo. Eu desenvolvi um projeto também que era um táxi para cadeirantes, cheguei até a aprovar no governo de João Henrique, não sei por que até hoje não entrou em funcionamento, embora tenham sido liberados 50 alvarás na época.
Tribuna - Se o senhor for eleito, o que colocará como prioridade para a cidade?
Da Luz – Prioridade número um: creche para todas as crianças, 100%. Creche 99% para mim não serve. Se não cuidarmos das nossas crianças, futuramente elas podem estar pegando em um revólver, aí já vai ser tarde demais. Temos que cuidar das crianças, dar oportunidade para as mães e os pais trabalharem com tranquilidade, sem deixar os seus filhos vulneráveis, com uma criança pouco maior ou com algum parente. Hoje a gente vê que um parente pode estar abusando de criança, sempre vemos no noticiário. Então, é importante que quando a mãe e o pai vão trabalhar, eles possam deixar os seus filhos em um local seguro. Segunda prioridade: pré-escolas e escolas em tempo integral, pelo mesmo motivo, que é ocupar a mente dessas crianças para que elas desenvolvam o seu potencial. É para fazer em parceria com as escolas particulares, a exemplo do Salesiano Dom Bosco, que é uma escola excelente, de tarde não tem turno e fica toda aquela estrutura lá sem ocupação. Poderia fazer uma parceria para que as crianças ali em volta do colégio aproveitem as quadras, laboratórios.
Tribuna - O senhor já apareceu com um paletó todo iluminado. Qual a surpresa que o senhor reserva para essas eleições?
Da Luz - Essas eleições estão complicadas no quesito tempo. São apenas nove segundos no horário eleitoral e inserções de 30 segundos espalhadas durante a programação normal das televisões e rádios. Isso já dificulta passar qualquer tipo de informação, aliás, é impossível. Por que está acontecendo isso hoje? Fizeram uma reforma eleitoral a toque de caixa privilegiando os partidos maiores, os que estavam envolvidos com empreiteiras, Petrolão, Mensalão. E você vê que quem fazia caixa 2 e fazia o financiamento que não era o correto foi beneficiado com mais tempo. Já aqueles partidos que não se envolviam com nada, foram prejudicados. Ou seja, fizeram uma reforma que foi a raposa fazendo a reforma do galinheiro. No final das contas, é o próprio povo que sofre com as mudanças porque privilegiam aqueles que deveriam ser banidos da vida pública.