A Petrobras pretende aumentar a porcentagem de etanol de 25% para 27,5% na gasolina. Caso você tenha um carro movido apenas à gasolina, atenção. Se o plano for aprovado, além da questão do aumento do consumo, você poderá ter problemas com o motor.
De acordo com Henrique Pereira, membro da Comissão Técnica de Motores Ciclo Otto da SAE BRASIL, no caso dos motores que funcionam apenas a gasolina, principalmente os importados de marcas recém-chegadas ao Brasil, existe o risco de surgirem falhas na partida a frio, nas sedes de válvulas, além dos itens ligados à vedação, como os retentores.
“Certa vez, quando trabalhava em uma montadora, tivemos problemas com um diafragma da válvula reguladora da pressão de combustível por causa do excesso de etanol na gasolina”, conta Pereira.
O aumento, embora pareça pouco, pode fazer diferença nos testes de validação feitos pelas fabricantes. Sobre isso, Pereira lembra que os números de consumo divulgados pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV) do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia) são conseguidos a partir do uso da gasolina E22, ou seja, com 22% de etanol anidro.
Com o aumento de 25% para 27,5% de etanol, os números divulgados ficarão ainda mais distantes do que os carros conseguirão consumir no dia a dia. O engenheiro é enfático e afirma que apenas com esse acréscimo de dois pontos percentuais e meio, o consumo aumentará 1%. Parece pouco, mas em um ano estamos falando de até 150 quilômetros rodados a menos.
Outro ponto que merece referência diz respeito ao aumento de aldeídos, álcool não queimado e de óxidos de nitrogênio na atmosfera, que são prejudiciais à saúde. A UNICA (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) se defende ao apresentar estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP), que mostra queda significativa do número de internações e óbitos decorrentes de doenças respiratórias e cardiovasculares desde a proliferação dos modelos Flex. Vale lembrar que os motores Flex não deverão ter nenhum problema com a dose extra de etanol na gasolina.
Os motivos
Segundo especialistas do setor, o aumento da porcentagem do etanol na gasolina está ligada a duas questões principais: 1) Preço. Para segurar a inflação o governo prorroga o aumento da gasolina. Porém, mesmo com mais etanol, a gasolina deverá ficar mais cara.
E tal medida pode acabar levando ao aumento do próprio etanol. 2) O setor sucroenergético passa por uma das maiores crises de sua história. Para a UNICA, a medida da Petrobras, portanto, beneficiaria a categoria com um aumento da demanda interna de etanol anidro superior a 1 bilhão de litros.
“A aprovação do aumento da mistura reduziria a necessidade de importação de nafta e de gasolina pela Petrobras, vendida no mercado doméstico abaixo do preço internacional. Desde 2011 a companhia importou mais de 10 bilhões de litros de gasolina gerando um déficit à balança comercial do País”, afirma a entidade.