Quem passa todos os dias pela Rua Cônego Pereira, seja no sentido Baixa dos Sapateiros, ou para quem vai para a Rótula do Abacaxi, conhece o intenso comércio que faz parte daquela região. Mas nenhum outro lugar chama mais a atenção das pessoas naquele local como o Mercado das Sete Portas, praticamente um ponto de referência e de encontro para os moradores do centro da cidade onde se acha de tudo – ou quase.
Construído em 1940 pelo empresário Manoel Pinto de Aguiar, uma das mais tradicionais feiras da capital baiana ganhou este nome por conta das suas sete portas que dão acesso ao estabelecimento. Em seus pequenos corredores, várias pessoas passam todos os dias em busca de produtos dos mais variados, como frutas e hortaliças, materiais para construção, materiais para candomblé e acessórios para fogões.
Sem contar os serviços oferecidos como os de cabeleireiro e os vários restaurantes que servem comidas conhecidas do grande público como feijoada, mocotó e rabada. Em um deles, o Restaurante de Márcia, são esses pratos que normalmente atraem visitantes ilustres como o ex-vocalista da Timbalada, Ninha. Márcia – o nome real dela é Genivalda, mas ela diz não gostar muito – está na feira há mais de 30 anos e já trabalho como ajudante e ao lado do próprio tio.
Com ela, dão conta do restaurante outras duas funcionárias. Márcia acredita que é a clientela que faz com os pratos dela tenham a fama alardeada. “Eles são maravilhosos e vem de todos os lugares, desde Brotas até Itapuã. Para mim, a feira é a minha é a minha casa, não tenho nada a reclamar. Foi aqui que construí a minha família. Acho que, apenas, deveria ter pequena reforma que melhoraria o aspecto do local”, contou.
E, de fato, para muitos comerciantes, o Mercado das Sete Portas é uma espécie de segunda casa, sobretudo para aqueles que vieram de cidades do interior baiano como Valença, caso do comerciante Domingos de Jesus Santos, mais conhecido como “Dominguinhos”, que está na feira, contando idas e vindas, desde 1987. “Antes já havia trabalhado com outras coisas, mas aqui na feira quem me trouxe foi um colega e, a partir daí, trabalhei como empregado”, disse ele que, há 12 anos, é dono de uma banca que vende hortaliças.
Segundo ele, que tira em média R$ 2 mil por mês, é do Mercado que ele tira o sustento da família. Ele ressalta a qualidade dos produtos que vende em seu box e o fato de todos ali se conhecerem. “Se viesse um convite para sair daqui, eu diria que não”, falou. Dentre os principais clientes de Dominguinhos estão moradores de bairros próximos dali como Barbalho, Macaúbas e Baixa de Quintas. “O que facilita pra gente, mesmo com a crise, é o fato de o mercado ser bem centralizado e as pessoas darem uma passadinha aqui para comprar”, salientou.
Também oriundo do interior, mas da cidade de Irará, o cabeleireiro, Elson Pereira, bate o ponto no salão quase todos os dias, de segunda à sábado, das 7h às 19h. Torcedor do Vitória e do Palmeiras, ele diz que o local, quando está cheio, vira um verdadeiro ponto de resenha sobre futebol. “Todos aqui são amigos. Graças ao trabalho consegui casar e criar minha família”, contou.
Variedade e produtos mais baratos atraem uma clientela fiel à feira
Em outro ponto do mercado, funciona o restaurante Enkantu’s do Mokotó, que existe há mais de 30 anos, mas a 11 é comandado por Marcus Teles e sua mãe. Ele tomou a frente após a morte do pai. Atualmente, o espaço funciona em dois boxes, um na frente do outro. Por lá, o clima é de descontração entre patrão e funcionárias. “O povo é apaixonado pelo ensopado dessa mulher”, disse ele, referindo-se a cozinheira, Nailza de Jesus, que trabalha há mais de 15 anos no estabelecimento.
“Acho que é o nosso carisma e essa equipe é o que faz com a gente seja tão requisitado, apesar de que, de vez em quando, a gente tenha ‘uns arranca-rabos’”, disse Nailza, aos risos para, em seguida, relatar que “estava desempregada em casa e o pai dele foi me buscar para trabalhar aqui”. “Ela é herança nossa”, completou Teles, dizendo que pretende, ainda, cursar faculdade de gastronomia.
Já para aqueles que são adeptos do candomblé, opções também não faltam. Desde novo trabalhando na Barraca Tupynambá, Odilon dos Santos conta que o clima do Mercado das Sete Portas é mais tranqüilo, diferente de outras como a Feira de São Joaquim.
Tínhamos uma barraca na Barroquinha e logo depois viemos para cá. Eu praticamente fui criado aqui dentro e a feira representa tudo para mim. É uma vida aqui dentro”, disse.
Preços
Mesmo com o aumento dos preços de alguns produtos por conta da crise, muitos ainda são os consumidores que buscam a feira das Sete Portas como forma de realizar aquela economia nas compras do fim do mês. Frequentadora há mais de 10 anos, a aposentada, Regina Oliveira, aponta outros motivos que a fazem ir até o local, mesmo morando no bairro de Pernambués.
“O atendimento, a qualidade dos produtos, o preço, além da facilidade de vir de ônibus”, contou. Segundo ela, a diferença de preços de itens como pimentão, limão e tomate, na feira, chega a ser de até 50% em comparação aos grandes supermercados. “Mas, tem que garimpar para fazer a melhor escolha”, acrescentou.
Moradora do Costa Azul, mas com parentes morando na Vila Laura, na região de Brotas, a também aposentada, Maria Guimarães, frequenta o local há um pouco mais de tempo: 30 anos. Além do preço, ela diz que outros fatores fazem com que ela compareça, normalmente, as terças-feiras. “Muita coisa a gente não acha no mercado, como jenipapo, acerola e cajá. Por aqui, você tem mais opções, além de ser acessível”, contou.